Dawn Brower

Apaixonada Pelo Espião Americano


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fechou os olhos. Victoria pensou que seria só por alguns instantes, mas a exaustão levou a melhor.

      – Bela adormecida – disse um homem. A voz dele era rouca, mas carregava um pouquinho de humor. – Eu a beijaria para que acordasse, mas temo não ter forças para me mover.

      Victoria se sentou e se espreguiçou. Cada músculo do seu corpo doía.

      – Eu não pretendia dormir.

      – Eu não pretendia levar um tiro – ele rebateu. – Mas, às vezes, algumas coisas não podem ser evitadas, não importa o quanto tentemos. – Ela franziu o cenho.

      – Isso não é engraçado. – Ele riu e arquejou por causa do esforço.

      – Você está certa, não é, mas preciso ao menos tentar aliviar a atmosfera. – O sorriso de William sumiu enquanto ele encontrava o seu olhar. – Senti saudade.

      Ela afastou o olhar. Por que teve que se apegar a este homem?

      – Por que você está usando uniforme francês? – Eles tiveram que cortar um bom pedaço dele. Tudo o que ficou foi a calça.

      Ele suspirou.

      – É complicado.

      Victoria temia saber exatamente o que ele não estava dizendo com aquelas palavras. William era um espião. Parecia um pouco fantasioso, mas era a única coisa que fazia sentido. Por que mais um americano estaria na guerra quando não tinha nenhuma razão para estar?

      – Posso ver. – Ou ele era muito corajoso ou incrivelmente idiota. De alguma forma ela acreditava que um pouco dos dois. Mas, mesmo assim, respeitava-o por seus esforços. Aquela era uma guerra terrível e sem sentido. Bem, todas as guerras eram sem sentido, mas isso não vinha ao caso. Era naquela guerra que eles estavam e as outras não significavam nada para ela. Eram história e pareciam fictícias. William tinha um papel que podia ajudá-los a vê-la acabar mais cedo que mais tarde. Entendia os motivos por trás de se ter espiões. Mesmo odiando a guerra, não odiava a ele. Cada pessoa tinha um papel a desempenhar e não iria depreciá-lo pelo o que ele tinha que cumprir.

      – Tenho certeza que sim.

      – Eu lhe prometo – começou ela. – Entendo muito mais do que pode imaginar. – Victoria prendeu o olhar dele. – Estamos na guerra, e vi muitas coisas desde que nossos caminhos se cruzaram. – Fazia menos de seis meses que o vira, mas parecia fazer uma vida. Ela se endurecia um pouco a cada vez que ajudava em uma cirurgia. E tinha visto tanto, tanto sangue. Victoria não pensava que alguma vez seria capaz de apagar tudo o que vira, não tão cedo. Esses eventos poderiam muito bem assombrá-la pelo resto de seus dias…

      Ele fez que sim.

      – É melhor não falarmos disso. – William parecia entender. Aquilo era bom.

      – Manterei meus pensamentos para mim mesma. – Ela ficou de pé e olhou para ele uma última vez. – Descanse. Você precisa sarar.

      Victoria se afastou dele. Já tinha fortes sentimentos pelo homem, e se passasse muito mais tempo com ele, acabaria se apaixonando, e se apaixonar por um espião… aquilo só levaria à miséria. Muitos espiões não voltavam da guerra, e os que voltavam, nunca mais eram os mesmos.

      Dezembro de 1915

      William puxou o casaco e o abotoou. Precisava ir a um lugar, e faltava meio dia de caminhada para chegar ao seu destino. Tinha a sensação de que seu colega espião estava fazendo o mesmo. Quando lorde Julian Kendall o visitara em Nova Iorque, William não percebera que o cavalheiro era parte da rede de espiões britânica. Aquela informação teria sido útil. Poderia ter feito algumas perguntas pontuais ao amigo e talvez exigido que ele ficasse longe de sua irmã, Brianne. Odiava pensar em sua irmã se apaixonando por alguém que estava sempre se colocando em perigo.

      – Para onde você está indo? – perguntou Julian.

      William ergueu uma sobrancelha.

      – Paris.

