Блейк Пирс

A Casa Perfeita


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pergunta dela. “Ma teve outra sessão de quimioterapia ontem, e é por isso que ela está se recuperando agora. Se ela se sentir bem o suficiente, talvez a gente saia para jantar mais tarde.”

      “Com toda a equipe de policiais?”, ela perguntou brincando. Alguns meses atrás, seus pais haviam se mudado de sua casa para um centro de convivência sénior, ocupado principalmente por aposentados do Departamento de Polícia de Las Cruces, do Departamento do Xerife e também do FBI.

      “Não, apenas nós dois. Estou pensando num jantar à luz de velas. Mas em algum lugar que nós possamos colocar um balde ao lado da mesa para o caso de ela vomitar.”

      “Você é realmente um romântico, Pa.”

      “Eu tento. Como estão as coisas com você? Estou assumindo que você passou no treinamento do FBI.”

      “Por que você assume isso?”

      “Porque você sabia que eu perguntaria sobre isso e você não teria ligado se tivesse que dar más notícias.”

      Jessie teve que reconhecer. Para um cachorro velho, ele ainda era bem afiado.

      “Passei”, ela disse a ele. “Estou de volta a LA agora. Começo a trabalhar de novo amanhã e estou... resolvendo algumas tarefas.”

      Ela não queria preocupá-lo com o destino para o qual estava indo.

      “Isso soa sinistro. Por que tenho a sensação de que você não está comprando um pedaço de pão?”

      “Eu não queria que soasse assim. Eu acho que estou apenas cansada de todas essas viagens. Na verdade, estou quase chegando”, ela mentiu. “Devo ligar de novo esta noite ou esperar até amanhã? Eu não quero atrapalhar o seu jantar chique de vômito.”

      “Talvez amanhã”, ele aconselhou.

      “Ok. Diga um oi para Ma. Eu te amo.”

      “Também te amo”, ele disse, desligando.

      Jessie tentou se concentrar na estrada. O tráfego estava piorando e a viagem para a instalação da DNR, um trajeto que levava cerca de quarenta e cinco minutos, ainda demorava meia hora.

      A DNR, abreviação Divisão de Não Reabilitação, era uma unidade autônoma especial afiliada ao Departamento Metropolitano do Hospital Estadual de Norwalk. O principal hospital abrigava uma ampla gama de perpetradores mentalmente desordenados, considerados inaptos para cumprir pena em uma prisão convencional.

      Mas o anexo da DNR, desconhecido do público e até mesmo da maioria dos policiais e profissionais de saúde mental, cumpria um papel mais clandestino. Foi projetado para abrigar um máximo de dez criminosos, secretamente. Neste momento, só havia cinco pessoas sendo mantidas lá, todos homens, todos estupradores em série ou assassinos. Um deles era Bolton Crutchfield.

      A mente de Jessie vagou para a última vez que ela tinha estado lá para vê-lo. Tinha sido sua última visita antes de partir para a Academia Nacional, embora ela não tivesse dito isso a ele. Jessie estava visitando Crutchfield regularmente desde o outono passado, quando obteve permissão para entrevistá-lo como parte do estágio de seu curso de mestrado. Segundo os funcionários, Crutchfield quase nunca consentiu em conversar com médicos ou pesquisadores. Mas, por motivos que não tinham ficado claros para ela até bem mais tarde, ele havia concordado em se encontrar com ela.

      Nas semanas seguintes, chegaram a uma espécie de acordo. Ele iria discutir os detalhes de seus crimes, incluindo métodos e motivos, se ela compartilhasse alguns detalhes de sua própria vida. Parecia um comércio justo inicialmente. Afinal de contas, o objetivo dela era se tornar uma especialista de perfis criminais especializada em assassinos em série. Ter alguém disposto a discutir os detalhes dos crimes que havia praticado poderia ser de valor inestimável.

      E lá, acabou por ter ainda um bônus adicional. Crutchfield tinha a habilidade Sherlock Holmesiana de deduzir informações, mesmo trancado em uma cela em um hospital psiquiátrico. Ele fora capaz de discernir detalhes sobre a vida de Jessie naquele momento só de olhar para ela.

