Barbara Cartland

A Dama de Negro


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de ter o inglês perfeito, ainda carregava um leve sotaque húngaro.

      Quando ouviu apenas o silêncio, Sibele suspirou.

      —Acho que pela primeira vez na minha vida, terei de decidir tudo sozinha, o que será difícil, já que sempre confiei em suas decisões papai.

      Sabia que nunca teria coragem de fazer o que Selene fizera e acreditava que, por serem gêmeas, eram realmente o complemento uma da outra.

      —A outra metade— como Beth sempre dizia.

      Selene era obstinada, corajosa e tinha uma força de vontade fora do comum.

      Sibele, por sua vez, sabia que era indecisa, gentil, e que morria de medo de magoar as pessoas, absolutamente incapaz de teimar, se houvesse alguma oposição ao que queria.

      —Sei que eu não devia ser assim, mas que posso fazer?

      Teve impressão de ouvir Beth chamá-la e se levantou do tapete. Quando chegou à porta, sem querer se virou para ver se seu pai estava confortável e aquecido na poltrona.

      Ao deparar-se com o escritório vazio, sentiu uma profunda dor no coração e tentou imaginar quanto tempo levaria para apagar da memória aqueles dias maravilhosos.

      Saiu do escritório e, quando já atravessava o vestíbulo para ir à cozinha, ouviu uma forte batida na porta da entrada da casa.

      Não tinha a menor ideia de quem poderia ser, pois qualquer pessoa da aldeia teria entrado pela porta da cozinha.

      Virou a maçaneta e, por um momento, ficou imóvel como uma pedra, achando que estava tendo uma alucinação.

      Era Selene! Estava tão elegante, tão bem-vestida, com um casaco de peles e com penas de avestruz no chapéu da última moda, que Sibele ficou surpresa ao reconhecê-la de imediato! O rosto da irmã, porém, continuava exatamente igual ao seu e era inconfundível.

      —Selene!

      —Está surpresa por me ver?— Selene entrou no vestíbulo, quase empurrando Sibele.

      —Sim, claro, mas infelizmente você chegou tarde. Papai foi enterrado ontem.

      —Eu sei. Vim aqui só para ver você. Tem mais alguém na casa?

      Sibele fechou a porta com esforço, pois o vento soprava muito forte.

      Viu que uma elegante carruagem, puxada por dois cavalos, com um cocheiro e um lacaio na boleia, estava se afastando.

      —Bá está na cozinha— informou para a irmã—, onde sua carruagem está indo?

      Sentiu um medo terrível de que Selene tivesse voltado para ficar e perguntou-se se conseguiriam acomodá-la confortavelmente, e pior ainda, se teriam alguma coisa para lhe oferecer para comer.

      —Mandei os criados descansarem os cavalos na estalagem— respondeu Selene—, ela ainda existe, não é?

      —A The Anchor? Sim, claro que ainda existe— Sibele respirou aliviada, já que não precisariam alimentar dois homens, e acrescentou—, vá para o escritório que está quentinho, enquanto vou contar para Bá que você está aqui. O almoço deve estar quase pronto.

      —Estou mesmo com fome. Tinha esquecido como você mora longe de Londres. Levei horas para chegar até aqui!,

      Selene falou como se a culpa fosse de Sibele, mas nem esperou resposta e se dirigiu para junto da lareira, enquanto sua irmã corria para a cozinha.

      —Bá! Bá!— gritou Sibele—, Selene voltou! Ela acabou de chegar!

      Beth fitou-a com expressão incrédula.

      —Bem, se ela veio para o enterro, chegou muito atrasada!— comentou em seguida.

      —Selene veio me ver, Bá! Ela está com fome e teremos de almoçar na sala.

      Sibele percebeu nitidamente a mudança na expressão de Beth.

      Como depois de ter ficado doente seu pai quase não saía do quarto e do escritório, as duas costumavam comer juntas na cozinha, mas Sibele tinha certeza de que Selene não gostaria da ideia e talvez até fizesse um escândalo.

      —Bá, pode deixar que eu arrumo a mesa— disse ela, apressada—, e pode colocar tudo numa bandeja, que virei buscar.

      Beth comprimiu os lábios, mas não disse nada e, sem esperar mais, Sibele correu para a sala de jantar, que ficava ao lado da cozinha.

      Era uma sala pequena, mas sua mãe a tomara muito agradável.

      As cortinas não eram de tecido luxuoso, mas, antes de desbotarem, tinham um tom lindo de vermelho e combinavam com os assentos das poltronas.

      Quando sua mãe ainda estava viva, havia sempre um vaso de flores no centro da mesa, tomando o ambiente ainda mais alegre e acolhedor.

      Sibele pegou uma toalha limpa e estendeu-a sobre a mesa. Em seguida, colocou os pratos, os talheres e os copos.

      O vaso de prata que sua mãe adorava estava sobre o bufê e ela o colocou no centro da mesa. Embora não tivesse flores naquele época do ano, fazia lembrar o tempo que a família inteira se reunia para as refeições.

      Arrumou a mesa apenas para duas pessoas, imaginando que Selene não gostaria de almoçar na companhia de Beth.

      Deu uma olhada na cozinha e, vendo que a ama já estava colocando na travessa o coelho que exalava um aroma delicioso, correu para o escritório.

      —O almoço será servido daqui a dois minutos. Quer lavar as mãos, Selene, tirar o chapéu?

      —Não precisa me tratar com tanta cerimônia, Sibele. Sinto-me totalmente à vontade.

      Selene estava sentada na poltrona de seu pai, com as mãos estendidas para o fogo. Em seguida tirou o chapéu e Sibele pensou que ainda era muito bonita, mas não tão parecida com ela.

      De repente percebeu que não era o rosto de Selene que tinha mudado, e sim o jeito como arrumava os cabelos. Seus cílios também pareciam mais escuros e os lábios mais vermelhos.

      —As duas irmãs ficaram se observando por um longo momento. Ainda somos idênticas— disse Selene e, para surpresa de Sibele, ela parecia satisfeita.

      —Por um instante pensei que você tivesse mudado, mas foi só o penteado. Você está muito bonita, Selene.

      —Tinha certeza de que você me admiraria, mas, na minha posição, é natural que eu esteja sempre elegante e com roupas luxuosas.

      —Na sua posição?— perguntou Sibele, espantada.

      —Eu me casei. Você não sabia?

      —Não, claro que não! Como poderia saber?

      —Esqueci que papai nunca se interessou por jornais— Selene riu—, se o mundo acabasse, acho que você nem ficaria sabendo, enfiada aqui nesse lugar deprimente!

      —Eu gostaria de ter ficado sabendo do seu casamento— protestou Sibele—, você podia ter escrito contando!

      Selene não respondeu. Estava ocupada, colocando o cabelo no lugar. Quando levantou, mostrou o lindo vestido de seda azul, escondido pelo casaco de peles que usava ao chegar.

      A cintura era bem justa e o corpete moldava os seios, deixando Selene extremamente sensual e insinuante.

      —Tem alguma coisa para beber— perguntou Selene, caminhando para a porta.

      —Deve haver uma garrafa de vinho tinto que papai costumava tomar.

      —Bem, é melhor abri-la. Preciso de algo que me anime depois de uma viagem tão longa.

      —Você podia ter mandado avisar que viria— disse Sibele—, eu teria deixado tudo pronto à sua espera. Bem, mas Bá fez um coelho para o almoço e você deve lembrar que seus ensopados de coelho são sempre deliciosos!

      —Eu não esqueceria jamais!— Selene riu—, só comíamos