ficar desfocada e voltou a pousá-la no colo, fechando os olhos por um momento só para que parassem de arder.
Syn apareceu ao lado da cama de Angelica assim que ela adormeceu. Entrara silenciosamente no castelo e na cidade, tocando as mentes de toda a gente com quem ela tinha interagido. Precisava de obter conhecimento sobre a vida dela para saber exatamente com que é que estava a lidar. Até agora, a informação mais interessante que obtivera tinha sido da mente de Zachary.
O homem loiro era mordaz como um chicote, mas ocultava esse aspeto sob várias camadas. Também tinha os seus próprios poderes como híbrido. Zachary tinha sido nomeado como seu protetor e levava a tarefa muito a sério. Syn sabia que Zachary teria de ultrapassar rapidamente a sua paixoneta por Angelica, ela não pertencia ao híbrido.
Zachary lera o dossier dela nos arquivos da PIT, que a acompanhara desde o nascimento até aos dias de hoje. Os detalhes eram muito rigorosos e ao retirar essa informação da mente de Zachary, Syn ficara a saber que havia várias pessoas do passado dela, mais precisamente da sua infância, que mais tarde tiveram um destino muito desconfortável.
Syn prometera silenciosamente que os eliminaria da existência sem o conhecimento dela. Ela nunca mais conheceria a dor da rejeição ou de qualquer tipo de violação.
Syn observara, através dos olhos de Zachary, as memórias de Angelica a combater os monstros deste mundo e sabia que tinha sido por mera sorte que ela ainda estava viva. Ele tinha a certeza de que ela também sabia disso, embora, com a sua interessante perspetiva sobre o mundo, ela nunca o admitisse. O seu olhar deslizou até aos lábios dela, sabendo a verdadeira razão pela qual tinha vindo ter com ela esta noite.
Dobrando-se sobre ela, Syn apoiou suavemente as mãos na almofada de cada lado da sua cabeça e deixou os seus lábios pairarem de forma provocadora perto dos dela. Quando ela inspirou profundamente no seu sono, os lábios dele separaram-se e ele soprou levemente. Ele observou os fios prateados de energia a fluir dos seus lábios para os dela. Era a sua promessa: o presente de um deus-sol para conceder o sopro de vida à sua alma gémea para sua proteção. A partir de agora, qualquer lesão que ela sofresse seria curada tão rapidamente quanto surgia e ela deixaria de envelhecer.
Voltou a erguer-se e admirou-a com um olhar enternecido. Os seus cabelos louros escuros escorriam pelas almofadas, refletindo a luz suave do quarto. O brocado rico das almofadas fê-lo lembrar de quando a observou pela última vez a dormir na cama deles, no seu mundo de origem.
A palma da mão direita dela estava virada para cima, revelando a marca que ele lá tinha colocado. Já tinha começado a cumprir a sua função, despertando os poderes dela, e em breve o seu desejo por ele surgiria também.
Tentou mais uma vez ler-lhe a mente, mas a capacidade dela de o bloquear era tão forte nesta vida como tinha sido na vida passada. Deu por si cheio de ciúmes sabendo que Zachary podia ler a mente dela e ele não conseguia. Pensou um pouco nisso, mas chegou à conclusão de que isso tinha a ver com uma questão de confiança. Ela confiava em Zachary o suficiente para baixar a sua guarda perto dele. Ele planeava conquistar a mesma quantidade de confiança.
Se ela alguma vez lhe ensinou alguma coisa, foi que deveria ter uma quantidade obscena de paciência, coisa que ultimamente se apercebera que quase não tinha. Neste momento, os escudos mentais dela estavam altos, mas ele estava ansioso por ultrapassá-los e convencê-la a deixá-lo entrar outra vez. Agora que ela estava protegida pelo seu poder, teria todo o tempo que precisava.
Syn sentou-se na beira da cama e pegou no caderno para ver em que é que ela tinha estado a trabalhar. Uma sensação intensa de calma apoderou-se dele quando viu a sua imagem detalhada no papel. Ela já estava a chamar por ele e nem sabia.
Angelica sentiu movimento ao seu lado e abriu os olhos pensando que era Zachary. Só mesmo ele teria a lata de entrar no quarto dela enquanto ela dormia.
Piscou os olhos ao ver o homem de cabelo escuro que tinha acabado de desenhar, sentado na beira da sua cama a segurar no desenho que tinha feito. Angelica agiu por instinto, atirando-se na direção dele com a palma esticada para a frente para o exorcizar, como faria com qualquer outro demónio.
