Barbara Cartland

A Dama de Negro


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por todos.

      Sibele formou uma imagem tão real do avô que chegava a sentir que o conhecia e, com os olhos arregalados, ouvia as histórias das festas, jantares importantes e bailes que ele oferecia em sua casa.

      A mãe contava também sobre as festas a que era convidada em Oxfordshire e em Londres, e do seu baile de debutante no Palácio de Buckingham.

      Para Sibele, aquilo tudo era belo e distante como um conto de fadas, e só mais tarde percebeu que Selene se ressentia por não habitar aquele mundo e que culpava a mãe por tê-lo deixado.

      —Quando eu tiver idade, quero ir a todos os bailes que puder!— disse Selene certa vez, quando estavam a sós, depois de uma “sessão de reminiscências” de sua mãe—, quero morar numa mansão, ter belos cavalos, festas e jantares todos os dias. Ah! E também quero vestidos caros e luxuosos!

      Atravessou oquarto, enquanto falava e olhou-se no espelho.

      —Sou bonita! Sei que sou bonita, mas quem olha para mim aqui? Só alguns velhos fazendeiros e aquele bando de garotos horríveis do coro da Igreja!

      Sibele não respondeu. Receava de que sua mãe ouvisse uma das explosões de revolta de Selene, coisa que a deixaria terrivelmente magoada.

      Foi quando sua mãe ficou doente, piorando visivelmente a cada dia que passava, que Selene tomou a decisão de ir embora de casa, só esperando o enterro para fugir.

      Sempre que estava sozinha no quarto, para evitar que o pai ficasse ainda mais magoado e deprimido, Sibele chorava.

      «Como ela pôde ser tão cruel?», pensava, rezando com fervor para que Selene mudasse de ideia e voltasse.

      Porém, com o passar do tempo, ficou claro que a irmã não voltaria. E como Selene também nunca mandou pedir sua parte na pequena herança deixada pela mãe, Sibele imaginava que ela devia estar morando com os parentes maternos e que agora vivia como sempre desejara.

      Naquela época, elas tinham dezesseis anos e agora, três anos passados amargurada, Sibele lembrou que dali há dois meses fariam dezanove.

      Ela hesitou muito, antes de escrever para Selene comunicando a morte do pai, mas afinal resolveu avisá-la, enviando o envelope para a casa de seu avô em Oxfordshire, imaginando que, caso Selene não estivesse lá, assim mesmo a carta chegaria às mãos dela.

      Sibele costumava se perguntar se Selene deixara de ser a menina que não queria viver na obscuridade e se teria um tipo de vida completamente diferente.

      «Talvez ela nem seja mais parecida comigo», pensou, indo olhar-se no espelho.

      Durante aquele tempo que passara longe da irmã tinha ficado muito mais bonita do que era aos dezasseis anos. O brilho avermelhado dos cabelos, herança do sangue húngaro de seu pai, formava um forte contraste com a pele clara, quase translúcida.

      Tinha o nariz pequeno e reto e os lábios perfeitos, mas eram pouco notados, já que as pessoas voltavam-se primeiro para seus olhos.

      Emoldurados pelos cílios negros, seus olhos às vezes eram verdes ou então misteriosos com a tonalidade do crepúsculo. Extremamente expressivos, refletiam seus sentimentos, suas emoções e até mesmo seus pensamentos.

      Sibele, tinha certeza de que Selene também era assim.

      No passado, sempre sabia exatamente o que a irmã estava pensando. Além disso, quando estava com raiva, seus olhos brilhavam como se soltassem faíscas, e, quando estava feliz, não eram apenas verdes, pareciam transmitir o brilho do sol.

      «Espero que Selene esteja feliz», pensou, atravessando o pequeno vestíbulo em direção à cozinha.

      Beth estava mexendo nas panelas. Embora não sentisse fome, depois de toda a tensão emocional pela morte e enterro de seu pai, sabia que não podia desapontar a ama, recusando sua comida.

