a sua amiga. – Deixaste o Connor, sim, mas só andaste com ele uns meses. Que culpa tens tu de ele se ter embebedado e de sofrer um acidente? – acrescentou sem ponta de tacto.
Lizzie deu-se conta de que ficar em casa de Jen tinha um preço, mas que mais podia fazer? Não tinha dinheiro para ir para um hotel e o resto dos seus amigos deixaram de lhe ligar. Talvez Jen, que estava sempre bem-humorada, a alegrasse um pouco. Talvez, sair uma noite a ajudasse a esquecer o desespero que sentia.
– Trabalhar? – disse Jen como se a palavra lhe provocasse alergias. – Tu? Em quê? Fica em minha casa até o teu pai se acalmar. Tanto tu como eu fomos educadas para ser objectos decorativos inúteis e convertermo-nos em esposas. A culpa não é nossa.
– Pretendo ganhar a vida pelos meus próprios meios – respondeu Lizzie com teimosia. – Quero demonstrar ao meu pai que não sou uma mimada…
– Claro que és. Nunca trabalhaste na vida! Se começares a trabalhar, como vais ter tempo para ir ao cabeleireiro e à manicura, para ficar a comer com as amigas ou para ires uma semana para uma praia tropical? Seria espantoso.
A verdade é que tudo aquilo soava fatal, mas também não era verdade que nunca tinha trabalhado. Fizera muitos trabalhos voluntários sem serem remunerados, sempre para organismos de caridade, e demonstrara dar-se muito bem para que os ricos aflorassem a carteira. Outra coisa era trabalhar para outros com um horário fixo e um salário medíocre. Isso nunca tinha feito, mas podia tentar…
Quatro horas depois, não se sentia tão segura. Estavam num bar da moda, a apenas duas mesas dos amigos antigos, que olhavam para ela como se a quisessem matar. Tinha vestido um conjunto que não precisava de ter comprado e Jen tinha ficado aborrecida quando lhe disse que não queria beber álcool, mas sim sumo de laranja. Assim, para não ofender a sua única amiga, ali estava a beber vodka.
– Se uma amiga me diz que não quer beber, dá-me a impressão que me está a tratar como se fosse superior – disse-lhe Jen bebendo uma Tequilla Sunrise num abrir e fechar de olhos.
Jen foi falar com alguém e Lizzie dirigiu-se para a casa de banho. Olhou-se ao espelho e arrependeu-se de se ter deixado convencer pela amiga a vestir aquele top branco e aquela saia tão curta. Apesar de comprar conjuntos atrevidos, apenas os vestia quando os experimentava. Enquanto se perguntava sobre o porquê de tudo aquilo ouviu um grupo de raparigas a falar.
– Não posso acreditar que a Lizzie tenha tido a pouca vergonha de vir cá esta noite!
– Isso demonstra o ser mau que é…
– O Tom avisou a Jen que, se continua a ser vista com ela, corre o risco de ficar sem amigos.
– Como é que ela pôde tratar o Connor assim? Era tão divertido e bom…
Lizzie ficou vermelha como um tomate e sentiu um enorme desejo de chorar. Voltou para a mesa e bebeu a bebida de um gole só. Aquelas raparigas tinham sido suas amigas. Já não eram. De repente, todos a odiavam quando há poucas semanas tinha tantos convites para sair que não conseguia dar resposta a todos. O único que queria era ir para casa. O problema era que não podia ir para a sua casa e Jen ia ficar aborrecida se lhe dissesse que nunca mais queria voltar a sair.
Sim, Connor parecia uma boa pessoa. Ela tinha acreditado nisso até ao dia em que foi à casa de campo que tinham e o descobriu na cama com Felicity. Ao recordá-lo, o sangue gelou-lhe nas veias.
Pensara em convidar uns quantos amigos para passar o fim-de-semana. Como há muito tempo que não iam lá, aproximou-se da casa para ver como estava. Ao chegar, não viu o carro da sua madrasta. Estava feliz, imaginando a surpresa que Connor ia ter quando lhe dissesse que ia celebrar os seus vinte e cinco anos em Bali.
