Sophie Love

Quem Dera, Para Sempre


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os impostos atrasados dela – centenas de milhares de dólares – e agora a recebia na casa dele regularmente para tomar um café e comer um pedaço de bolo. Emily sofria ao vê-lo sofrer. Cada vez que o via, parecia mais frágil, mais oprimido pelas garras da doença.

      Aproximou-se dele. Quando Trevor a viu, seu rosto se iluminou.

      “Como você está?” Emily perguntou, abraçando-o. Ele parecia mais magro, e ela pôde sentir os ossos dele durante o abraço.

      “Bem, dentro das circunstâncias”, Trevor replicou, baixando o olhar.

      Emily ficava chocada ao vê-lo daquela forma, frágil e derrotado.

      “Precisa de ajuda com alguma coisa?” ela perguntou, suavemente e num tom de voz baixo, para não constranger aquele homem orgulhoso.

      Trevor balançou a cabeça, como Emily esperava. Não era sua natureza aceitar ajuda. Mas não estava na natureza dela aceitar um não como resposta.

      “Chantelle tem feito decorações com flocos de neve de papel”, ela disse. “São pedacinhos de papel com glitter, mas ela está muito orgulhosa e quer que todos os vizinhos tenham uma. Tudo bem se eu passar para deixar uma amanhã?”

      Era uma desculpa esfarrapada, mas Trevor mordeu a isca.

      “Bem, acho que poderíamos também tomar um chá com bolo”, ele disse. “Já que você vai passar lá em casa mesmo”.

      Emily sorriu. Havia algumas brechas na armadura de Trevor, e ela decidiu visitar o vizinho assim que surgisse uma oportunidade.

      “Esperava vê-la qui”, Trevor disse, pegando a mão dela. Ele estava muito frio, Emily notou, e sua pele estava um tanto pegajosa. Havia um pouco de suor sobre a sobrancelha dele. “Tenho algo para você”, continuou.

      “O que é?” Emily perguntou, enquanto ele tirava um pedaço de papel do bolso.

      “Plantas”, Trevor disse. “De sua casa. Eu estava no meu sótão, tentando organizar tudo para... bem, você sabe”. Sua voz ficou mais baixa. “Não sei como foram parar nas minhas coisas, mas pode ser que você as queira. Foram desenhadas por seu pai e um advogado, e sei o quanto você deseja coisas que foram do seu pai”.

      “Sim”, Emily balbuciou, pegando o papel das mãos dele.

      Ela baixou os olhos para as linhas desbotadas no papel. Eram plantas arquitetônicas. Ficou surpresa ao perceber que eram da propriedade inteira, incluindo a piscina no anexo, aquela em Que Charlotte se afogou. Emily sentiu um nó na garganta. Dobrou o papel rapidamente e o colocou na bolsa.

      “Obrigada, Trevor”, ela disse. “Vou olhar com mais calma depois”.

      Eles se separaram e Emily voltou para junto de Daniel e Chantelle.

      “O que Trevor queria?” Daniel perguntou.

      “Nada”, Emily disse, balançando a cabeça. Ainda não estava pronta para falar sobre aquilo; estava emocionada demais com a experiência. O papel parecia atraí-la de dentro da bolsa. Poderia ser mais uma peça do quebra-cabeça que explicava o desaparecimento do seu pai?

      Nesse momento, a contagem regressiva para o acendimento das luzes começou. A mente de Emily foi tomada por lembranças de estar ali quando criança, depois, como pré-adolescente, e depois como uma adolescente. Parecia passar por todos esses momentos esquecidos, ano após ano. Alguns incluíam Charlotte, viva e sorridente, mas muitos outros não; muitos eram apenas ela e seu pai, afundando cada vez mais na depressão e no alheamento.

      Então, luzes brancas explodiram da árvore e todo mundo começou a vibrar e a aplaudir. Emily foi puxada de volta ao momento presente, com o coração acelerado.

      “Você está bem?” Daniel perguntou, preocupado. “Você tem tidos muitos flashbacks”.

