Sophie Love

Quem Dera, Para Sempre


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que acharem a árvore que gostarem”, Grace continuou, “corte-a e leve para a área de carregamento. Meu pai levará vocês e a árvore na traseira da carroça até a enfardadeira, embalará tudo e então vocês podem me pagar. Também vendemos chocolate quente e pinhão tostado, se quiserem algo para mantê-los aquecidos enquanto caminham”.

      Emily comprou para cada um um chocolate quente num copo de isopor e um saco de pinhão para dividir, e depois se dirigiram aos campos. Chantelle foi correndo na frente, mais animada do que nunca.

      O maravilhoso cheiro dos pinheiros despertou o sentimento natalino em Emily. Estava animada com a perspectiva de seu primeiro Natal com Daniel e Chantelle, com sua família ao lado da lareira. Seria o primeiro de muitos.

      Ela e Daniel caminhavam de mãos dadas, em silêncio, atrás de Chantelle. Então, Emily se inclinou para ele.

      “Quantos anos você acha que Grace tem?” ela perguntou.

      “Onze, doze”, Daniel estimou. “Por quê?”

      “Por nada”, Emily replicou. “É que ela me lembra Chantelle. Me fez pensar em como ela será quando ficar mais velha”.

      Mais à frente, Chantelle corria pelos caminhos entre as árvores, parando para avaliar a altura, a densidade de seus galhos, e a intensidade da cor das folhas antes de passar para a próxima. Emily podia imaginá-la facilmente como uma criança mais velha, prancheta na mão, trabalhando em seu primeiro emprego para ganhar alguns trocados.

      Mas enquanto pensava no futuro, Emily sentiu sua mente ser levada ao passado. Chantelle, que parecia tanto com Charlotte, também a lembrava da irmã, que nunca pôde crescer, que nunca pôde ter um emprego durante as férias de inverno. Ela havia passado por esta mesma fazenda há todos aqueles anos, cheia de promessas e potencial, e então, sem aviso, havia perdido a vida num piscar de olhos.

      Emily olhou para Chantelle mais à frente e, ao fazer isso, a menina se metamorfoseou em Charlotte. Emily se sentiu encolher, até voltar a seu corpo de criança. Suas mãos estavam enluvadas. A neve começou a cair ao redor, grudando nos galhos dos pinheiros. Emily se aproximou com sua pequena mão enluvada e balançou um dos galhos. Uma nuvem de neve preencheu o ar, e o pó branco e fino se dispersou. Mais à frente, Charlotte estava rindo, tranquila e feliz, sua respiração quente fazendo espirais no ar condensado. Ela também estava usando luvas, e suas botas vermelhas favoritas se destacavam fortemente contra o fundo branco.

      Emily observou Charlotte parar ao lado da árvore mais alta de toda a fazenda e olhar para cima, maravilhada.

      “Quero esta!” a menininha gritou.

      Emily correu em sua direção, chutando a neve na pressa. Quando chegou ao lado de Chantelle, também ficou admirando a árvore enorme. Era impressionante, tão alta que quase não dava para ver o topo.

      O barulho de passos na neve fez Emily tirar os olhos da árvore e virar para olhar sobre o ombro. Era seu pai, que se aproximava marchando em passos largos.

      “Meninas, precisam ir mais devagar”, ele arfou enquanto se aproximava delas. “Quase as perdi de vista”.

      “Achamos a árvore!” Emily gritou, animada.

      Charlotte também pulava e apontava para cima.

      “Esta é um pouco grande”, Roy disse.

      Ele parecia cansado hoje. Deprimido. Havia olheiras sob seus olhos.

      “Não é muito grande”, Emily disse. “O teto é muito alto”.

      Charlotte, como sempre, acompanhou a irmã. “Não é grande demais! Por favor, podemos levar esta, papai?”

      Roy Mitchell passou a mão pelo rosto, exasperado. “Não teste minha paciência, Charlotte”, ele disparou. “Escolha uma menor”.

      Emily viu Charlotte se encolher. Nenhuma das duas gostava de irritar seu pai, e nem podiam entender como tinham feito isso. Parecia que coisas mínimas o irritavam naqueles dias. Ele estava sempre distraído por algo ou sempre olhando sobre o ombro, para sombras que só ele podia ver.

