Um homem com a tua reputação…
– Garanto-te que a minha reputação sobreviverá a isso.
Leo percebia que a sua segurança desagradava ao rapaz, assim como notara a inveja nos olhos de Jeremy, ao vê-lo chegar no seu Mercedes topo de gama. Leo viu, nesse momento, com o canto dos olhos, que o grosseiro Jeremy Discroll continuara a ler o jornal, fingindo ignorar a sua presença.
Na página aberta, havia uma reportagem sobre um político local que tentara, sem sucesso, processar algumas pessoas por invasão de privacidade. A visita de tal político a uma casa de massagens fora o rastilho do escândalo, e o júri não se convencera da sua inocência no caso.
– Eu não teria tanta segurança quanto à tua reputação se estivesse no teu lugar – insinuara Jeremy, continuando a olhar para o jornal, enquanto falava.
Leo mediu-o de alto a baixo, antes de se ir embora.
Ao entrar na sua suite, Leo franziu a testa. Não mudaria de ideias por nada neste mundo. Trabalhara duramente, durante muito tempo, para construir o seu negócio a partir do nada. Devagar e com muito sacrifício, fora construindo o seu pequeno império.
Primeiro, deixara para trás os concorrentes e, depois, à medida que crescia mais e mais, passara a adquirir as fábricas que competiam com os seus produtos.
Era o caso da família Discroll, que tinha duplicado a capacidade de produção das suas empresas. Agora, seria natural que Leo fechasse algumas das quatro fábricas que acabara de adquirir. Por enquanto, ainda não decidira qual delas seria fechada.
Mas a insistência de Jeremy Discroll quase o levara à loucura.
Cansado, entrou na suite, sem se dar ao trabalho de acender as luzes. Sendo mês de Junho, o céu ainda estava suficientemente claro, embora, a cortina fechada impedisse que a lua cheia iluminasse todo o ambiente.
Por certo, fora a empregada quem as fechara, deixando o quarto na penumbra, mas a lâmpada da casa de banho estava acesa, e a porta, aberta. Leo franziu a testa, intrigado, e caminhou até lá para verificar.
Olhou para o espelho, passou a mão sobre o queixo e decidiu barbear-se.
A arrogância de Jeremy Discroll zangara-o a tal ponto que Leo acabara por concluir que os rumores a respeito daquele homem tão desagradável eram a mais pura das verdades.
Apertando os olhos cinzentos, que herdara do pai e que eram temidos por todos os que tentavam enganá-lo, graças à sua extrema capacidade analítica, fez uma careta. Precisava de cortar o cabelo, que já se enrolava sobre o colarinho. Mas naquele momento, qualquer coisa que não estivesse relacionada com o trabalho ficava para segundo plano.
Os seus pais costumavam dizer que não entendiam onde é que Leo arranjara tamanha determinação e ambição. Para eles, a pequena agência de notícias que possuíam bastava para que fossem felizes. Agora, estavam reformados e moravam na cidade natal da mãe, em Itália.
Leo comprara-lhes uma propriedade perto de Florença, como presente das bodas de prata. Fora visitá-los em Maio, no aniversário da mãe.
Ao lembrar-se do olhar que recebera dela quando lhe perguntara se não existia ninguém especial na vida dele, Leo parou a máquina de barbear. Dissera-lhe, com bom humor, que não havia, e que não tinha a menor intenção de encontrar alguém especial no futuro.
Com uma aspereza pouco usual, a sua mãe respondera que iria até à vila à procura de uma curandeira que conhecia tudo sobre ervas e que, dizia-se, sabia fazer uma incrível poção mágica de amor!
Leo rira muito ao ouvir tal coisa. Afinal, não tinha uma amante, porque não queria. Várias mulheres, jovens e atraentes, apareceram como candidatas. Umas discretas, e outras sem muito tacto, afirmaram que gostariam de compartilhar com ele a sua vida, a sua cama e, claro, a sua conta bancária…
Mas Leo jamais se esquecera da época em que ganhara uma bolsa de estudos num colégio feminino e de como as meninas olhavam para ele com menosprezo, por causa do uniforme comprado em segunda mão.
