Ela vai amar você porque eu amo você. É assim que funciona com melhores amigas”.
Emily percebeu, depois de falar, que havia dito a palavra que começa com “A”. Havia dito a Daniel que o amava. Havia escapulido, mas não se sentia estranha ou ansiosa sobre isso, de jeito nenhum. Na verdade, dizer isso parecia a coisa mais natural do mundo. Mas notou que Daniel não disse nada de volta e ela se perguntou se havia cruzado aquela linha cedo demais.
Os dois ficaram assim por um momento, abraçados em silêncio na loja de antiguidades às escuras, enquanto Emily refletia sobre o significado do silêncio de Daniel.
*
O céu estava escurecendo enquanto descarregavam as pesadas camas com dossel da caminhonete de Daniel e as levavam para cima, até os quartos. Passaram as próximas horas montando-as e organizando os cômodos, sem nenhum comentário sobre o que havia sido dito na loja de Rico.
Enquanto anoitecia, Emily começou a sentir que a casa estava se tornando mais parecida com uma pousada de verdade, como se ela tivesse se comprometido mais com a ideia. De várias maneiras, havia chegado num ponto sem volta. Não só com a pousada, mas em relação a seus sentimentos por Daniel. Ela o amava. Amava a pousada. E não tinha dúvidas sobre ambos.
“Acho que deveríamos dormir na minha casa”, Daniel anunciou, quando o relógio indicou meia-noite.
“Claro”, Emily disse, um pouco surpresa. Nunca havia passado a noite na casa de Daniel e se perguntou se era alguma tentativa dele de demonstrar seu compromisso com ela, por não ter conseguido dizer aquelas três palavrinhas mais cedo.
Eles trancaram a pousada e atravessaram o gramado em direção a onde a pequena casa de Daniel ficava, às escuras. Ele abriu a porta e fez sinal para Emily entrar.
Ela sempre se sentiu tão mais nova sempre que ia à casa de Daniel. Algo em sua vasta coleção de discos e livros a intimidava. Escaneou as prateleiras, olhando para todos os volumes acadêmicos que ele tinha. Psicologia. Fotografia. Havia livros sobre tantos assuntos diferentes. E, para surpresa de Emily, esses textos acadêmicos intimidantes pareciam o recheio de um sanduíche, cujos “pães” eram livros sobre detetives e crime.
“Fala sério!” ela exclamou. “Você lê Agatha Christie?”
Daniel apenas deu de ombros. “Não há nada de errado em ler um livro de Agatha de vez em quando. Ela é uma grande contadora de histórias”.
“Mas os livros dela não são para mulheres de meia idade?”
“Por que não lê um e me diz?” ele rebateu, atrevido.
Emily o golpeou com um travesseiro. “Como ousa. Trinta e cinco não é meia-idade!”
Eles riram enquanto brincavam de luta sobre o sofá. Ele fez cosquinhas nela sem dó, fazendo-a gritar e socar as costas dele com os punhos fechados. Então, ambos caíram, exaustos pela luta de brincadeira, num emaranhando de pernas e braços. As risadas de Emily foram diminuindo. Ela arfou, tentando recuperar o fôlego, seus braços em volta de Daniel, passando os dedos pelo seu cabelo. Seu ar de brincadeira esmaeceu, tornando-se mais sério.
Daniel recuou um pouco, para poder ver o rosto dela. “Você é linda, sabia?”, ele disse. “Não sei se lhe digo isso o bastante”.
Emily notou as entrelinhas do que ele estava dizendo. Referia-se àquele momento na loja, quando não lhe disse que a amava também. Estava tentando consertar as coisas agora, elogiando-a. Não era exatamente a mesma coisa, mas ela ficou feliz em ouvir, de todo modo.
“Obrigada”, murmurou. “Você também não é de se jogar fora”.
Daniel sorriu, com o sorriso torto que Emily amava tanto.
“Estou feliz por tê-la conhecido”, ele continuou. “Minha vida agora, comparada ao que era antes de você, é quase incompreensível. Você virou tudo de cabeça para baixo”.
