Rebekah Lewis

No Olho Do Furacão


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e crianças curiosas tinha feito um círculo em volta do ator vestido como, é… um pirata. Espada, pistola, botas gastas na altura do joelho, casaco longo e marrom com botões dourados que brilhavam sob a luz. O pelo facial que crescia no rosto dele não era bem uma barba, mas não estava muito longe de ser. O cabelo louro era longo e parecia ondulado por causa da água do oceano e do vento. Anéis cobriam os seus dedos e quando ele virou a cabeça, a pequena argola que adornava a orelha brilhou à luz.

      Tá de sacanagem.

      Mas que clichê. Tudo o que faltava era um ventilador em algum lugar soprando o cabelo e o casaco enquanto ele tirava fotos estilo capa de romance com as suas ávidas admiradoras. Ele era lindo, ela tinha conseguido um vislumbre dele, mas nem morta se aproximaria daquela horda, não se pudesse evitar.

      Estava quase se afastando mais uma vez quando notou que o pirata não estava sorrindo. Em vez disso, ele estava acuado perto da parede, como se estivesse prestes a colocar sua espada meio-que-realista-demais entre os dentes e escalar o casco do navio. Talvez ele não tivesse sido avisando de que não teria apenas crianças obcecadas com piratas, mas mulheres salivando pelo romantismo difundido pela cultura pop também.

      Afff. Piratas românticos. Ela revirou os olhos. Faça-me um favor. Eles eram canalhas maliciosos e sujos cheios de dentes podres e sem nenhuma moral. Óbvio, Hollywood fazia com que fossem atraentes, mas piratas de verdade não eram sexys. Não eram modelos cheios de lápis de olho e com roupa de couro igual àquele cara da série Once Upon a Time. Eles eram criminosos. Mesmo quando encaixados nas áreas nebulosas, crimes ainda eram crimes no final das contas.

      Ainda assim, Serena não conseguiu não se simpatizar com o cara enquanto ele olhava, com cautela, para a multidão. Pois bem, pirata. Ela deu de ombros. Multidões eram uó. Pessoas demais pairando com seus olhares curiosos e julgadores… Não. Simplesmente… não. Preferia saltar numa piscina de ácido. Infelizmente, por ser adulta, não conseguiria escapar das responsabilidades com facilidade. Principalmente porque precisava pagar as contas. O trabalho maçante no arquivo do enorme escritório de advocacia era perfeito para ela. Ela tinha a própria sala, não precisava ver os clientes e podia evitar pessoas durante a maior parte do dia.

      Também era o trabalho mais chato da face da terra, por isso os amigos lhe deram um cruzeiro como presente de aniversário. Uma aventura muito necessária, eles disseram.

      Serena bufou quando uma mulher se atirou no cara, agarrando-se a ele com força. Os olhos do pirata se arregalaram e ele baixou lentamente os olhos para a mulher agarrada a ele como uma estrela-do-mar e pigarreou. Ele embainhou a espada meticulosamente e tentou afastá-la. Era óbvio que ele não tinha bancado o pirata antes. Talvez fosse a estreia dele, o que era estranho considerando que o cruzeiro estava chegando ao fim. Naquele momento, ele parecia quase uma alma irmã; uma vítima de uma multidão que não queria deixá-lo em paz.

      Os poucos amigos que tinha a ajudavam quando as pessoas, em geral, sobrecarregavam-na. Talvez fosse o que ela devesse fazer no seu aniversário: devolver o favor. Respirando fundo, Serena se preparou para o inevitável horror de falar com pessoas que não conhecia. O carma pela boa ação deveria dar uma guinada na sua sorte, era o mínimo a se esperar.

      – Ok, pessoal, ok. Abram caminho. O capitão, é, Morgan voltará amanhã. Ele precisa ir alimentar o papagaio. – Serena pegou o pirata pelo braço e o puxou apesar das reclamações da multidão de que não havia um papagaio de verdade. O couro grosso do casaco dele era macio ao toque, o braço ali embaixo era quente e forte. Ela tremeu, e não foi de frio. Muito pelo contrário. Ele não se mexeu, e o calor subiu pelo pescoço e pelo rosto dela. Esperava que não tivesse feito algo que acabaria em humilhação. Odiava passar vergonha em público. Não lidava muito bem com essas ocasiões, o que divertia muito os seus amigos.

