Miranda Lee

Paixão e engano


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não a compraria se fosse esse o caso. Tenho a certeza de que sabe alguma coisa que os donos da mina desconhecem.

      Noutra página de Internet, viu uma fotografia dele em que o mais significativo era que parecia muito alto e com classe. Uns óculos de sol escondiam-lhe os olhos, mas o seu rosto era moreno, de feições duras e com um queixo que parecia esculpido em granito. Leu que Scott McAllister não era casado e não a surpreendeu. Não parecia o tipo de homem de que as mulheres gostavam, apesar da sua riqueza.

      O telefone de Bob começou a tocar. Praguejando, levou o auscultador à orelha. Trinta segundos depois, voltou a praguejar.

      – Desculpa – desculpou-se Bob. – É que o McAllister chegou mais cedo e os donos da mina ainda não estão cá. Além disso, também não tive tempo para ler este contrato enormíssimo. Portanto… Importas-te de me fazer um favor? Acompanha-o à sala de reuniões e oferece-lhe um café ou o que quer que seja que queira beber. Tens jeito para essas coisas.

      Claro que tinha jeito. Fora a única coisa que fizera naquela maldita secção, fazer café para Bob e para os colegas dele. Em vez de advogada, parecia uma empregada. No entanto, a mãe ensinara-lhe boas maneiras, portanto, sorriu e respondeu que seria um prazer.

      – És uma rapariga ótima – declarou Bob, retribuindo o sorriso.

      Sarah ter-se-ia ofendido se Bob não tivesse sessenta e três anos de idade. Ela tinha vinte e cinco. Ia fazer vinte e seis nesse ano. Já não era uma rapariga!

      Levantou-se, alisou-se a saia, pôs o cabelo para trás, saiu do escritório e percorreu o corredor a caminho da receção, contente por ter alguma coisa para fazer. Além disso, se fosse sincera consigo própria, devia reconhecer que sentia curiosidade por ver os olhos do tal McAllister.

      Viu-o imediatamente. Estava sentado num dos sofás de couro preto espalhados pela zona da receção. Usava um fato cinzento-escuro, uma camisa branca e uma gravata azul-marinha sóbria. Tinha um braço esticado por cima das costas do sofá e uma perna cruzada por cima da outra. Os seus sapatos estavam limpos, mas gastos. A moda não era o forte daquele homem. Talvez os magnatas dos minérios não se importassem com a forma como estavam vestidos.

      Infelizmente, Scott McAllister tinha os olhos fechados, mas isso permitiu-lhe ver claramente o resto daquele homem. O cabelo era castanho-escuro e usava-o muito curto, mais nos lados do que por cima da cabeça, o que lhe dava um aspeto muito viril. Tinha o nariz maior do que parecia na fotografia que vira, mas não destoava com o resto do rosto. A boca era grande e o lábio inferior era mais cheio do que o superior, mas não conseguia suavizar o aspeto do seu semblante.

      Mesmo antes de abrir os olhos, Sarah percebeu que Scott McAllister não era um homem convencionalmente bonito, mas pareceu-lhe extremamente atraente. O que era estranho, já que nunca gostara de homens tão viris. Intimidavam-na. Preferia homens magros, de beleza elegante e com mais cérebro do que músculos.

      Parou a um metro dos pés dele e pigarreou.

      – Senhor McAllister?

      As pálpebras dele abriram-se e, finalmente, viu esses olhos.

      Uns olhos cinzentos com umas pestanas surpreendentemente compridas. Não eram uns olhos duros, mas frios. No entanto, eram calorosos ao mesmo tempo. E, quando esses olhos se fixaram nela, fizeram-na suster a respiração ao mesmo tempo que as suas faces coravam. Que vergonha!

      – Sim, sou eu – confirmou, levantando-se. Era muito mais alto do que ela, que media um metro e setenta e usava saltos.

      Deitou a cabeça para trás para lhe ver o rosto e sentiu a boca seca. Contendo um gemido, humedeceu os lábios com a língua e tentou adotar um ar sofisticado.

      – Os donos da mina ainda não chegaram – informou Sarah, com um sorriso frio. – O senhor Katon pediu-me para tratar de si até chegarem.

      McAllister limitou-se a olhar para ela sem retribuir o sorriso.

