desaparecidas.
Rais sentou-se na cadeira amarela com um celular descansando no apoio de braço. Era um telefone de estilo antigo, praticamente pré-histórico pelos padrões de hoje - não era bom para nada além de ligações e mensagens. Um telefone descartável, Maya ouvira essas coisas na TV. Ele não se conectava à internet e não tinha GPS, que ela sabia, por programas policiais - o que significava que só poderia ser rastreado pelo número de telefone, que alguém teria que ter.
Rais, ao que parecia, estava esperando por algo. Uma chamada ou uma mensagem. Maya queria, desesperadamente, saber para onde estavam indo, se havia um destino. Ela suspeitava que Rais quisesse que o pai delas os encontrasse, os localizasse, mas o assassino não parecia estar com pressa de chegar a lugar nenhum. Era este o seu jogo? Ela se perguntou, roubar carros e mudar de direção, iludindo as autoridades, na esperança de que seu pai fosse o único a encontrá-los primeiro? Eles apenas continuariam saltando de um lugar para outro até que houvesse uma disputa?
De repente, um toque monofônico soou no telefone ao lado de Rais. Sara saltou ligeiramente em seus braços com a intrusão aguda.
— Alô — Rais atendeu ao telefone sem rodeios. — Ano. — Ele se levantou da cadeira pela primeira vez em três horas enquanto trocava o inglês por uma língua estrangeira. Maya sabia apenas inglês e francês, e ela podia reconhecer um punhado de outras línguas de palavras e sotaques únicos, mas ela não conhecia essa. Era uma língua gutural, mas não totalmente desagradável.
Russo? Ela pensou. Não. Polonês, talvez. Não adianta adivinhar; ela não podia ter certeza, e saber não a ajudaria a entender nada do que estava sendo dito.
Ainda assim, ela ouviu, notando o uso frequente de sons de “z” e “ski”, tentando identificar cognatos, o que pareceu não haver nenhum.
Havia uma palavra que ela conseguiu distinguir, e isso fez seu sangue gelar.
— Dubrovnik — disse o assassino, como se fosse confirmado.
Dubrovnik? A geografia era um das suas melhores matérias; Dubrovnik era uma cidade no sudoeste da Croácia, um famoso porto e destino turístico popular. Contudo, muito mais importante do que isso foi a implicação da palavra mencionada.
Isso significava que Rais planejava tirá-las do país.
— Ano — disse ele (o que parecia ser uma afirmação; ela supôs que significa “sim”). E então:
— Porto de Nova Jersey.
Eram as únicas duas palavras inglesas em toda a conversa, além do “olá”, e ela as compreendeu facilmente. O motel deles já estava perto de Bayonne, a uma curta distância do porto industrial de Nova Jersey. Ela já o tinha visto muitas vezes antes, atravessando a ponte de Jersey para Nova York ou voltando, pilhas sobre pilhas de contêineres multicoloridos sendo carregados por guindastes em enormes navios escuros que os levariam para o exterior.
O ritmo de seu batimento cardíaco triplicou. Rais iria tirá-las dos Estados Unidos pelo Porto de Nova Jersey em direção à Croácia. E de lá... Ela não tinha ideia, e ninguém mais teria. Haveria pouca esperança de serem encontradas novamente.
Maya não podia permitir isso. Sua decisão de lutar se fortaleceu; sua determinação em fazer algo sobre essa situação voltou à vida.
O trauma de ver Rais cortando a garganta da mulher no banheiro da parada de descanso, mais cedo naquele dia, ainda permanecia; ela viu quando a mulher fechou os olhos. O olhar vago e morto. A poça de sangue quase tocando seus pés. Então ela tocou o cabelo de sua irmã e sabia que aceitaria absolutamente o mesmo destino se isso significasse que Sara estaria segura e longe deste homem.
Rais continuou sua conversa na língua estrangeira, usando frases curtas e pontuadas. Ele se virou e separou as grossas cortinas ligeiramente, apenas alguns centímetros ou mais, para espiar o estacionamento.