      Em vez disso, ele encarou a sua mão e então foi subindo lentamente o olhar, viajando do braço até o seu rosto. O contato visual a atingiu como uma bala de canhão, um golpe certeiro que destruiu a sua decisão e a deixou nua enquanto o mundo ao redor deles se estilhaçava nas profundezas da sua percepção. Como se tivesse experimentado o mesmo que ela, os lábios dele se entreabriram. Então um sorriso presunçoso ergueu um dos cantos da boca do cara e ela engoliu em seco enquanto a realidade dura e fria voltava com toda intensidade. Não havia dúvida de que ele tinha a aparência de um malandro temerário, e Serena temia que não fosse tão imune àquilo quanto desejava.

      – Oh, meu Deus. Aquele olhar – disse uma mulher do meio da multidão, quebrando o que restava do que quer que fosse aquele feitiço que amarrou Serena e o pirata por um instante. – Ali está. Saqueie-me, pirata! Saqueie-me com força! – Risadinhas e arquejos escandalizados da multidão fizeram Serena sair da inércia enquanto um garotinho perguntava em voz alto o que significava saquear, e muitas risadas sem graça foram ouvidas.

      – Certo – adicionou Serena quando o homem não colaborou. O coração batia com força no peito, e a respiração ficou mais rápida por causa do pânico causado pela atenção dele e das pessoas que tinha sido focada nela. – Você pode vir comigo ou ficar com eles. A escolha é sua. – Precisava escapar dali antes que começasse a hiperventilar. Estava se fazendo de boba. Ele não precisava da sua ajuda, e ela tinha presumido algo que não deveria.

      O pirata olhou para as mulheres e para as crianças com desdém, só pareceu lembrar da presença deles quando se virou para ver o que a fizera parar de olhar para ele, o que criou ainda mais tumulto. Ele se inclinou para pegar uma sacola velha e suja e a jogou sobre o ombro antes de fazer sinal para que Serena fosse na frente. Ela se virou, seguindo para o corredor de onde tinha vindo sem sequer esperar para ver se ele a seguia.

      Podia ouvir a multidão às suas costas começar a se dispersar, e assim que eles viraram no corredor, sozinhos, o capitão Morgan a fez parar. Ele a pegou pela mão e levou as juntas dos seus dedos aos lábios, beijando-as levemente.

      – Preciso lhe agradecer, amor, pelo audacioso resgate.

      Sentiu um frio na barriga que a fez tremer. Ele tinha um sotaque inglês que era influenciado pelas inflexões das ilhas caribenhas. Uma cacofonia de dialetos dentro de um único e delicioso timbre de voz masculina. Ótimo. Agora eu sou uma das adoradoras do pirata.

      – A seu dispor. – Ela puxou a mão da dele e brincou, desconfortável, com uma mecha de cabelo. – Olha, você precisa melhorar sua lengalenga para amanhã, ou eles vão te comer vivo.

      O capitão Morgan franziu o cenho.

      – O que diabos é esse lugar? Um navio gigantesco cheio de canibais?

      – O quê? – Ele só poderia estar brincando, mas a expressão horrorizada dele logo a fez adicionar – Oh, não. Não. Eu não quis dizer que eles o comeriam vivo literalmente falando. Eu quis dizer figurativamente, como em uma figura de linguagem. – Serena esperou que ele risse, que batesse no ombro dela de brincadeira e dissesse “sacanagem”. Mas ele não fez isso. Maldição. Ele estava realmente imerso no personagem agora que não estava sendo assediado. Deve ter sido medo de palco.

      O pirata percorreu o seu corpo com os olhos aquecidos, observando as coxas nuas por baixo do seu short jeans e se demorou no lugar onde a blusinha floral deixava à mostra um pedaço de barriga. Ele lambeu os lábios, e Serena teve que afastar o olhar e respirar fundo. Por que não estava vestido calça e casaco? Que se danasse a temperatura de 35ºC.

      O corredor era estreito, e o homem tomava a maior parte do espaço. O quarto dela era perto da proa do convés superior, e a vontade de fugir começou a ter certo apelo. Um homem nunca a olhara com tanta fome antes, e ela não sabia como agir como se não tivesse notado. Com certeza não iria encorajá-lo e fazer com que ele esperasse por algo que ela não estava disposta a dar. Bem, estar disposta não era bem a questão. Na verdade, a questão era a ação. O que a deixava com nenhuma outra opção que não fosse recuar. Era mais seguro. Nada de passar vergonha ou de ter conversas embaraçosas.

      Conhecer pessoas novas sempre foi difícil para ela, especialmente quando essas pessoas eram homens. Todas as coisas engraçadas que ela diria em uma conversa normal não aconteceriam até que ela repassasse toda a conversa em sua mente mais tarde. Assim que as