os olhos, ele continuou:
— Sei que você está ciente sobre a nossa pesquisa contínua sobre câncer, para encontrar uma cura para a doença mortal. Esse é um dos pilares desta empresa. Dito isto, devemos realizar experiências e pesquisas difíceis para obter as respostas que buscamos.
Conhecer os pilares deles? Claro que sim. Era um dos queridinhos dela. Ela tinha milhares de horas investidas no arquivo número 4467557. Sem mencionar que ela havia perdido a avó por causa de um câncer de ovário quando tinha apenas dez anos de idade. Observá-la definhar e morrer, uma sombra da mulher que havia conhecido deixara uma marca indelével.
Liv esfregou o anel com pedra de ametista na mão esquerda enquanto pensava na avó. Era a única joia que sua avó usava, e ela a entregara à mãe de Liv para que a guardasse até Liv completar dezoito anos. Foi o amor e a devoção de Liv por sua avó que a deixaram tão determinada a encontrar uma cura para a doença.
— Claro que estou ciente. O que isso tem a ver com o shifter? — perguntou ela, sem saber o que Jim estava querendo com aquilo.
— Temos motivos para acreditar que o sangue de um shifter é a chave. Todo mundo sabe que eles têm uma capacidade superior de cura. Estamos no caminho certo… sei disso. Olivia, podemos estar à beira de uma descoberta. Imagine o reconhecimento que minha empresa, nossa empresa, receberia se fôssemos os primeiros a encontrar a cura — vangloriou-se ele, entusiasmado, sorrindo de orelha a orelha.
Mais uma vez, o cabelo da nuca de Olivia se arrepiou. Algo não estava encaixando. Ela desejava a cura tanto quanto qualquer pessoa, mas não às custas dos outros. Lembrou-se do shifter gritando com ela, recusando-se a lhe dar sangue ou a qualquer outra pessoa.
Como o LPP encontrou aquelas cobaias? Era contra a lei fazer experimentos em humanos, até mesmo em shifters. Ela não conseguia imaginar aqueles homens respondendo a um anúncio para ganhar dinheiro extra doando seu sangue. Além disso, nenhum dos homens que ela viu estava ali voluntariamente. A única maneira de obter respostas era voltar para a sala onde estava o shifter e conversar com ele. E Jim era seu bilhete de entrada.
— Que notícia maravilhosa, Jim. Nada me agradaria mais do que encontrar uma cura. Muitas vidas foram perdidas. O que exatamente você está me dizendo? Como conseguiu permissão para que esses shifters participassem e por que a situação é tão instável? Ele está se recusando a cooperar? É por isso que está acorrentado? — perguntou ela, tentando uma aliança com Jim.
— Sim e não — afirmou ele, exalando e ignorando completamente a pergunta sobre a legalidade do estudo. — O homem que você viu afirma que seu sangue não pode ajudar. Ele se recusa a mudar de forma por nós, o que acho que precisa acontecer. Minha teoria é que o sangue em sua forma animal difere daquele de seu estado como humano, e esse é o sangue que procuro. Além disso, você viu como ele se torna violento. Está acorrentado para que mais funcionários meus não sejam mortos. Recuso-me a arriscar suas vidas — explicou Jim, enquanto começava a andar pelo escritório espaçoso.
— Posso entender por que você está dizendo isso. Não estava preparada para a raiva e violência que ele mostrou. Sabia que não deveria ter saído correndo da sala, mas estava apavorada. Ele ameaçou me matar também — disse Liv ao seu chefe, e outro tremor percorreu sua espinha ao se lembrar dos olhos cinzentos do shifter, cheios de fúria.
Novamente, ela questionou a ameaça dele. Ela estava perto o suficiente para que ele pudesse agarrá-la se quisesse, mas ele não o fez.
— Sim, ouvi tudo quando vi a fita. Então, você pode entender por que aquela seção do edifício está bloqueada. Temos mais de cinquenta funcionários e não posso me arriscar a repetir os acontecimentos da noite passada. Não quero você perto daquele corredor de novo. Estamos entendidos? — perguntou Jim, mas não era um pedido. Era uma ordem.
