os olhos, ela se deitou na cama e descreveu Christophe, deixando de fora o jeito como eles se separaram, esperando que a amiga não percebesse o quanto tinha sido afetada por aquele homem.
– Você. Beijou. O. Cara? Estou tão orgulhosa! – Dava para perceber só pela voz que ela estava pegando no seu pé.
– Hum… não fique. Ele é um idiota, e não vai voltar a acontecer. – Infelizmente, o corpo não estava concordando com a mente. E ela se inquietou, precisando parar de imaginar as mãos dele, os lábios, ou os olhos azuis tão fixos nela e prometendo coisas sujas sobre as quais só um pirata poderia saber tanto.
Um suspiro exasperado veio do outro lado da linha.
– Você nunca mais o verá depois que voltarmos. É seu aniversário, e essa aventura não vai terminar em casamento ou em bebês, caso você use camisinha. Vá se divertir e depois dê um perdido nele. Parando para pensar, essa coisa de brincar de pirata é excitante pra caralho. Você pode pedir para ele te amarrar e te ameaçar a andar pela prancha caso você se negue a entregar os espólios.
Aquilo nunca iria acontecer. Perturbada, ela pigarreou antes de começar a fantasiar com tudo o que Becky Ann tinha dito.
Serena não era extrovertida, e de jeito nenhum usaria alguém para fazer sexo e então agir como se nada tivesse acontecido. Não estava no seu sangue. Gastar tanta energia com um cara com quem queria ter intimidade significava que ela se jogaria de cabeça, e as primeiras impressões não foram muito favoráveis para Christophe. Ela sequer sabia por que estava deixando Becky Ann colocar essas ideias na sua cabeça.
Ele é muito atraente. Se não fosse aquele fiasco…
Para!
Alguém falou no fundo da ligação e Becky Ann disse que precisava desligar. Depois de prometer esperar por ela para desembarcarem na minha seguinte, Serena desligou. Momentos mais tarde, brincando com os dedões e tendo pensamentos indecentes sobre o homem que a insultara, ela gemeu e rolou para fora da cama.
Christophe era o culpado por ela estar inquieta e sem poder dormir mesmo se tentasse. Não tinha trazido um livro porque acreditava que Becky Ann estaria com ela durante a viagem toda, e elas se divertiriam muito para que tivesse tempo de ler.
O relógio mostrava que faltavam quinze minutos para a uma da manhã. Os bares estariam abertos, e uma boa taça enorme de algo feito com rum iria relaxá-la o bastante para que dormisse. Não estava desejando rum só porque ainda sentia o gosto da bebida na língua depois de ter beijado Christophe. Era só que gostava de rum, e aquele era um cruzeiro pelo Caribe, afinal de contas.
Serena pegou a chave, abriu a porta e foi para o corredor. Não havia ninguém lá. Só para garantir, seguiu pelo lado oposto do que Christophe tinha ido e seguiu para o bar da piscina. Ainda tinha vários drinques de crédito na conta do cruzeiro e planejava fazer um estrago antes de ir para a cama. Sozinha.
Seu companheiro uniformizado não falou muito, mas Christophe achou bom. Sem saber qual era a patente do homem, observou a parte de trás da cabeça dele. O cabelo escuro era curto, e o uniforme muito branco contrastava com o tom mais escuro da pele. O uniforme era bem diferente de qualquer um que ele já tinha visto, e, em vez de botas, ele usava um calçado mais simples, e branco. Nenhuma arma estava a vista, mas uma estranha caixa preta estava presa na camisa dele.
O homem irradiava autoridade, no entanto, e foi isso o que deteve Christophe. Tinha certeza de que não estava em um navio que pertencesse às colônias ou à Inglaterra, pois nada parecia familiar. Mas até descobrir onde estava e onde pretendiam aportar, não presumiria nada. Não depois do que aconteceu com a rapariga mais cedo. Suas circunstâncias viriam à luz em algum momento.
Era o que esperava.
Uma porta se abriu e a cabeça de uma mulher mais velha com a pele escura e cabelo grisalho apareceu.