Aquela experiência ensinara-lhe uma lição que jurara não esquecer pelo resto dos seus dias. É claro que tivera namoradas, mas descobrira, para espanto da maioria das pessoas, que possuía uma verdadeira aversão ao sexo sem compromisso. Isso significava que…
Sem querer, Leo lembrou-se da reacção explícita do seu corpo ao ver aquela mulher à entrada do hotel, quando saíra, à tarde. Pequena e cheia de curvas. Pelo menos, era assim que a imaginara sob as roupas que usava.
Como todas as raparigas de Itália, a mãe de Leo tinha um estilo pessoal muito forte em tudo o que fazia. Por isso, ele aprendera a distinguir muito bem a mulher que sabia vestir-se com elegância. E aquela rapariga não primava pelo bom gosto.
Nem ao menos fazia o tipo dele. Preferia as loiras, elegantes e sóbrias, mas não para a cama. Leo nunca se desviava do rumo que traçava para si, e muito menos por causa de uma mulher.
Com um suspiro de desgosto, tirou a roupa começou a tomar banho. Quando terminou o banho, foi para a cama. Estava mais escuro, mas ainda havia luminosidade suficiente, graças à lua, que brilhava atrás das cortinas.
Puxando as cobertas, deitou-se. Para sua surpresa, percebeu que a cama estava ocupada!
Acendeu a luz da cabeceira e, furioso, olhou, sem acreditar naquilo que via. Sobre a almofada ao lado, espalhavam-se cachos de cabelos, com certeza uma cabeleira feminina, que ele logo reconheceu. O nariz aquilino de Leo, uma herança italiana, detectou o cheiro a álcool que ela exalava ao ressonar.
Mas os seus sentidos reagiram de forma bem diferente a outros aromas, uma mistura de ar fresco e de perfume, uma sensualidade estonteante que Jodi emanava.
Era a rapariga da entrada. Leo conseguiria reconhecê-la em qualquer lugar, pelo menos, o seu corpo conseguiria.
Naquele momento, o seu cérebro enviou-lhe outra informação. A voz pegajosa de Jeremy Discroll a sugerir-lhe que Leo voltasse atrás no contrato. Será que aquela jovem seria a oferta que ele tinha em mente? Só podia ser. Leo não conseguia imaginar outro motivo para a presença dela ali, no seu leito.
Bem, se Jeremy Discroll ousava pensar que ele era o tipo de homem que… Irritado, esticou-se, com a intenção de sacudi-la pelo braço.
Jodi dormia o sono dos justos. Embalada pelo álcool, parecia estar a meio de um sonho maravilhoso, onde se via abraçada pelo homem mais lindo e sensual do planeta. Era moreno, alto, de olhos cinzentos e tinha músculos excitantes. Estavam deitados lado a lado, numa cama enorme, num quarto com vista para o mar, quando ele se aproximou, tocou-lhe nos braços e disse:
– Que diabo está a fazer na minha cama?
Ainda tonta, sob o efeito do cocktail de frutas, Jodi abriu os olhos adoráveis.
Por que é que o seu amor estaria assim tão bravo? Sonolenta, sorriu, mas antes de conseguir formular a pergunta, a sua atenção desviou-se, e Jodi percebeu quão sensual ele era.
Aquele corpo dourado e nu! Hum… Nu! Que delícia! Fechou os olhos, suspirou e abriu-os de novo, ansiosa, sem querer perder nada.
Leo não acreditava no que via ou no que sentia. Aquela intrusa não só ignorara a sua questão, como ousava tocar-lhe! Não, não o tocava apenas. Explorava cada centímetro da sua anatomia, que reagia em total desacordo com as palavras que tinha intenção de dizer. Como poderia chamá-la de presença indesejada, se estava a adorar os seus movimentos? Céus! Ela estava a acariciá-lo!
Dividido entre a vontade racional de rejeitá-la e o desejo visceral de abraçá-la, Leo lutava com todas as suas forças, para se agarrar à disciplina e ao autocontrolo, que sempre tinham sido os bastiões da sua existência, com o intuito de se defender daquela rapariga, que o atormentava até ao limite da sua resistência. Chocado, percebeu que perdera, não apenas a batalha, mas a guerra.
No entanto, Jodi, impulsionada por alguma energia que não apenas a do álcool, muito mais intensa e poderosa, não percebia nada