Brenda Trim

Cativeiro


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tinha a sensação de que aquela porcaria estava prestes a atingir o ventilador e que ela se encontrava em pé, na frente dele, coberta de estrume.

      Capítulo Três

      

      — Entre — vociferou Jim, por detrás da porta fechada do escritório.

      Liv se encolheu com a voz rude e tentou decifrar o humor dele. Não queria ser questionada sobre o que viu com os shifters. Havia ficado obsessiva com o encontro da tarde anterior e a tequila não ajudou em nada além de lhe dar dor de cabeça. E ela que pensava que era de uma marca decente. Então, mais uma vez, elas beberam a garrafa inteira.

      Desistindo de seu exame, Liv abriu a porta e foi recebida por uma expressão solene. Aparentemente, ele estava irritado. Não era o dia certo para chegar ao trabalho sem ter dormido e de ressaca.

      Entre o incidente no laboratório, a bebida e a mensagem de texto de seu chefe, ela não havia fechado os olhos. Tomou três xícaras de café antes de sair de seu apartamento, esperando que isso a ajudasse a se concentrar. Infelizmente, ao ouvir a agitação de Jim, havia uma alta probabilidade de vomitar o café.

      A grande questão era se Jim estava ciente do possível duplo homicídio e, mais importante, se ele sabia que ela os havia testemunhado. Ela fechava e abria os punhos ao lado do corpo, enquanto seu coração dava a impressão de ser um boneco de molas em uma caixinha de surpresas, pronto para saltar do peito a qualquer momento. O suor escorria por sua espinha enquanto ela caminhava em direção à mesa dele.

      — Bom dia, Jim. Espero não tê-lo deixado esperando — gaguejou, odiando o tremor em sua voz.

      Se o cara não soubesse os detalhes da noite anterior, em breve saberia. A culpa devia estar estampada em todo o seu rosto. Ela sabia que sua expressão gritava: estou escondendo algo, em grandes letras de néon. Ser evasiva e usar de subterfúgios não eram seus pontos fortes.

      Mesmo quando criança, Liv não conseguia escapar através da mentira. Uma declaração acusatória e ela cederia, contando tudo e confessando seus pecados. É claro que, quando criança, seus pecados consistiam em não escovar os dentes antes de dormir, roubar um biscoito ou não terminar o dever de casa.

      Agora, ela havia avançado para crimes muito maiores, envolvendo brutalidade e assassinato. Não havia participado, mas ficou inerte enquanto um shifter estava sendo brutalizado e depois viu o homem retaliar, tirando vidas.

      Oh, inferno. Liv não considerou o que isso poderia significar para ela. Poderia ir para a cadeia? Ela se amaldiçoou por não ter chamado a polícia. O que a polícia faria com ela por permanecer calada? Isso fazia dela uma cúmplice? Oh, Deus, ela seria presa.

      Sua mente girava com as possibilidades. Havia se prendido à ideia, na noite anterior, de que Jim iria lhe poupar, e agora ele a demitiria e, depois, a entregaria à polícia.

      Sua respiração ficou irregular e a cabeça girou. Droga, ela precisava se sentar antes de desmaiar. A bebida cafeinada chacoalhava e agitava seu estômago. Ugh. Graças a Deus, ela não havia conseguido comer nada de substancial naquela manhã ou estaria jogando-a na cesta de lixo de Jim antes que ele pronunciasse a primeira palavra.

      — Bom dia. Estou aqui há um tempo, mas não por sua causa. Obrigado por vir em um domingo. Por favor, sente-se — ofereceu, com um gesto rápido para a cadeira em frente à sua mesa.

      Liv caminhou até a poltrona de couro preto e sentou-se.

      — Cuidei do problema do ar condicionado que você me relatou em uma mensagem ontem. Espero que não tenha sido muito difícil trabalhar. Conseguiu fazer alguma coisa? — continuou Jim, erguendo uma sobrancelha curiosa.

      O homem forte estava sentado atrás de sua grande mesa, com os braços cruzados sobre o peito. Ele era grande e corpulento, para não dizer intimidador.