      Mas a principal preocupação de Emily era com Charlotte. Sempre Charlotte. A menina estava quase chorando. Emily pegou sua mãozinha enluvada.

      “Por aqui”, gritou animadamente. “Tem árvores menores ali!”

      Charlotte se animou, confortada por sua irmã mais velha. Elas correram juntas pela neve, deixando seu pai de cenho franzido e olhar distante, para correr atrás delas.

      Nesse momento, Emily voltou ao presente. A neve do passado não estava mais caindo, as árvores de Natal de décadas atrás caíram e foram substituídas por estas árvores novas, jovens. Estava de volta ao momento presente, mas levou um momento para se reorientar e saber onde estava, para ver Chantelle de pé diante dela, ao invés de Charlotte.

      Enquanto Emily estava absorta em suas lembranças, eles haviam caminhado vários metros campo adentro. Ali, as árvores eram tão altas que lançavam sombras sobre tudo, bloqueando a luz do sol. Emily estremeceu, sentindo-se com mais frio agora que o sol invernal se escondera.

      Mais à frente, Chantelle admirava a árvore mais alta da fazenda inteira. Tinha pelo menos 4,5 metros de altura.

      “É esta!” ela gritou, rindo de orelha a orelha.

      Emily sorriu. Ela não agiria como seu pai, estragando a alegria de uma criança. Se Chantelle queria a árvore mais alta da fazenda, ela a teria.

      Caminhou até a menina e inclinou a cabeça para ver o topo. Assim como quando era criança, a árvore parecia majestosa para ela.

      “É esta”, Emily concordou.

      Chantelle bateu palmas de alegria. Daniel parecia desaprovar um pouco a escolha trabalhosa, Emily pensou, mas não se opôs. Ele se inclinou e ajudou Chantelle a fazer o primeiro corte com o machado. Emily os observou, pai e filha sorrindo e rindo juntos, e sentiu uma onda quente de alegria se espalhar pelo seu corpo.

      Daniel passou o machado para Emily, para que também pudesse cortar a árvore, e então eles se revezaram, cooperando. Quando a árvore caiu, todos comemoraram.

      O pai de Grace chegou com a carroça.

      “Uau, você escolheu uma gigante”, ele brincou com Chantelle enquanto ajudava a levantar a árvore enorme.

      “Foi a maior que pude encontrar!” a menina disse, sorrindo.

      A família subiu na parte de trás do veículo e se apertou. As rodas giraram e eles começaram a lenta viagem de volta à entrada da fazenda.

      “Eu a perdi por um momento lá atrás”, Daniel disse a Emily. “Teve outra lembrança?”

      Ela assentiu. As memórias lhe deixavam perturbada. Ver a expressão abatida de Charlotte, ouvindo a rispidez da voz do seu pai. Era um homem com problemas. Ela se perguntava se tinha algo a ver com Antonia, a mulher com quem tinha um caso, ou com sua mãe, que estava em casa em Nova York, ou com outra coisa completamente diferente. Apesar de Emily estar convencida agora que seu pai estava vivo em algum lugar, Roy ainda era um mistério para ela, como sempre.

      “Fico me lembrando o tempo todo de coisas sobre meu pai”, Emily confessou. “Desde que achei aquelas cartas. Queria saber o que o fez fugir. Sempre pensei que algo súbito deve ter acontecido quando eu era adolescente, mas acho que ele estava perturbado muito antes disso. Desde que me lembro, para ser sincera. Toda vez que volto no tempo e o vejo, existe um traço de preocupação nos olhos dele”.

      Daniel a abraçou. Era bom ser confortada por ele, estar tão perto novamente. Ele parecia tão distante na lanchonete de Joe.

      “Desculpe por estar tão calado lá”, Daniel disse, como se lesse a mente dela. “As festas de final do ano também me trazem lembranças”.

      “Verdade?” Emily perguntou, gentil. “Que tipo de lembranças?”

      Era tão raro Daniel se abrir para ela que aproveitava