      Ele usara essa habilidade, junto com a informação de casos que ela compartilhava, para lhe dar pistas sobre vários crimes, incluindo o assassinato de um rico filantropo de Hancock Park. Ele também dissera que o próprio marido de Jessie poderia não ser tão confiável quanto parecia.

      Infelizmente para Jessie, as habilidades de dedução dele também funcionavam contra ela. A razão pela qual ela quis se encontrar com Crutchfield em primeiro lugar foi porque ela tinha percebido que ele havia moldado a forma dos seus assassinatos depois daqueles realizados pelo pai dela, o lendário assassino em série, nunca capturado, Xander Thurman. Mas Thurman havia cometido os crimes dele no interior rural do Missouri mais de duas décadas antes. Parecia uma escolha aleatória e obscura para um assassino do sul da Califórnia.

      Mas acabou que Bolton Crutchfield era na verdade um grande fã de Thurman. E assim que Jessie começou a perguntar-lhe sobre seu interesse naqueles velhos assassinatos, não demorou muito para juntar as coisas e determinar que a jovem à sua frente estava pessoalmente ligada a Thurman. Por fim, ele admitiu que sabia que ela era sua filha. E ele revelou mais um petisco - ele havia se encontrado com o pai dela dois anos antes.

      Com alegria na voz, Crutchfield havia dito a ela que seu pai tinha entrado na instalação sob o disfarce de um médico e conseguira ter uma longa conversa com o prisioneiro. Aparentemente ele estava procurando por sua filha, cujo nome havia sido mudado e que havia sido colocada no Programa de Proteção às Testemunhas depois que ele havia matado sua mãe. Thurman suspeitava que ela poderia um dia visitar Crutchfield porque seus crimes eram tão semelhantes. Thurman queria que Crutchfield o avisasse se ela aparecesse e desse a ele seu novo nome e localização.

      Daquele momento em diante, o relacionamento deles passou a ter uma desigualdade que a deixava incrivelmente desconfortável. Crutchfield ainda lhe dava informações sobre seus crimes e insinuações sobre outros. Mas ambos sabiam que ele segurava todas as cartas.

      Ele sabia o novo nome dela. Ele sabia como ela era. Ele sabia a cidade em que ela morava. Em determinado momento, ela descobriu que ele sabia que ela estava morando na casa de sua amiga Lacy e onde ela estava. E aparentemente, apesar de estar encarcerado em uma instalação supostamente secreta, ele tinha a capacidade de dar ao pai de Jessie todos esses detalhes.

      Jessie tinha certeza de que isso tudo era pelo menos parte do motivo pelo qual Lacy, uma aspirante a estilista, havia aceitado um trabalho de seis meses em Milão. Sem dúvidas era uma ótima oportunidade, mas também estava a meio mundo de distância da vida perigosa de Jessie.

      Quando Jessie saiu da rodovia, a poucos minutos de chegar à DNR, ela se lembrou de como Crutchfield havia finalmente puxado o gatilho da ameaça implícita que sempre pairava nos encontros entre os dois.

      Talvez fosse porque ele sentira que ela estava indo viajar por vários meses. Talvez tenha sido apenas por despeito. Mas, na última vez em que ela tinha olhado através do vidro em direção aos seus olhos desonestos, ele havia jogado uma bomba sobre ela.

      “Eu vou ter uma pequena conversa com seu pai”, ele disse a ela em seu sotaque sulista. “Eu não vou estragar as coisas dizendo quando. Mas vai ser lindo, tenho certeza.”

      Ela mal conseguiu sufocar a palavra “Como?”

      “Oh, não se preocupe com isso, Menina Jessie”, ele disse suavemente. Só saiba que quando falarmos, eu vou dar a ele os seus cumprimentos.”

      Ao entrar na propriedade do hospital, Jessie perguntou-se a mesma pergunta que a estivera ruminando desde então, a pergunta que só conseguia tirar de sua cabeça quando estava concentrada em outro trabalho: ele havia mesmo feito aquilo? Enquanto ela estava aprendendo a pegar pessoas como ele e seu pai, os dois tinham mesmo se encontrado uma segunda vez, apesar de todas as precauções de segurança projetadas para evitar esse tipo de coisa?

      Ela tinha a sensação de que o mistério estava prestes a ser resolvido.

      CAPÍTULO