– É uma relação demasiado duradoura e estão preocupados que se possa tornar na sua esposa!
Rashid praguejou em francês, uma das sete línguas que dominava.
– O meu povo é doido? Tu sabes quem é a minha noiva!
– Sem dúvida – murmurou Abdullah.
– Não sabem que um homem tem muitas necessidades? – continuou Rashid. – O que Chantal me dá não tem nada a ver com casamento! – franziu a boca. – O meu destino não é casar com uma mulher dez anos mais velha do que eu! Não me poderia dar a descendência numerosa que precisarei ter um dia!
– Foi o que pensei, Excelência – replicou Abdullah, com um suspiro de alívio, quase imperceptível. – Porque é que não esclarece isso perante todo o mundo? Ainda não terá chegado o momento de ter descendência?
Rashid suspirou e virou-se mais uma vez para a janela.
Teria chegado o momento? Sentir-se-ia preparado?
Era conhecido pela sua natureza resoluta e pela sua inteligência e poder de decisão. Não demorou mais do que um segundo a lembrar-se do que estava planeado para ele desde a sua infância. E, como resposta, inclinou silenciosamente a cabeça.
Abdullah era o seu conselheiro de maior confiança e os boatos deveriam estar a ter certo peso para que ele tivesse tido a coragem de os transmitir.
E não era boa ideia que prevalecesse sobre a sua imagem um ar de incerteza que enfraquecesse a sua posição.
Rashid virou-se e, com um gesto imperturbável, declarou:
– Está bem. Que se cumpra o meu destino – os seus olhos brilharam com fria aceitação. – Mandarei buscar Jenna – declarou, suavemente. – O casamento celebrar-se-á quando estiver tudo pronto.
No interior do bonito apartamento de Nova Iorque, o telefone começou a tocar e Jenna deu um salto.
– Brad, podes responder o telefone, por favor? – gritou.
– Já vou.
Ainda húmida do duche, Jenna entrou na sala envolta numa toalha. Era ele, sabia-o. Não sabia como, mas sabia.
Ficou tensa. Depois lembrou-se de que a sua vida tinha mudado. Aquelas promessas que tinham sido feitas poderiam quebrar-se. O laço que existira entre eles enfraquecera. Seria inconcebível que ele agora exigisse o que ela tinha mais desejado e que naquele momento receava.
– Jenna? – ouviu Brad dizer, com a sua pronúncia americana. – Sim, está aqui. Um momento, por favor – entregou o auscultador a Jenna.
Ainda a tremer, Jenna agarrou no auscultador.
– Sim?
Fez-se um silêncio do outro lado.
– Jenna?
Era ele. Teria reconhecido aquela voz em qualquer ponto do planeta. Talvez porque nenhum homem falava como ele. Com a suavidade do aço e a sensualidade de um predador.
Jenna engoliu em seco. A sua faceta de mulher moderna sentiu a tentação de dizer: «Quem é?», mas pensou melhor. Fingir que não o reconhecera teria sido uma injustificada mancha ao seu ego… e todos sabiam que o xeque Rashid de Quador tinha um ego tão grande como a área dos Estados Unidos!
– Rashid – replicou ela, com cautela. Ouviu uma exclamação como resposta e soube que, de alguma maneira, o incomodara.
– Como estás? – inquiriu ela, em inglês.
– Quem atendeu o telefone? – inquiriu ele, inesperadamente na mesma língua.
Jenna pensou dizer que aquilo não era da sua conta, mas percebeu que era inútil. Ele achava-se no direito de tudo.
– Um amigo. Brad.
– Brad? Um homem? Tens um homem no teu apartamento?
Jenna sentiu irritação. O que era válido para ele, não era válido para ela. Mas seria melhor tomá-lo com bom humor. Não o fizera rir muitas vezes no passado, quando todos os seus sonhos de juventude tinham explodido ao saber que género de homem é que ele era? E o que fizera.
– Parece que sim! – brincou ela. – A não ser que esteja disfarçado e eu não tenha dado por isso!
Rashid sentiu-se incomodado.
– E há quanto tempo é que esse tal Brad é teu amigo?
Jenna apertou o auscultador com fúria. Ela não lhe pertencia! Mas ele tinha a astúcia de uma raposa e sabia dar-lhe a volta. Ainda não sabia o que Rashid queria e até àquela altura seria melhor seguir o seu jogo e responder como ele esperava que ela fizesse.
– Oh, há muito tempo que somos amigos! Telefonaste para conversar? Ou queres alguma coisa em particular?
Na realidade, o que Rashid teria gostado de fazer naquele momento era atirar Brad para fora do apartamento dela com um soco, mas preferiu não mostrar as suas emoções e ciúmes. Tinha a certeza de uma coisa, Jenna era pura como a neve das montanhas de Quador. Jenna…
Era dele, só dele…
– Não gosto nada disso – declarou ele. – Queres explicar-me o que é que está a fazer aí? Ou costumas receber homens no teu apartamento?
«Outra vez a sua arrogância», pensou Jenna.
Lembrou-se dos seus sonhos em relação a ele e o que sofrera ao descobrir a verdade sobre Rashid. Não permitiria que ele derrubasse as defesas que tanto lhe tinham custado construir!
– O que é que queres, Rashid? – inquiriu ela.
– Acho que foi um erro ter-te deixado estudar na América – observou ele.
– Não concordo.
– Atreves-te a descordar do teu xeque? – interrogou, trocista.
Jenna forçou um tom de prazer e declarou:
– Noutras alturas não puseste nenhuma objecção.
– Porque convenceste o teu pai de que te deveria deixar viajar! És muito persuasiva, Jenna!
– O que está feito, feito está. O passado é passado – murmurou ela. – Então, Rashid… Diz-me a que é que devo o prazer deste telefonema. Que surpresa!
Rashid franziu o sobrolho. Uma grande surpresa e ainda ficavam várias coisas para explicar.
– E onde está a tua irmã? Ela concorda que esse teu amigo esteja no teu apartamento, numa relação tão íntima contigo que até atende o telefone? – gritou Rashid.
– Oh, não sejas antiquado!
– Eu sou antiquado e ainda não respondeste à minha pergunta. A tua irmã aprova que o teu amigo esteja aí contigo?
– Nadia aprova a minha relação com Brad – declarou Jenna, com certo receio, ao imaginar a expressão do rosto de Brad.
Se Rashid soubesse que a sua irmã estava apaixonada por Brad! E que estavam a morar naquele apartamento como marido e mulher!
– É um bom homem – replicou Jenna, tentado dissimular o tremor da sua voz.
– Era um bom homem – corrigiu Rashid.
– O que é que queres dizer com isso?
– Oh, estou só a afirmar um facto, minha doce Jenna… Simplesmente, que a tua vida em Nova Iorque e Brad serão uma coisa do passado.
– Acho que és tu quem deve dar explicações – declarou Jenna.
– Não adivinhas? – ele lembrou-se com saudades do cabelo castanho dourado e dos olhos cor de âmbar de Jenna, tão diferentes dos olhos das outras mulheres de Quador.
Mas ela devia à sua herança americana por parte da sua mãe algo mais do que o seu aspecto.