      Emily assentiu para tranquilizá-lo, mas estava tremendo. Sua mente estava frenética. Todas aquelas lembranças ressurgindo de repente e ela se perguntava se tinham sido acionadas pela descoberta de que seu pai estava realmente vivo. Era como se agora pudesse voltar ao passado e lembrar do pai, porque não seria tomada pela dor ao fazer isso. Talvez, se Emily fosse paciente o bastante, descobriria uma lembrança que a ajudaria em sua busca, algo que lhe diria exatamente onde ele estava se escondendo.

      *

      Exaustos depois da divertida noite em família, Emily e Daniel puseram Chantelle na cama assim que chegaram em casa. A menina pediu que eles contassem uma história e Emily aceitou. Mas assim que a história acabou, Chantelle parecia pensativa.

      “O que foi?” Emily perguntou.

      “Estava pensando na minha mãe”, a menina explicou.

      “Ah”. Emily sentiu um nó no estômago ao pensar em Sheila, lá no Tennessee. “O que tem ela, querida?”

      Chantelle a olhou com seus olhos azuis arregalados. “Você vai me proteger dela?”

      O coração de Emily apertou. “É claro”.

      “Prometa”, Chantelle disse com uma voz desesperada, suplicante. “Prometa que ela não vai voltar”.

      Emily a abraçou forte. Não podia prometer, porque não sabia como o processo da guarda legal iria transcorrer.

      “Farei tudo o que puder”, Emily disse, esperando que suas palavras bastassem para acalmar a criança aterrorizada.

      Chantelle se reclinou, com a cabeça sobre o travesseiro, os cabelos loiros espalhados, e pareceu relaxar. Alguns momentos depois, ela adormeceu.

      O fato de Chantelle perguntar pela mãe despertou algo em Emily. Ela e Patricia haviam conversado há pouco tempo, quando Emily tentou, sem sucesso, fazer a mãe vir para o Dia de Ação de Graças na pousada. Sua mãe se recusou a visitar a casa em Sunset Harbor; via a casa como uma propriedade de Roy e como um lugar do qual fora banida. Ainda assim, Emily pensou, Patricia ainda fazia parte da sua vida. Era hora de pegar o touro pelos chifres e contar a ela sobre seu casamento.

      Emily se levantou da cama de Chantelle, enrolou-se num xale e foi até o terraço. Sentou na cadeira de balanço, cruzou as pernas e olhou para o céu, para as estrelas cintilantes e para a lua. Algo no brilho delas lhe deu coragem. Pesquisou entre os contatos em seu celular e ligou para a mãe.

      Como sempre, Patricia atendeu a ligação com um brusco “Sim?”

      “Mãe”, Emily disse, respirando fundo, tentando manter sua coragem. “Tenho algo para te dizer”.

      Não havia por que fingir uma conversa educada. Nenhuma das duas queria isso. Era melhor ir direto ao assunto.

      “Ah, é?” Patricia disse, indiferente.

      Emily havia dado algumas notícias inesperadas para a mãe ao longo do último ano, após deixar tudo em Nova York, terminar o relacionamento de sete anos com Ben, fugir para Sunset Harbor, abrir uma pousada, e se apaixonar por Daniel tão loucamente que havia concordado em criar a filha dele. Sua mãe havia, surpreendentemente, desaprovado cada uma das escolhas da filha. As chances dela aceitar o noivado eram quase nulas.

      “Daniel me pediu em casamento”, Emily finalmente conseguiu dizer. “E eu concordei”.

      Houve uma pausa, uma que Emily havia previsto. Sua mãe usava o silêncio como uma arma, sempre dando a Emily tempo suficiente para se preocupar com os pensamentos que passavam pela sua mente.

      “E há quanto tempo você namora esse homem?” Patricia perguntou por fim.

      “Há quase um ano”, Emily replicou.

      “Um ano. E vocês têm mais ou menos uns cinquenta para passarem juntos”.

      Emily suspirou fundo. “Pensei que ficaria feliz por eu finalmente me casar. Você sempre adorou passar na minha cara que, na minha idade, já tinha se casado há muito tempo”. Ao ouvir o tom da própria voz, Emily estremeceu. Por que sua mãe sempre provocava a criança briguenta nela? Por que se