comigo quando tive idade para isso – declarou ela. – E o meu orgulho não me permitiu demonstrar-lhe a minha desilusão. Não tive vontade de ficar em Quador e disse que desejava conhecer melhor o país da minha falecida mãe, que queria conhecer a minha terra natal.
Rashid também tivera experiências naquele sentido. Os seus pais tinham morrido num acidente de avião e os seus direitos e heranças tinham chegado mais cedo do que alguém antecipara. Não só tivera que suportar a dor da perda, mas tivera que começar a governar o país. A transição do poder não tinha sido fácil. Muitas pessoas tinham duvidado da sua capacidade para dominar aquelas terras e Rashid tivera que o demonstrar pela força.
Lembrava-se de como Rashid tinha demorado a dar a sua aprovação e consultara o pai dela para que ela viesse estudar direito para os Estados Unidos.
– Reconheço que a sua aprovação para que eu saísse do país me confundiu um pouco, mas depois percebi. A verdade dói… – declarou ela.
– Que verdade?
– Sobre o seu estilo de vida. Que parva que fui! Pensei que como era o meu noivo não andaria com outras mulheres! Mas soube que andava com modelos e actrizes desde a sua adolescência. Tinham-me ocultado essa informação quando estava em Quador, mas quando cheguei aqui, soube tudo. Inclusive agora tem uma amante!… Tem uma mulher em Paris e telefona-me para que me case com ele!
– Tens a certeza? – inquiriu Brad, horrorizado.
– Sim, chama-se Chantal e é a sua favorita. Certamente vai ocupar o quarto de hotel ao lado do nosso na nossa lua-de-mel… São esses os costumes de Quador!
– E o que é que vais fazer, Jenna? Não irás aceitar uma relação assim, pois não?
– Oh, não! – Jenna sorriu. – Voltarei para Quador e vou convencer Rashid de que não sou a mulher com quem quer casar.
– E como é que vais fazer isso? – inquiriu Brad.
– Não te preocupes comigo, Brad – ela estremeceu. – Vou pensar em alguma coisa.
– Mas preocupas-me…
– Não te preocupes. Não me vai obrigar a fazer nada que eu não queira ou que não esteja de acordo com os meus princípios morais.
– Sim, claro – replicou Brad, não muito convencido.
Jenna agitou o seu cabelo ruivo, como uma égua preparando-se para uma corrida.
– Vou reservar a passagem e vou dar uma volta pelas lojas.
O avião de Rashid aterrou em Paris. Uma limusina preta estava à sua espera para o levar ao luxuoso apartamento num selecto bairro da cidade.
Como sempre, um discreto guarda-costas precedeu-o, enquanto outro o seguiu, quase oculto das pessoas.
– Podem deixar-me, agora – declarou Rashid.
– Mas, Excelência…
– Deixem-me! Sabereis da minha presença dentro de alguns minutos – replicou Rashid.
O guarda-costas olhou para ele como se pusesse uma objecção, mas era inútil opor-se à vontade de Rashid.
– Sim, Excelência – declarou.
Rashid bateu à porta. Tinha chave, mas sabia que já não a poderia usar.
A porta abriu-se e Chantal apareceu. Tinha estado à sua espera, pois um telefonema avisara-a da sua visita.
– Chéri, a tua visita inesperada alegra-me muito – murmurou Chantal, provocativamente.
Rashid deu um passo atrás e abanou a cabeça e, embora Chantal parecesse desiludida, acompanhou-o até à imensa sala com uma espectacular vista sobre Paris.
Rashid observou-a pela última vez. Como amante tinha sido inigualável. Não parecia ter quarenta e quatro anos. Tinha um corpo melhor do que muitas mulheres de vinte.
– Um copo, chéri? Ou preferes que te prepare um banho? – murmurou Chantal, com uma voz sensual.
Noutros tempos teria aceite as duas coisas. E teria satisfeito o seu desejo por aquele corpo envolto em seda.
Mas agora já não.
Rashid abanou a cabeça.
– Tenho um carro à minha espera.
– Então?
– Chantal, tenho que te dizer uma coisa…
Chantal ficou imóvel, suspeitando de algo.
– Diz-me, chéri. Não me deixes em suspense.
– Vou casar.
Chantal não reagiu. Aspirou profundamente o fumo do seu cigarro.
– Deveria congratular-te, então? – inquiriu ela, friamente.
Rashid sorriu. Era difícil adivinhar quais eram os verdadeiros sentimentos de Chantal. Nunca os mostrara e aquela era uma das qualidades que ele mais valorizava nela.
– Obrigado.
Chantal voltou a aspirar o fumo do cigarro.
– Quem é ela?
– Jenna.
Chantal anuiu e deixou entrever um gesto de desagrado.
– A rapariga que é meio americana? A que mora em Nova Iorque?
Rashid franziu o sobrolho.
– Sim.
– Deve estar muito contente.
A boca de Rashid fez uma careta. Jenna deveria ter mostrado mais entusiasmo, mas não o fizera.
– Que mulher não estaria? – inquiriu Chantal, com tristeza. Apagou o cigarro e começou a desabotoar o vestido. – Então, vai ser a nossa última vez, chéri? Ou continuarás a ter tempo para mim depois de casar?
Ele olhou para os seios dela e sentiu a urgência do desejo, mas aplacou-o com decisão.
– Não, já chega! – exclamou.
– Tens a certeza, chéri?
– Sim, tenho a certeza. Abotoa o vestido!
Ela fitou-o durante um instante.
– Podes ficar com o apartamento – acrescentou Rashid.
– Obrigada – agradeceu Chantal.
Ele sabia que ela iria aceitar.
– Trouxe-te um presente – apontou para uma caixa.
– O que é?
Rashid abriu-a. Perante os olhos de Chantal apareceram várias fileiras de diamantes. Ele reparou no brilho de prazer do olhar dela.
– Pelos serviços prestados? – inquiriu ela.
Ele abanou a cabeça.
– Como um pequeno sinal de gratidão pela nossa agradável relação.
– Não é preciso que acabe, Rashid – declarou ela, alarmada. – Sabes isso.
Sim, ele sabia. Ela poderia ser dele quando e onde ele quisesse. Jenna não precisava saber. Tinha numerosos conhecidos que o encobririam sem questionar nada, esperando que ele se comportasse como o seu pai.
– Acabou, Chantal – replicou. – Toma o teu tempo, escolhe o que gostares mais e Abdullah virá buscar o resto.
– Então, é assim?
– Sabias que isto iria acontecer algum dia. Era inevitável. Por isso, deixemo-nos de lamentações e lembremos o passado com carinho. Está na hora de me ir embora. O meu avião está à minha espera.
Chantal anuiu e declarou com um nó na garganta:
– Adeus, chéri.
–