“Olá, esposa” – Syn agarrou-lhe no pulso, sem levantar os olhos do desenho, e terminou de o examinar antes de erguer o seu olhar de ametista escuro para encontrar o dela.
Angelica fixou a posição do cotovelo, tornando o seu braço tenso. Ela ergueu uma sobrancelha de forma elegante, decidindo ignorar o comentário da esposa. Os demónios tinham delírios.
Syn puxou-a abruptamente contra si, até ficarem apenas a poucos centímetros de distância, muito perto, mas sem se tocarem. Sem nunca baixar os olhos, ele levou a palma da mão dela até aos seus lábios e beijou o símbolo, que começou subitamente a brilhar.
Angelica parou de respirar durante alguns segundos. Sentiu que ele a tinha deixado em chamas com um movimento tão simples e sedutor.
“És um demónio muito estúpido” – tentou dizer, tentando afastar a sensação dos seus lábios da palma da sua mão.
“Não sou um demónio” – informou Syn. “E a tua magia nunca há de funcionar em mim.” Ele soltou o pulso dela quando o braço dela relaxou.
Angelica puxou lentamente a mão de volta. “Só porque tu o dizes não quer dizer que seja verdade.” Ela agarrou no pulso com a própria mão, tentando desfazer a sensação do toque quente dele. “Quem és tu?”
“Podes chamar-me Syn.”
Angelica sentiu arrepios de frio percorrer-lhe a coluna ao pensar nas implicações do nome. Já conseguia antever muitas formas pelas quais esse nome lhe assentava bem. “Muito bem, Syn, porque estás aqui?”
“No teu sonho…ou na tua cama?” Syn fez a pergunta com o espetro de um sorriso a acariciar os seus lábios perfeitos.
Sim, estava certa. Ele era completamente pecaminoso. Lembrando-se que todos os seus outros sonhos tinham sido pesadelos, Angelica olhou lentamente à volta do quarto e depois de novo para ele. “Não estou a sonhar… Senti-te a tocar-me....eu....senti os teus lábios tocarem na minha mão.”
“Só porque estás a sonhar, não significa que não seja real.” Syn troçava de forma charmosa da sua afirmação anterior.
O olhar de Angelica estreitou-se quando ele arrancou o desenho que ela tinha feito do seu bloco. Enrolou-o cuidadosamente, em vez de o dobrar, e colocou-o dentro de um bolso fundo no forro interior da sua gabardine. Ela não pôde evitar observar o movimento das mãos dele. Pareciam tão suaves e puras, como os livros de história descreviam as mãos da realeza. Finalmente, ela olhou de novo para o rosto dele e franziu as sobrancelhas ao ver indícios de um sorriso.
“Porque é que estás aqui afinal?” – exigiu ela saber.
“Para manter os pesadelos afastados enquanto dormes” – respondeu Syn e inclinou-se contra o poste da cama atrás dele. “Descansa esta noite, Angelica, não vais ter pesadelos nem demónios a assombrar-te o sono.”
Angelica sentou-se na cama, com o sol já a entrar pela janela da varanda. Já era de manhã. Olhando para o fundo da cama, inclinou-se para a frente e pousou a mão no sítio onde Syn tinha estado sentado. Não havia sinal de que ele tinha estado ali e Angelica respirou fundo. Afinal tinha mesmo sido um sonho.
Lançando as pernas para o lado da cama, levantou-se e ouviu algo a cair para o chão. Pegou no seu bloco e ia fechá-lo, mas depois parou ao lembrar-se do sonho.
Voltando a abrir o bloco, folheou as páginas e parou quando viu que o desenho que tinha feito na noite passada tinha desaparecido. No seu lugar, estava um bonito desenho a lápis dela a dormir naquela mesma cama. Tinha sido feito com os mesmos detalhes suaves com que ela fizera o dele. Na imagem, a mão dela estava relaxada junto ao rosto e ela reparou no símbolo lá desenhado. Sob o desenho, estava o nome ‘Syn’ escrito numa elegante caligrafia.
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Tabatha estacionou o carro no lugar de estacionamento VIP do Moon Dance e saiu. Ajustando o seu vestido curto, enfiou as chaves na pequena carteira e aproximou-se da porta da frente. Estava farta de se esconder naquele apartamento