Estava nas escadas quando ouviu uns ruídos. Eram gemidos. Sentira medo. Na sua ignorância, não suspeitou que o que estava a ouvir era um homem e uma mulher a fazer amor. Supôs que era o vento e continuou a subir. Do corredor, viu todos os detalhes da sua madrasta a desfrutar do seu namorado numa cama.
Felicity estava extasiada e Connor não parava de arquejar, de lhe dizer que a desejava e que não poderia aguentar outra semana sem a ver. Lizzie tinha ficado paralisada. Felicity viu-a e começou a chorar.
Bem, a sua madrasta passava a vida a chorar. Chorava por tudo, inclusive chorava se o jantar não estava perfeito.
Assim não lhe custou muito começar a chorar. Lizzie chorou e gritou, mas apenas depois de os pôr fora de casa. Depois, queimou os lençóis no jardim.
Nesse momento, a meio das suas recordações, Jen chegou e disse-lhe para irem dançar.
Sebasten estava na parte de cima com o dono do local.
– Reconhecê-la-ei quando a vir. A menos que…
Sebasten sentiu um asco terrível. O facto daquela mulher estar numa festa quarenta e oito horas depois do enterro de Connor era um claro indício de como era.
– É muito alta, apesar de não ser muito bonita. Não é o meu tipo – acrescentou o homem.
Apesar de precisar de um rosto para aquele nome, Sebasten não ia actuar ali. Não era o seu estilo. Ele devolvia os golpes de forma subtil.
Fixou o olhar numa mulher muito alta que estava a dançar. Tinha o cabelo da cor da marmelada de laranja e caía-lhe sobre os ombros. Observou-a deitar a cabeça para trás e sentiu que todos os músculos do seu corpo ficavam tensos. Tinha uma beleza rara e original, olhos grandes e uma boca mágica. Para não falar do seu corpo que estava bastante descoberto com o conjunto que usava. Sebasten olhou-a com desejo e pensou que naquela noite não dormiria só.
– É aquela… a ruiva…
Sebasten olhou na direcção que o homem lhe assinalava e viu uma ruiva baixa com um peito escandaloso. Com que então essa era a bruxa que tinha feito com que Connor perdesse a cabeça. Não o impressionou nada.
Viu que as duas mulheres falavam entre si e não gostou, mas pensou melhor e ficou encantado. Ao chegar à mesa, Jen voltou-se para Lizzie.
– Estive a pensar que… bom, que não sei se é muito boa ideia que fiques em minha casa…
– Disseram-te alguma coisa? – perguntou Lizzie, magoada.
– Olha, sinto muito o que se está a passar, mas tenho de pensar em mim e não quero…
– Que te tratem como a mim? – explodiu Lizzie.
Jen assentiu.
– É melhor que vás para um hotel e que não te exponhas muito. Passa amanhã por casa para levares as tuas coisas. Verás que dentro de uma semana as pessoas já falam de outra coisa – disse Jen dirigindo-se à mesa onde estavam os outros.
Durante uns segundos, Lizzie temeu fraquejar e começar a chorar diante de todos. Preferiu voltar para a pista de dança, onde, pelo menos, não a viam.
Deixou-se levar pela música e pôs-se a dançar. Os seus olhos pousaram sobre o homem que estava na galeria. Era alto, de cabelo escuro e tremendamente atraente.
Todas as mulheres estavam a olhar para ele e ele devia sentir-se como uma criança numa loja de brinquedos. Lizzie apercebeu-se que estava a olhar para ela. Olhou para as suas pernas e continuou a subir até ao peito. Ao chegar ali e ver que era plana e que tinha a cara coberta de sardas, desviou o olhar.
«A história da minha vida», pensou Lizzie.
Sentiu uma imensa vontade de chorar e desejou que aquele homem se aproximasse dela e a tirasse dali.
Envergonhada por ser tão fraca, dirigiu-se para o bar.
De repente, sentiu uma mão sobre a sua.
– Eu convido… – disse-lhe uma voz ao ouvido.
Lizzie voltou-se surpreendida e ficou ainda mais ao comprovar que era o homem da galeria. Era mais do que parecia e tinha uns olhos maravilhosos. Era muito homem, demasiado homem.
Alucinada,