      —Chegou, Srta. Sibele?— gritou Beth, assim que ela entrou na cozinha.

      —Sim, Bá. Está tão frio lá fora!

      —Acendi a lareira do escritório.

      —Eu vi e obrigada por ter se lembrado— respondeu Sibele—, vim ver se precisa de ajuda.

      —Obrigada, mas estou muito bem. Vá se esquentar. Não quero que apanhe um resfriado.

      A voz da velha senhora mostrou certa preocupação muito familiar para Sibele, que sabia que Beth se culpava pela gripe que acabara levando sua mãe à morte.

      Beth achava que devia ter dado um jeito de manter a casa mais aquecida e insistido para que sua mãe comprasse um casaco mais grosso.

      —Está bem, Bá, vou voltar para o escritório«— disse ela, sabendo que Beth ficaria satisfeita—, me chame quando estiver tudo pronto,

      A velha não respondeu e Sibele saiu da cozinha, pensando que tinham muita sorte por terem um grande estoque de madeira empilhado atrás da porta dos fundos, além de três sacos de carvão em um dos barracões, mas o carvão era muito caro e o usavam raramente.

      Sibele sabia que não tinha de pensar só nela, mas também em Beth que já estava com quase setenta anos.

      Como a conhecia desde que nascera, Beth era agora, praticamente, a única parente que possuía. Entretanto, por mais carinhosa e compreensiva que fosse, ela não podia preencher o vazio deixado pela perda de seu pai.

      Os dois tinham sido muito unidos durante aqueles últimos três anos, principalmente depois que ele ficara doente e a tratava de igual para igual.

      —Você é uma mulher, querida, e muito bonita, mas tem a inteligência e a perspicácia de um homem— disse-lhe o pai certa vez—, se eu tivesse um filho, o que eu gostaria muito, ele não seria mais inteligente do que você.

      —Obrigada, papai. Foi maravilhoso ouvir isso do senhor.

      Sibele sempre se esforçou muito para agradá-lo e, embora

      Selene e ela tivessem uma professora que morava na aldeia, era com seu pai que estudavam a maioria dos assuntos.

      Aprendiam grego e outras línguas, além de estudarem literatura inglesa e geografia.

      Geografia era uma das matérias preferidas de Sibele, pois seu pai acreditava qüe para conhecer o mundo não bastava saber a localização de cada país no mapa. Era preciso conhecer os costumes e a natureza do povo que habitava cada lugar.

      Sibele sentia-se fascinada e estudava cada vez mais, sabendo que Selene, ao contrário, ficava apenas aborrecida.

      —Quero conhecer as pessoas, não só aprender sobre elas!— comentou Selene certa vez, depois de uma aula—, de que adianta saber que os húngaros são excelentes cavaleiros quando os únicos cavalos que tenho oportunidade de montar não passam de pobres pangarés?

      —Isso não é verdade!— protestou Sibele—, como papai e mamãe são muito queridos, os fazendeiros são gentis conosco. O cavalo que montei anteontem era tão fogoso que tive grande dificuldade para controlá-lo.

      —Quero os melhores cavalos e uma roupa de montaria cara e elegante!— concluiu Selene.

      Não havia nada assim na aldeia. Na verdade, Bedfordshire era um Condado pequeno, com poucas casas grandes e largas extensões de terra destinadas à agricultura, o que lhe fizera valer o apelido de “horta da Inglaterra”.

      Sibele achava que a região possuía estranha beleza e adorava o movimento lento do rio Ouse que passava no limite de seu jardim.

      Era lá que na primavera encontrava cogumelos e uma infinidade de flores silvestres, e, quando os campos estavam brancos de neve, como agora, as lebres selvagens saíam correndo assim que ela aparecia.

      Para Selene, entretanto, tudo aquilo não tinha a menor graça e, agora, lembrando-se de tudo isso, Sibele não se surpreendia pela irmã ter ido embora. Assim que abriu a porta do escritório, Sibele sentiu-se envolvida por um calor agradável.

      —O que