Ele estava de costas para ela, provavelmente pela primeira vez desde que chegaram ao motel decadente.
Maya estendeu a mão e cuidadosamente abriu a gaveta da mesa de cabeceira. Era tudo o que ela conseguia alcançar, algemada a sua irmã e sem se mexer da cama. Seu olhar passou nervosamente pelas costas de Rais e depois para a gaveta.
Havia uma Bíblia nela, muito antiga, com a lombada descascada e lascada. Ao lado havia uma simples caneta esferográfica azul.
Ela a pegou e fechou a gaveta novamente. Quase no mesmo instante, Rais se virou. Maya congelou, a caneta apertada em seu punho fechado.
Mas ele não lhe deu nenhuma atenção. Ele parecia entediado com a ligação agora, ansioso para desligar o telefone. Algo na televisão chamou sua atenção por alguns segundos e Maya escondeu a caneta na cintura elástica da calça de pijama de flanela.
O assassino grunhiu um adeus indiferente e terminou a ligação, jogando o telefone na poltrona. Ele se virou para eles, examinando cada uma. Maya olhou para frente, seu olhar tão vazio quanto ela conseguia, fingindo assistir ao noticiário. Aparentemente satisfeito, ele voltou a seu posto na cadeira novamente.
Maya gentilmente acariciou as costas de Sara com a mão livre enquanto sua irmã mais nova olhava para a televisão, ou talvez para o nada, seus olhos semicerrados. Depois que o incidente no banheiro da parada de descanso, demorou horas para que Sara parasse de chorar, mas agora ela simplesmente estava ali, com o olhar vazio e vidrado. Parecia que ela não tinha mais nada.
Maya passou os dedos para cima e para baixo na espinha de sua irmã na tentativa de confortá-la. Não havia como elas se comunicarem entre si; Rais deixara claro que não lhes era permitido falar a menos que lhes fizesse uma pergunta. Não havia como Maya enviar uma mensagem, criar um plano.
Embora... Talvez não tenha que ser verbal, ela pensou.
Maya parou de tocar as costas da irmã por um momento. Quando ela recomeçou, ela pegou seu dedo indicador e, sorrateiramente, desenhou a forma de uma letra entre as omoplatas de Sara - um grande A.
Sara ergueu a cabeça curiosamente por um momento, mas ela não olhou para Maya nem disse nada. Maya esperava desesperadamente que ela entendesse.
P, ela desenhou em seguida.
Então E.
Rais sentou-se na cadeira, na visão periférica de Maya. Ela não ousou olhar para ele por medo de parecer suspeita. Em vez disso, ela olhou para frente, como sempre, e desenhou as letras.
R. T. E.
Ela moveu o dedo de forma lenta, deliberada, parando por dois segundos entre cada letra e cinco segundos entre cada palavra até que ela soletrasse sua mensagem.
Aperte minha mão se você entender.
Maya nem viu Sara se mexer. Mas suas mãos estavam próximas, por estarem algemadas juntas, e ela sentiu dedos frios e úmidos fecharem-se ao redor dos seus por um momento.
Ela entendeu. Sara entendeu a mensagem.
Maya começou de novo, movendo-se o mais lentamente possível. Não havia pressa, e ela precisava ter certeza de que Sara entendesse cada palavra.
Se você tiver uma chance, ela escreveu, corra.
Não olhe para trás.
Não espere por mim.
Encontre ajuda. Encontre o papai.
Sara ficou ali, quieta e perfeitamente imóvel, durante toda a mensagem. Eram três e quinze antes de Maya terminar. Finalmente, ela sentiu o toque frio de um dedo fino na palma da mão esquerda, aninhada parcialmente sob a bochecha de Sara. O dedo traçou um padrão na palma da mão dela, a letra N.
Não sem você, a mensagem de Sara dizia.
Maya fechou os olhos e suspirou.
Você tem que fazer, ela escreveu de volta. Ou não haverá chance para nenhuma de nós.
Ela não deu a Sara a oportunidade de responder. Assim que terminou a mensagem, ela limpou a garganta e disse baixinho: