lhes permitiria um minuto precioso a sós, mas seu pedido foi negado.
Eles dirigiram por mais alguns minutos em silêncio, indo para o sul, na interestadual, enquanto Maya acariciava o cabelo de Sara. Sua irmã mais nova parecia ter se acalmado a ponto de não chorar mais, ou simplesmente tinha ficado sem lágrimas.
Rais ligou o pisca alerta e guiou a caminhonete para a próxima saída. Maya espiou pela janela e sentiu uma pequena onda de esperança; eles estavam parando em uma parada de descanso. Era pequena, pouco maior que uma área de piquenique, cercada por árvores e um pequeno prédio de tijolos com banheiros, mas já era algo.
Ele as deixaria usar o banheiro.
As árvores, ela pensou. Se a Sara conseguir adentrar a floresta, talvez ela possa despistá-lo.
Rais estacionou o caminhão e deixou o motor inativo por um momento enquanto examinava o prédio. Maya também. Havia dois caminhões ali, grandes caminhões articulados estacionados paralelamente ao prédio de tijolos e ninguém mais. Fora dos banheiros, sob um toldo, havia duas máquinas de venda automática. Ela notou com desânimo que não havia câmeras, pelo menos nenhuma visível, nas redondezas.
— O lado direito é o banheiro feminino — disse Rais. — Eu vou levar vocês até lá. Se tentarem gritar ou chamar alguém, eu matarei aquelas pessoas. Se vocês apenas gesticularem ou sinalizarem para alguém que algo está errado, eu irei matá-los. O sangue deles estará em suas mãos.
Sara estava tremendo em seus braços outra vez. Maya abraçou-a com força em volta de seus ombros.
— Vocês duas vão dar as mãos. Se você se separar, Sara vai se machucar. — Ele se virou parcialmente para encará-las - especificamente Maya. Ele já havia assumido que, das duas, ela seria a mais propensa a lhe causar problemas. — Você entendeu?
Maya assentiu, evitando o olhar de seus olhos verdes selvagens. Ele tinha linhas escuras abaixo deles, como se não tivesse dormido há algum tempo, e seu cabelo escuro era curto no topo de sua cabeça. Ele não parecia tão velho, certamente mais jovem que seu pai, mas ela não conseguia adivinhar sua idade.
Ele ergueu uma pistola preta - a Glock que pertencera ao pai dela. Maya tentou usá-la quando ele invadiu a casa, e ele tirou a arma dela.
— Isso estará na minha mão e minha mão estará no meu bolso. Mais uma vez, vou te lembrar de que problema para mim é problema para ela. — Ele gesticulou para Sara com a cabeça. Ela choramingou levemente.
Rais saiu da caminhonete primeiro, enfiando a mão e a pistola no bolso da jaqueta preta. Em seguida, ele abriu a porta traseira do carro. Maya saiu primeiro, as pernas trêmulas quando seus pés tocaram a calçada. Ela se voltou para o carro em busca da mão de Sara e ajudou sua irmã mais nova a sair.
— Vão. — As garotas andaram na frente dele enquanto se dirigiam ao banheiro. Sara estremeceu. Fim de março na Virgínia significava que o tempo estava começando a mudar, permanecendo entre os dez graus, ou pouco mais que isso, e as duas ainda estavam de pijama. Maya usava apenas chinelos nos pés, calças de flanela listradas e uma blusa preta. Sua irmã usava tênis sem meias, calças de pijama de popelina enfeitadas com abacaxis e uma das velhas camisetas de seu pai, um trapo desbotado com o símbolo de uma banda de que nenhuma das duas jamais ouvira falar.
Maya girou a maçaneta e entrou no banheiro primeiro. Ela instintivamente enrugou o nariz, desgostosa; o lugar cheirava a urina e mofo, e o chão estava molhado por causa de um cano de pia que vazava. Ainda assim ela puxou Sara para o dentro.
Havia uma única janela no lugar, de um vidro fosco no alto da parede que parecia balançar para fora com um bom empurrão. Se pudesse impulsionar sua irmã para cima e para fora, ela poderia distrair Rais enquanto Sara corria...
— Anda. — Maya se encolheu quando o assassino entrou no banheiro atrás deles. Seu coração afundou. Ele não as deixaria sozinhas, nem mesmo por um minuto. — Você, ali. — Ele apontou para Maya e para a segunda cabine dos três. — Você, ali. — Ele instruiu Sara para a terceira.
Maya soltou a mão da irmã e entrou na cabine. Estava imundo; ela não desejaria usá-lo, mesmo se realmente precisasse, mas pelo menos teria que fingir. Ela começou a empurrar a porta, mas Rais a parou com a palma da mão.
— Não — ele disse a ela. — Deixe aberto. — E então ele virou as costas, de frente para a saída.
Ele não está arriscando. Ela lentamente se sentou na tampa fechada do vaso sanitário e respirou entre suas mãos. Não havia nada que pudesse fazer. Ela não tinha armas contra ele. Ele tinha uma faca e duas armas, uma das quais estava na mão, escondida no bolso da jaqueta. Ela poderia tentar pular nele e deixar Sara sair, mas ele estava bloqueando a porta. Rais já tinha matado o Sr. Thompson, um ex-fuzileiro naval que parecia um urso e que teria evitado uma briga a qualquer custo. Que chance ela teria contra ele?
Sara fungou na barraca ao lado dela. Este não é o momento certo para agir, Maya sabia. Ela tinha esperanças, mas teria que esperar novamente.
De repente houve um rangido alto quando a porta do banheiro foi aberta, e uma voz feminina surpresa disse:
— Oh! Desculpe-me... Estou no banheiro errado?
Rais deu um passo para o lado, passou pela cabine e saiu da vista de Maya.
— Desculpe-me, senhora. Não, você está no lugar certo — sua voz imediatamente assumiu um tom de afeto agradável e até cortês. —Minhas duas filhas estão aqui e... Bem, talvez eu seja super protetor, mas você não pode descuidar hoje em dia.
A raiva inchou no peito de Maya com a desculpa. O fato de esse homem tê-las tirado do pai e se atrever a fingir ser ele a deixava com raiva.
— Oh... Compreendo. Eu só preciso usar a pia — a mulher disse a ele.
— Claro.
Maya ouviu as batidas dos sapatos contra o azulejo e, então, uma mulher apareceu parcialmente em seu campo de visão, de costas para ela enquanto abria a torneira. Ela parecia ter meia-idade, com cabelos loiros pouco abaixo da altura dos ombros e vestia-se de forma elegante.
— Não posso dizer que te culpo — a mulher disse a Rais. — Normalmente eu nunca pararia em um lugar como este, mas eu derramei café a caminho de visitar minha família e... Ah... — Ela parou enquanto olhava para o espelho.
No reflexo, a mulher pôde ver a porta da cabine aberta, e Maya sentada em cima do vaso sanitário fechado. Maya não tinha ideia de como ela poderia parecer para um estranho - cabelo emaranhado, bochechas inchadas de tanto chorar, olhos avermelhados -, mas ela podia imaginar que era provável que seria um motivo de alarme.
O olhar da mulher voou para Rais e depois voltou ao espelho.
— Ah... Eu simplesmente não conseguiria dirigir por mais uma hora e meia com as minhas mãos pegajosas... — Ela olhou por cima do ombro, a água ainda correndo, e então ela murmurou três palavras muito claras para Maya.
Você está bem?
O lábio inferior de Maya tremeu. Por favor, não fale comigo. Por favor, nem mesmo olhe para mim. Ela balançou a cabeça lentamente. Não.
Rais deve ter se virado, outra vez, para a porta, porque a mulher assentiu devagar. Não! Maya pensou desesperadamente. Ela não estava tentando pedir ajuda.
Ela estava tentando impedir que essa mulher sofresse o mesmo destino que Thompson.
Maya acenou com a mão para a mulher e mandou uma palavra para ela. Vai. Vai.
A mulher franziu a testa profundamente, as mãos ainda molhadas. Ela olhou na direção de Rais novamente.
— Eu suponho que seria muito pedir toalhas de papel, hein?
Ela disse muito forçadamente.
Entã,o ela apontou para Maya com o polegar e o mindinho, fazendo um sinal de telefone com a mão. Ela parecia estar sugerindo que ligaria para alguém.
Por