      Era sério que ele a chamara para perguntar sobre trabalhar no calor? Ele sabia que não devia questioná-la. Ela havia sido a funcionária do mês mais vezes do que se lembrava. Fugir dos deveres não fazia parte da composição genética de Liv.

      Ele estava testando-a para ver o que ela sabia? Os olhos azuis escuros dele não davam pistas sobre seus pensamentos interiores. O homem conseguia fazer uma tremenda cara de paisagem, e ela pensou em lhe sugerir que ele jogasse cartas em vez de golfe.

      — Hum, na verdade o calor estava insuportável e terminei mais cedo. Sem dúvida, ele está funcionando agora — expressou ela, esfregando os braços, com frio.

      Estava gelado no escritório de Jim e um calafrio percorreu a espinha dela. Era verdade que seus tremores tinham mais a ver com o medo que sentia de que ele a despedisse e a entregasse à polícia.

      — Olivia, gosto de você, realmente, e é por isso que você precisa parar enquanto está vencendo — aconselhou ele, estreitando os olhos enquanto se inclinava para a frente e apoiava os cotovelos na mesa.

      — Não sei se estou entendendo bem o seu raciocínio, senhor — respondeu ela com cautela, descruzando as pernas e remexendo-se na cadeira.

      Torcendo as mãos no colo, Liv sentiu um rubor nas faces. Nossa, ela era patética. O desejo de confessar agitava seu estômago. Se não vomitasse a verdade, tinha certeza de que desmaiaria.

      — Vamos ser francos, não é? — perguntou ele. — Cheguei ontem à noite para acabar encontrando dois homens mortos em um dos laboratórios. Você pode imaginar meu choque e preocupação. Não é o tipo de coisa que precisamos vazar para a mídia. Esta é uma empresa respeitável e eu gostaria que continuasse assim. Agora, por que estou compartilhando isso com você? Bem, digamos que revi as fitas de segurança da noite passada. Quer conversar sobre o que viu? — perguntou Jim.

      O tom dele perdeu a aspereza e seus olhos se arregalaram de preocupação. Liv se perguntou se a preocupação que ela via no rosto dele era sincera. Ele não parecia aborrecido ou preocupado por dois homens estarem mortos. Ela não viu remorso, o que era alarmante.

      — Sr. Jensen, juro que não estava bisbilhotando. Estava a caminho da sala de descanso quando notei uma porta aberta. Esperava que outra pessoa estivesse trabalhando e pudesse me ajudar com o problema do ar — despejou ela, quando finalmente as comportas se abriram e as palavras saíram de sua boca.

      — Está bem. Não estou acusando-a. Você deve ter perguntas sobre o homem acorrentado. Por favor, sinta-se à vontade para dizer o que estiver pensando — persuadiu ele, com um sorriso de escárnio, antes de rapidamente mascarar sua expressão.

      Os cabelos na nuca de Liv se arrepiaram. Ela precisava proceder com cautela até descobrir a verdadeira intenção dele. O seu instinto lhe dizia que sua vida estava em risco. O perigo vinha dele, não da polícia. Ele sabia dos abusos ocorridos em seu laboratório e os tolerava. O que isso dizia sobre o chefe dela? Nada de bom.

      — Bem, não vou mentir. Ver aquele homem acorrentado e espancado foi chocante, horrível — murmurou ela, sabendo que ele vira sua reação inicial na fita. — Por que estamos mantendo-o contra sua vontade? O que ele fez para merecer esse tratamento? — perguntou ela, esperando não ter cruzado nenhuma linha com seu desafio.

      — Você está ciente de que ele é um shifter? — perguntou ele, incrédulo, como se isso explicasse tudo.

      — Sim, mas isso não me responde por que estamos mantendo-o prisioneiro — admitiu ela, enquanto se levantava da cadeira.

      Seu sangue acelerou nas veias e sua raiva esquentou, sabendo que aquele homem poderia considerar as ações do guarda como justificadas. O shifter estava agindo puramente em legítima defesa. Sim, ele parecia mais um animal raivoso, mas quem não seria assassino sob aquelas condições? De repente, seu senso de autopreservação voou pela janela.

      —