“De um jeito bom, espero”, Emily disse.
“Da melhor maneira”, Daniel garantiu.
Emily sentiu o rosto ficar rosado. Apesar de gostar de ouvir Daniel dizer essas palavras, ainda estava tímida, ainda um pouco insegura sobre em que pé eles estavam, e sem saber ao certo o quanto podia se aproximar, considerando toda a instabilidade em relação à pousada.
Daniel parecia estar lutando para dizer as próximas palavras. Emily o observava impaciente, com um olhar encorajador.
“Se você fosse embora, não sei o que eu faria”, Daniel disse. “Na verdade, sei. Dirigiria até Nova York para estar com você novamente”. Ele pegou a mão dela. “O que estou dizendo é, fique comigo. Certo? Seja lá onde for, que seja comigo”.
As palavras de Daniel tocaram Emily profundamente. Havia tanta sinceridade nelas, tanta ternura. Não era amor que ele estava comunicando, mas outra coisa, algo parecido ou ao menos tão importante quanto. Era um desejo de estar com ela, não importa o que acontecesse com a pousada. Ele estava abolindo o cronômetro, dizendo que não se importava se ela não tivesse sucesso até o Quatro de Julho, que ele ainda estaria lá para ela.
“Farei isso”, Emily disse, levantando os olhos para ele, em adoração. “Podemos permanecer juntos. Haja o que houver”.
Daniel beijou Emily profundamente. Ela sentiu seu corpo se aquecer em resposta a ele, e o calor entre os dois aumentou. Então, Daniel se levantou e estendeu-lhe a mão. Ela mordeu o lábio e pegou a mão dele, seguindo-o com ardente expectativa enquanto a levava até o quarto.
CAPÍTULO SETE
A noite passada foi exatamente o que tanto Emily quanto Daniel precisavam. Às vezes, ambos ficavam tão exaustos com todo o trabalho duro na pousada que era fácil deixar coisas assim escaparem. Então, não foi surpresa quando continuaram dormindo depois que o despertador tocou, alertando que já eram oito horas da manhã. Emily, em particular, tinha muito sono acumulado.
Quando os dois finalmente acordaram – num horário que agora parecia absurdamente tarde: 9 horas – decidiram que seria melhor aproveitar um pouco mais de tempo na cama, já que havia sido tão bom sob os lençóis na noite anterior.
Finalmente, acordaram por volta das dez, mas ainda então, degustaram um longo e preguiçoso café da manhã antes de finalmente admitir que tinham que retornar para a casa principal e continuar o trabalho nos quartos novos.
“Ei, olhe”, Daniel disse, enquanto fechava a porta da casa atrás deles. “Tem um carro na entrada”.
“Outro hóspede?” Emily perguntou.
Começaram a caminhar juntos, de mãos dadas, pelo caminho de cascalho. Emily olhou para a casa, onde podia ver uma mulher com cabelos negros brilhantes de pé no terraço, com várias malas ao seu lado, tocando a campainha.
“Acho que você tem razão”, Daniel disse.
Emily engoliu em seco, subitamente percebendo quem estava ali parada.
“Ah, não, me esqueci de Jayne!” ela gritou. Conferiu o relógio. Onze horas. Jayne havia dito que chegaria às dez. Ela esperava que sua pobre amiga não tivesse passado uma hora inteira ali tocando a campainha.
“Jayne!” ela chamou, correndo pelo caminho de cascalho. “Sinto tanto! Estou aqui!”
Jayne virou-se ao ouvir seu nome. “Em!” gritou, acenando. Quando notou Daniel se aproximando, apenas alguns passos atrás, suas sobrancelhas se levantaram, como para dizer, “Quem é este cara?”
Emily chegou até ela e as duas se abraçaram.
“Você está aí de pé há uma hora?” perguntou, preocupada.
“Ah, para com isso, Emily. Você não me conhece? É claro que não cheguei aqui na hora. Cheguei uns 45 minutos atrasada!”
“Ainda assim”, Emily