– Josiah Baker, eu não disse que estava te esperando para… – a voz dela foi se apagando e ela estudou Christophe da cabeça aos pés. – Quem é esse? – Ela devia ser a mãe de Josiah. Era difícil saber se eles eram parecidos, já que a idade tinha mascarado as feições dela.
O homem colocou a mão no ombro da senhora enquanto ela se atrapalhava no corredor segurando a bengala com força na mão esquerda, um anel de diamante no dedo anelar. Com certeza não era um navio das colônias. Ele suspirou aliviado por causa da evidência da relação deles. Suspeitava que o trabalho de Josiah no navio era pago, como qualquer trabalho deveria ser. Aqueles que trabalhavam como criados mereciam salário e também o privilégio de poder dizer que a vida era deles. Durante o breve tempo que passou nas colônias, aquele não tinha sido o caso, suspeitava que o que acabou o colocando em um navio pirata sob servidão forçada foram os discursos que fez contra a escravidão em mais de uma ocasião.
– Mãe, não posso sentar e conversar contigo antes de o meu turno acabar. Ainda faltam vinte minutos. – Josiah não tinha o sotaque forte como o da mãe, mas eles tinham uma leve semelhança em seus traços. Com base nos ossos malares, a mãe dele deve ter sido muito bonita quando jovem.
Christophe fez uma mesura.
– Christophe Jones, senhora. É um prazer. – Ele deu uma piscadinha para ela enquanto se punha ereto, e Josiah fez ainda mais careta. A Sra. Baker semicerrou os olhos e se aproximou. Ela levou as duas mãos ao rosto dele e moveu, gentilmente, o queixo dele para lá e para cá. Ela arfou e deu um passo para trás.
– Mãe! – Josiah passou um braço em volta dos ombros dela. – A senhora está bem?
Mas ela não deu atenção ao filho. Ela olhava para Christophe e o assombro impregnava a sua voz.
– Sua aura está errada. Assim como nas histórias, mas… eu nunca acreditei muito nelas. Esse não é o seu tempo, é?
Ele riu, mas os outros dois olharam para ele como se ele tivesse interrompido o funeral de alguém.
– A senhora está falando sério? – Sobre ler auras e não ser a época dele? Loucura. Embora… ele tinha mesmo sido arrastado para uma nova terra, mas só que ele estava no mar, e viagens no tempo não eram uma possibilidade. – Isso é absurdo. – Seu sotaque adaptado desapareceu. Ele era da Inglaterra, originalmente, mas usava um pouco de entonação caribenha para que pudesse se encaixar melhor a bordo do Calypso. Continuou usando-o naquele navio estranho, maior do que qualquer coisa que já tinha visto ou sabido que existia, porque tinha se acostumado com ele depois de um tempo. De alguma forma, não achava que precisava escondê-lo por mais tempo. Não tinha certeza do porquê.
A mulher mais velha deu um sorriso cálido.
– Alguma coisa aqui faz sentido para você? A eletricidade, por exemplo?
– O que é… eletricidade? – A palavra estrangeira soou estranha em seus lábios.
Josiah abriu a boca e a mãe bateu no joelho dele com a bengala.
– Cale-se. Você não vê que esse homem não faz ideia de onde ou quando ele está? – Ela apontou para as luzes sem chama. Christophe tinha parado de prestar atenção nelas, pois elas o deixavam muito confuso, assim como a estrutura do navio, e as roupas, e o palavreado, e todo o resto. – Eletricidade é uma fonte de energia que usamos para criar luz, ou para cozinhar, ou aquecer a água do banho. Entre outras coisas.
– A senhora está falando como se fosse doida – disse Josiah entredentes, inclinando-se para esfregar o joelho.
Christophe queria concordar com ele. Tudo aquilo soava totalmente insano. Seu primeiro impulso foi rebater o que ela quis dizer. Poderia o vapor criar o efeito da iluminação sem uma chama? Ainda assim, quanto mais pensava nas luzes, mais temia que aquela fosse uma substância misteriosa que ele não entendia. Um cordão de luzinhas não muito maiores que vagalumes decoravam o convés superior e ele tinha ficado impressionado por elas não piscarem ou voarem como os insetos. Assim que a bela mulher o distraíra, ele foi capaz de se concentrar nela e não no pânico causado pelos arredores. Agora, sem