Dawn Brower

Apaixonada Pelo Espião Americano


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era meio estranha. Ela lhe dizia as coisas mais esquisitas de vez em quando. Era quase como se ela pudesse prever o futuro… Uma parte dela queria perguntar, sem fazer rodeios, se ela podia, mas Victoria tinha medo de saber. Não queria estar a par do que o futuro lhe reservava.

      Hoje fazia um dia bonito. O hospital estava indo bem, e eles deram alta a vários pacientes. Victoria tinha um pouco de tempo para si pela primeira vez em… bem, não podia se lembrar da última vez. Então decidiu passear por Paris enquanto a cidade estava calma e aproveitar o calor do dia de primavera. Podia não haver mais muitos dias como aquele. Não podia deixar de imaginar o que William estava fazendo. Será que ele também estava aproveitando o dia?

      – Victoria – um homem gritou o seu nome. Ela se virou e viu William caminhando até ela. Ele usava roupas simples, um terno que um cavalheiro poderia estar usando, e parecia muito bem nele. William estava se tornando meio que um camaleão.

      – Olá – disse ela, um pouco sem fôlego. Queria envolver os braços ao redor dele e se certificar de que ele era real. Que não estava imaginando que ele passeava por Paris. Ela o conjurara ao pensar nele mais cedo? É claro que não… acreditar naquilo seria uma bobagem. – O que faz em Paris?

      – Tenho uns colegas que veem aqui com frequência. Vamos nos encontrar em breve. – Ele sorriu para ela. – Mas encontrá-la aqui era uma bênção que eu não esperava.

      – Um, sim – disse ela, desinteressada. Victoria queria ficar feliz por vê-lo, e parte dela estava, mas não podia deixar de temer o que futuro deles, isso se tivessem um, poderia trazer. Ele ainda era um espião. Voltou a colocar a mão no bolso e passou os dedos pelas cartas. Seu coração nunca o deixaria ir, não de verdade, e isso fazia com que ela fosse ainda mais tola. Tinha cometido a bobagem de se apaixonar por ele à medida que se conheciam mais e mais. – Estou feliz por ver que você está bem. – Ela meneou a cabeça para ele e então se virou para ir embora. Foi a coisa mais difícil que já fez na vida.

      Ele ergueu a mão e a colocou no braço dela.

      – Não vá.

      – Queria poder ficar, mas o hospital me espera. – Não podia olhar para ele ou nunca seria capaz de ir embora. William não sabia que ela estava mentindo. O hospital ficaria bem sem ela por mais algum tempo, mas não podia ficar perto dele. Não seria capaz de resistir por mais tempo. – Talvez possamos nos ver novamente, mais tarde.

      Ele franziu o cenho.

      – Você ficará trabalhando no hospital daqui? Nada mais de hospital de campanha?

      Ela tinha sido mandada de um hospital de campanha para outro. Eles até mesmo tinham começado a parecer serem o mesmo, e sua mente tinha ficado insensível a toda a carnificina que testemunhara. O único que a fazia sentir qualquer coisa era William.

      – Faz um mês que estou aqui. É duro estar nos hospitais de campanha – confessou. – Precisava de uma mudança.

      – Não tenho certeza se há um lugar bom para se ficar durante a guerra. Mas deve ser um pouco mais seguro aqui em Paris. Se eu voltar a escrever, você responderá?

      Ela queria dizer que sim. Tanto…

      – Não sei se é uma boa ideia. – Victoria precisava tentar proteger o coração. Não podia continuar sendo arrastada para essa coisa com ele. Um medo ela conseguiria afastar, mas dois… Aquilo foi o suficiente para fazê-la perceber que se o perdesse, não conseguiria sobreviver. O ferimento a faca tinha sido simples, mas a assustou até a morte. Nenhum número de cartas a deixaria pronta para encarar algo assim novamente. Era melhor abrir mão dessa história agora antes que as coisas ficassem sérias demais. Ela fechou os olhos e engoliu em seco. Tinha tantos sentimentos por este homem, sentimentos os quais não podia nem começar a tentar entender. – Além do mais, você raramente fica em locais onde as cartas chegam.

      – Eu sei – disse ele, baixinho. – Mas eu não quero perder essa conexão…

      Seria difícil, de início. Perceber que não receberia mais cartas dele ou que eles nunca mais teriam encontros como esse. Ela o adorava. Sentia muita dor por ter que fazer isso. Terminar tudo… seria melhor para os dois. A guerra exigia demais deles, e de formas diferentes. Se quisessem ter a chance de sobreviver, precisariam manter a mente no trabalho que tinham em mãos. O dele era muito mais perigoso que o seu. William poderia morrer se cometesse um erro. Outros morreriam, se ela os cometesse… fazia aquilo pelos dois. Talvez, depois que a guerra acabasse, eles possam se encontrar novamente, mas não se agarraria àquela esperança.

      – Você já perdeu – disse ela, firme. Foi duro, mas tinha que deixar o rompimento às claras. Se ao menos pudesse ser forte o suficiente para queimar as cartas. Elas não manteriam aquele relacionamento improvável funcionando. Aquilo não os levaria a lugar algum. – Por favor, deixe-me em paz.

      William se aproximou um pouco mais dela e colocou a mão em sua bochecha. Ela se entregou, refastelando-se no calor que envolvia o seu rosto.

      – Se nunca mais vou vê-la, gostaria de algo para me lembrar de você. – Ele se abaixou e pressionou os lábios nos dela. Foi um beijo breve, mas enviou arrepios por sua coluna. Victoria queria beijá-lo de novo e de novo e de novo. A sensação dos lábios dele nos seus a fazia querer mais, e daria qualquer coisa para viver aquele momento para sempre. Por um breve instante, ela foi capaz de fingir que eram um casal normal e que tinham a chance de um relacionamento normal. Mas aquilo nunca iria acontecer. O amor não era para eles, e já era hora de ela aceitar aquilo. Mas aquele beijo… ele mudou tanto e tão pouco ao mesmo tempo.

      Como poderia esquecê-lo agora? A quem estava enganando? Victoria nunca teve uma chance de apagar William da sua mente. Ela o amava, e não havia como evitar aquilo.

      Ele ergueu a cabeça e então deu meia-volta, caminhando, a passos lentos, para longe dela. Seu coração tremeu como se tivesse se partido em tantos pedaços que não haveria como juntá-los novamente. Ela prendeu o fôlego. Ele realmente lhe daria ouvidos e partiria? Ele não queria lutar por ela, por eles, pelo que eles poderiam viver juntos?

      Ele não fez nada daquilo. William respeitou os seus desejos, e ela o adorava ainda mais por isso. Victoria queria gritar. Exigir que ele voltasse, que a segurasse em seus braços. Queria que lhe garantisse que tudo ficaria bem, mesmo ela sabendo que nunca mais estaria. Tinha feito a sua escolha, e teria que conviver com ela.

      Uma lágrima rolou por sua bochecha. Secou-a rapidamente e começou a ir em direção ao hospital. Era hora de seguir em frente e fazer o seu melhor para não pensar sobre como teria sido estar com William. Embora ela o tivesse afastado, ainda esperava que um dia voltariam a se encontrar. Victoria orou, que aquele dia, se chegasse, não fosse tarde demais para eles.

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