Parte de Liv queria evitar aquele corredor terrível. Não estava mentindo quando disse que era assustador. Nada em sua vida foi tão horrível quanto testemunhar dois assassinatos. Saber que aconteceu através das mãos desarmadas do shifter a assustava terrivelmente. Ele poderia quebrar seu pescoço apenas com uma de suas mãos.
Ela colocou a palma da mão sobre o estômago revolto enquanto sua mente continuava com a rotina de Sherlock Holmes. Precisava se aprofundar no assunto. Sem dúvida, Jim queria que aquilo fosse mantido em segredo. Duas vidas foram perdidas. Como ele poderia esconder isso? E quanto às famílias? Ela não lembrava se David tinha família, mas certamente alguém sentiria sua falta. E, por que diabos Jim não envolveu a polícia?
Liv tinha inúmeras razões para evitar o shifter. E, ainda assim, nenhum deles iria mantê-la longe. Seus olhos cinza-metálico ficaram marcados em sua mente e ela não conseguia se livrar deles. Apesar das ações dele, ele estava sendo torturado. Se ficasse parada e não fizesse nada, era a mesma coisa que colocar uma arma na cabeça dele e puxar o gatilho.
Por que ela não podia ser um capacho e balançar a cabeça como uma boa menina e continuar com sua vida? Seria a escolha mais segura, mas ela não conseguia. Não à custa da vida de outra pessoa. Precisava ter acesso ao shifter e descobrir exatamente o que estava acontecendo nos bastidores da empresa para a qual trabalhava, mas precisava abordar o assunto com cautela. E pelo ângulo certo.
— Jim, posso ser de ajuda — sugeriu, colando um sorriso sedutor no rosto e batendo os cílios enquanto se aproximava e colocava a palma da mão no peito dele. Ela poderia ser péssima em mentir e ser uma grande cara de pau, mas sabia como apelar para o sexo oposto.
Como esperado, o comportamento dele abrandou, e seus olhos percorreram todo o corpo dela. Com frequência, ela o pegava olhando para o seu traseiro, mas nunca deu ao homem casado a menor atenção. Agora, enquanto flertava com ele, ele estava praticamente se babando.
— O que tem em mente? — murmurou ele, com a voz tomada pela luxúria.
Manipular Jim era muito fácil. Pelo amor de Deus, ele não tinha qualquer integridade. Era um idiota por ser tão facilmente vítima dos avanços de uma mulher. Eram homens como ele que faziam Liv evitar o altar. Parecia que ninguém mais conseguia ser fiel. Na primeira oportunidade de se perder, a maioria não pensava duas vezes antes de trair.
— Percebi que o shifter parecia ter um fraco por mim, se você pode imaginar isso — incitou ela, enquanto girava um longo cacho vermelho ao redor do dedo.
— Sim, posso imaginar isso. Posso imaginar muito mais — insinuou ele, retirando o cacho de sua mão e envolvendo-o em torno de seu dedo grosso. Ela imaginou o dedo nas calças dele ficando mais grosso a cada minuto.
Dando dois passos para trás, ela colocou espaço suficiente entre eles para que ele soltasse seu cabelo.
— Bem, o que estou pensando é que posso tentar ganhar a confiança dele. Se ele se sentir confortável comigo, talvez considere mudar de forma. Afinal, se o sangue deles é a chave, quero a cooperação dele tanto quanto você quer. Apenas acho que você pega mais moscas com mel — brincou ela, com uma piscadela.
— Aposto que seu mel é o mais doce — professou ele, lambendo os lábios.
Sim, esse cara é um grande ator. Liv não pôde deixar de sentir pena da esposa dele. Ela a havia encontrado uma vez, e a mulher parecia boa pessoa. Por que tantos homens traem? Faltava alguma coisa no casamento deles ou eles estavam simplesmente ansiosos para provar algo diferente? Mais uma vez, razão suficiente para evitar a ida até o altar.
Tentar conseguir que o homem excessivamente excitado se concentrasse era um desafio.
— Posso começar a passar um pouco de tempo com o shifter e ver o que acontece. Talvez precise ficar sozinha com ele — instruiu Liv, esperando obter a aprovação de Jim sem causar alarme.
— Não sei se é bom. Ele é imprevisível. A última coisa que quero é que aquele animal a machuque de alguma forma. Gosto de ter seu belo traseiro por perto — admitiu ele abertamente e estendeu a mão, golpeando seu traseiro. Pervertido.
Não