      – Oh, mesmo? – disse Asher, o marquês de Seabrook. – Estamos dando as ditas pernadas um no outro?

      Ele riu e respondeu:

      – Mais ou menos… estou indo para um hospital de campanha para visitar certa enfermeira que eu vim a, bem, não sei as exatas palavras para definir o que sinto por ela.

      – Ash pode imaginar – disse Julian. – Eu mesmo não me interesso por enfermeiras. – Ele bateu continência para William. – Boa caçada, meu amigo. Eu o acompanharia, mas preciso me certificar de que este tolo chegue vivo a Paris. Ele se mete em problemas com muita frequência.

      William meneou a cabeça.

      – Se precisarem de mim.

      – Sabemos como encontrá-lo – respondeu Julian. – Vá ver a sua enfermeira. Já, já chegará o Natal, e não queremos perder o tempo que nos resta em algo tão idiota quanto a guerra. Há coisas que são muito mais importantes.

      William, naquela hora, quis perguntar o que ele sentia por Brianne. Será que Julian amava a sua irmã? Mas segurou a pergunta. No futuro haveria mais tempo para interrogar seu amigo. Julian era um bom homem, e se não fosse pela guerra, teria ficado feliz se ele cortejasse sua irmã. Mas já que estavam em uma guerra, queria que Julian se mantivesse à distância. Era egoísmo de sua parte querer passar tempo com Victoria, e não permitir que Julian tivesse a mesma oportunidade. Embora devesse admitir que o amigo parecia muito triste ultimamente. Julian não parecia mais ter aquela alegria interior que costumava ter. William imaginou o que aconteceu com ele, mas se Julian quisesse que ele soubesse, ele já teria confessado.

      Não podia deixar de pensar sobre o lugar para onde estava indo ou se a missão se provaria perigosa. William continuou em frente com um único objetivo em mente: ver Victoria.

      – Alto – gritou alguém, em alemão. William xingou baixinho. Aquela era a sua sorte, e é claro que ele estava usando um uniforme francês. Ainda faltava uma hora e meia para chegar ao hospital de campanha.

      Virou-se lentamente e encontrou o olhar do soldado alemão. Ele segurava uma pistola, e ela estava apontada diretamente para William.

      – Não nos apressemos – disse ele ao homem. – Eu não quero ser alvejado hoje.

      Uma litania em alemão saiu da boca do soldado. O entendimento que William tinha da língua era bem limitado. Julian entendia muito mais que ele. Havia uma razão para William não sair da França com frequência. Ele era melhor no francês e no italiano. Deveria tentar arranhar o alemão se esperava que essa coisa de espionagem desse certo.

      – Infelizmente, não entendi absolutamente nada – disse ao soldado, e deu um passo à frente.

      Ele cuspiu mais algumas frases, mas dessa vez as falou com raiva. William ficou farto e fechou a curta distância entre eles. Eles lutaram pela arma, e ela disparou um estampido alto. Aquilo traria mais soldados. William tinha que pôr um fim à refrega e sair dali o mais rápido possível. Deu uma cotovelada no estômago do soldado, e ele se curvou.

      O homem puxou uma faca e a brandiu em direção a William, mas não foi rápido o bastante. Ela lhe deu um talho no flanco e uma dor aguda o invadiu. William gemeu e o socou no nariz. O soldado caiu, e William o chutou com força, então o socou na cara mais uma vez. Os olhos dele rolaram, e o homem perdeu a consciência. William soltou um suspiro de alívio e correu o mais rápido o possível para longe dele. Quanto mais se afastasse do soldado, melhor.

      Assim que se sentiu seguro, diminuiu o ritmo e começou a andar mais devagar. O flanco doía por causa do ferimento, mas não parou para ver o estado dele. Victoria iria costurá-lo assim que ele chegasse.

      William correu para o hospital de campanha no qual Victoria estava baseada assim que o viu. Fazia sete meses desde que a vira pela última vez, e mal podia esperar para tê-la nos braços. Ela tinha sido muito atenciosa quando foi sua enfermeira. Tinha até mesmo ralhado com ele alguma vezes por ter conseguido levar um tiro. Ela era maravilhosa, e ele a adorava. Victoria não ficaria feliz quando visse que