eu não sei porque você ainda não entregou ele. O diário não é o suficiente para incriminá-lo?
- Você acha que eu já não pensei nisso? – Chloe perguntou, começando a ficar nervosa. – E não... o diário não é suficiente. Pode ser suficiente para reabrir o caso, mas só. Não tem evidências claras nele... e o fato de já ter havido um julgamento e do nosso pai já ter sido preso deixa tudo mais difícil ainda. Adicione o fato de Ruthanne Carwile ter confessado recentemente, e tudo se torna uma merda gigante.
- Então você está dizendo que ele provavelmente vai acabar se livrando?
Chloe não respondeu. Ela tomou o resto de sua cerveja e caminhou até a cozinha. Abriu a geladeira e ameaçou pegar outra, mas parou. Devagar, fechou o refrigerador e encostou-se no balcão.
- Eu sei que isso é basicamente culpa minha – Chloe disse. Foi difícil admitir. As palavras saíram de sua boca como se fossem ácido.
- Eu não estou aqui para te culpar, Chloe.
- Eu sei. Mas é isso o que você está pensando. E eu não te culpo. Agora que eu vi o que tem no diário e meio que... não sei... eu também penso assim. Se eu tivesse te escutado lá no começo, tudo seria sido diferente. Antes de Ruthanne, antes de conseguir meu trabalho no FBI...
- Não faça isso. Só vamos... olhar para frente. Vamos pensar no que podemos fazer.
- Não podemos fazer nada!
Chloe surpreendeu a si mesma ao gritar com sua irmã. Mas ela já não podia voltar atrás com aquelas palavras.
- Chloe, eu—
- Eu estraguei tudo. Falhei com você, com a mãe, comigo mesma. Essa sou eu agora. Preciso viver com isso e—
- Mas nós podemos achar um jeito juntas, ok? Olhe... eu posso lidar com essa inversão de papeis e tal, mas não suporto ver você se culpando assim.
- Não agora. Não consigo lidar com isso agora. Preciso colocar algumas coisas no lugar.
- Deixe-me te ajudar, então.
Chloe sentiu-se sufocada. Sentiu outro grito subindo pela garganta, mas apertou os punhos e conseguiu se segurar.
- Danielle – ela disse o mais devagar e pacientemente possível. – Eu admiro sua atitude e te amo por você estar tão preocupada. Mas eu preciso lidar com isso tudo sozinha por enquanto. Quanto mais você me pressionar, pior vai ser. Então, por favor... por enquanto... você pode ir embora?
Chloe viu a expressão de Danielle mudar. Ela parecia decepcionada. Ou talvez triste. Chloe não sabia exatamente e, na verdade, naquele momento, ela nem queria saber.
Danielle colocou sua cerveja na mesa de centro—sem ter tomado nem sequer um quarto—e se levantou.
- Quero que você me ligue quando cansar de ficar distante.
- Eu não estou ficando distante.
- Eu não sei o que você está fazendo – Danielle disse ao abrir a porta para ir embora. – Mas é melhor eu dizer que você está distante do que dizer que você está sendo uma idiota.
Antes que Chloe pudesse responder, Danielle saiu, fechando a porta.
Chloe desejou que Danielle tivesse batido a porta com força. Pelo menos, algum sentimento teria sido colocado para fora, como um sinal de que sua irmã estava apenas com raiva, assim como ela. Mas a porta fechou-se devagar, quase sem barulho.
Chloe ficou ali, em meio ao silêncio que a acompanhou pelo restante da tarde, e tudo o que podia fazer naquele momento era colocar mais garrafas vazias de cerveja na lixeira.
CAPÍTULO DOIS
No domingo, Chloe encontrou-se parada no estacionamento de visitantes da Prisão Central de Washington. Ela olhou para o prédio por um momento antes de sair do carro, tentando descobrir exatamente porque estava ali.
Ela sabia a resposta, mas era algo difícil de aceitar. Chloe estava ali porque sentia falta de Moulton. Era uma verdade que ela jamais diria em voz alta, algo que tinha dificuldades em aceitar. Mas a verdade nua e crua era que ela precisava de alguém para confortá-la, e desde que havia se mudado para Washington, Moulton era essa pessoa. Estranhamente, Chloe não tinha percebido aquilo até que o momento em que ele havia sido preso por envolvimento em um esquema de fraude financeira.
Primeiro, Chloe pensara que sentia falta dele apenas por questões físicas—pela necessidade de ser abraçada por um homem quando se sentia perdida. Mas quando Danielle saíra de sua casa no dia anterior, Chloe sentira-se desesperada para conversar com alguém sobre sua situação, e imediatamente pensara em Moulton.
Finalmente motivada e decidida, Chloe saiu do carro e caminhou até a entrada do prédio. Utilizou sua identidade de agente federal para entrar, preencheu os papeis necessários e então sentou-se na área de espera enquanto um guarda seguiu para chamar o Agente Moulton. A área de espera estava praticamente vazia. Aparentemente, domingo não era o dia mais popular para visitar entes queridos na prisão.
Menos de cinco minutos depois, Moulton apareceu em uma porta nos fundos da sala. A sala em si estava arrumada em forma de lounge. Chloe estava sentada em um sofá, do qual Moulton aproximou-se devagar. Ele olhou para ela com um sorriso cético.
- Tudo bem se eu me sentar aqui? – ele perguntou, inseguro.
- Sim – ela disse, indo para o lado para dar espaço a ele no sofá.
- Bom te ver – Moulton disse imediatamente. – Mas preciso admitir que eu não esperava.
- Como estão te tratando aqui?
Ele virou os olhos e suspirou.
- A maioria dos caras são como eu. Crimes do colarinho branco. Não estou preocupado em apanhar ou algo do tipo, se é isso que você está dizendo. Mas eu não quero falar sobre isso. Como vai o trabalho? Você está em algum caso interessante?
- Não. Me colocaram de novo como parceira da Rhodes. Eu e ela estamos trabalhando num projeto de criação de perfis. É meio chato, mas nos mantém ocupadas.
- Vocês estão se dando bem?
- Melhor do que antes, com certeza.
Moulton aproximou-se e mais uma vez a olhou com ceticismo.
- O que te trouxe aqui, Fine?
- Eu queria te ver.
Moulton sorriu.
- Isso fez eu me sentir muito melhor do que deveria. Mas não acredito. Não completamente. O que está acontecendo?
Chloe desviou o olhar dele, começando a sentir-se envergonhada. Antes de voltar a olhá-lo, = finalmente conseguiu dizer algo:
- Meu pai.
- Seu pai? Aquele que voltou a aparecer na sua vida há alguns meses? Aquele que passou a maior parte dos últimos vinte anos na prisão?
- Esse mesmo.
- Achei que você estivesse feliz com isso.
- Estava. Mas então algo aconteceu. E depois mais algo. Muita coisa aconteceu nessa história de um tempo para cá. E a última coisa que eu descobri... não sei. Eu acho que só preciso da opinião de alguém que não seja ligado a ele.
- Talvez alguém que tenha trabalho com você antes de ser preso?
- Talvez – Chloe disse, sorrindo de uma maneira que pareceu um flerte.
- Bom, ouvir essa história seria a coisa mais interessante que eu faria nas últimas duas semanas. Me conte.
Chloe levou alguns segundos para tomar coragem para falar sobre um problema tão pessoal, mas sabia que precisava daquilo. Ao começar a contar a Moulton sobre os avisos constantes de Danielle sobre seu pai e as revelações que havia descoberto no diário, ela entendeu porque havia recusado discutir a situação