      Sarah sentiu um calor profundo e intenso, acompanhado por um desejo de fazer e dizer as coisas mais ridículas que podiam imaginar-se. Teve de fazer um esforço desonesto para se controlar.

      – Siga-me, por favor – sugeriu ela, fingindo uma cortesia fria.

      – Querida, seria capaz de te seguir até ao inferno – disse ele, enquanto esses lábios cruéis esboçavam um sorriso.

      Sarah ficou boquiaberta. Podia dizer o mesmo a respeito dele.

      Capítulo 1

      Sidney, quinze meses mais tarde…

      Scott, de pé junto da janela atrás da secretária, observou a vista. Embora a vista não tivesse nada de especial. O edifício em que se encontrava o escritório central da McAllister Mine estava situado a sul do centro de Sidney, não na parte mais pitoresca da cidade, junto do porto. De onde estava, não se via o mar nem a Casa da Ópera, nem os bonitos parques e jardins. Ali, só se viam arranha-céus anódinos e ruas cheias de trânsito.

      Embora nada conseguisse acalmá-lo naquela segunda-feira de manhã. Nunca se sentira assim. Chorara a morte do pai, mas a morte era mais fácil de aguentar do que a traição. Continuava sem conseguir acreditar que Sarah lhe fizera aquilo. Só estavam casados há um ano. No dia anterior fora o primeiro aniversário do seu casamento. E embora ele nunca tivesse confiado plenamente numa mulher, Sarah parecera-lhe muito diferente das mulheres responsáveis pelo seu cinismo. Sim, muito diferente. Por isso, era incrível que o tivesse enganado.

      Recebera o texto com as fotografias na sexta-feira à tarde, pouco depois do fim da reunião que tivera com um multimilionário de Singapura que se encontrava na Costa de Ouro e que podia ajudá-lo a resolver os problemas de entrada e saída de dinheiro. Por sorte, estivera sozinho nesse momento e ninguém presenciara o seu estado de choque inicial. Mas, a pouco e pouco, reconhecera a validade das provas. As fotografias tinham incriminado Sarah claramente. Todas elas tinham a data e a hora em que tinham sido tiradas. Na tarde desse mesmo dia, na sexta-feira anterior.

      E todas elas vinham acompanhadas de uma mensagem: «Pareceu-me que poderias gostar de saber o que a tua esposa faz quando estás ausente». Assinado: «Um amigo.»

      Não achava que fosse um amigo. Era um inimigo no mundo dos negócios ou uma colega invejosa de Sarah. A esposa costumava despertar a inveja de outras mulheres… e os ciúmes do marido. O que não significava que Sarah fosse inocente. Não lhe custara muito reconhecer que a esposa tinha relações com esse homem bonito e bem vestido que aparecia nas fotografias.

      Era a primeira vez que Scott sentia esses ciúmes sombrios e essa fúria que o tinham levado a deixar a secretária, Cleo, na Costa de Ouro para concluir a negociação em seu nome. Como desculpa, dissera que Sarah estava indisposta e apanhara um avião para ir para casa e enfrentar a esposa adúltera.

      Mas não a enfrentara imediatamente. Porquê? Por sentimento de culpa? Por vergonha?

      A sua intenção fora falar com Sarah imediatamente. Ainda albergara a esperança de que houvesse uma explicação lógica a respeito de semelhante pesadelo. Contudo, ao entrar em sua casa, Sarah precipitara-se para os seus braços, contente por ter voltado tão cedo. Beijara-o apaixonadamente, com mais ardor do que de costume. Embora a sua vida sexual tivesse sido mais do que satisfatória até àquele momento, Sarah não era agressiva no que se referia ao sexo. Esperava sempre que ele desse o primeiro passo, que tivesse o controlo. No entanto, naquela noite, não fora assim. Naquela noite, Sarah mostrara-se atrevida, acariciara-o intimamente e beijara-lhe o sexo.

      «Culpada», decidiu, ao pensar atentamente nisso.

      Contra toda a razão, quando Sarah adormecera depois de uma maratona sexual cansativa, fora ele que se sentira culpado. Uma loucura. De que podia sentir-se culpado? Sarah era a culpada. Sarah era a adúltera, não ele.

      Sarah mentira-lhe descaradamente ao contar-lhe o que fizera naquele dia: Fora comprar-lhe um presente maravilhoso de aniversário à tarde. No entanto, ele sabia perfeitamente o que Sarah estivera a fazer na sexta-feira