Miranda Lee

O italiano implacável


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e o dinheiro começara a chegar. Além disso, já não era como uma irmã, já não lhe estava vedada. Então, porque não o fizera?

      Por muitos motivos. Sobretudo, por orgulho. Ao fim e ao cabo, era italiano e não teria aceitado bem a rejeição. Ir atrás de uma mulher, de qualquer mulher, não era o seu estilo. Ir atrás da filha de uma caça-fortunas que partira o coração do seu pai parecera-lhe uma traição absoluta e o cúmulo da estupidez. Além disso, tal pai, tal filho, não era? Se Bella tivesse correspondido, nunca teria sabido se os seus sentimentos eram verdadeiros ou falsos, sobretudo, depois de ser imensamente rico.

      No entanto, aquilo era diferente. Ficar em dívida com ele tornava-o diferente.

      – Lamento muito, Bella. – Sergio saboreou esse momento de poder sobre ela. – Não posso arrendar-te a villa. Vou estar lá em julho.

      – Ah…

      Ela transmitiu uma desilusão e uma desolação enormes com essa palavra.

      – Mas podes ficar comigo de graça – convidou ele. – Se não te importares de ter um pouco de companhia, claro.

      – Só… tu? – perguntou ela. – Quero dizer… não haverá mais ninguém contigo?

      – Só eu e a Maria durante o dia.

      – A mesma Maria que cozinhava e limpava antes?

      – A mesma, mas já não vive na casa. Casou-se e vive numa vila próxima com o marido, o Carlo. Ele toma conta do jardim quando é preciso e da piscina no verão. A Maria vai quando há alguém, que já não é com tanta frequência desde que o meu pai faleceu.

      – Ainda me sinto mal por causa do teu pai – replicou ela.

      Sergio cerrou os dentes porque não queria que se desculpasse outra vez.

      Viu que Alex e Jeremy entravam no restaurante e tomou uma decisão.

      – Lamento ter de desligar, Bella, mas os meus amigos acabaram de chegar. Se me deres o teu número de telefone, prometo-te que te ligo mais tarde e que faremos algum plano mais concreto. – Calculou que, à meia-noite de Londres, ainda seria de manhã na Austrália. – Enquanto isso, reserva um voo para Milão e apanha-o, mas não digas à tua mãe para onde vais. Melhor dizendo, não digas a ninguém. Não quero que um helicóptero cheio de paparazzi sobrevoe a villa para tentar tirar fotografias tuas com o teu último acompanhante. Está bem?

      – O que…? Sim, sim, entendo o que queres dizer. Gostam de tirar conclusões precipitadas, não é? E mais ainda de mim. Prometo-te que não direi a ninguém. Não consegues imaginar como te agradeço, Sergio. Sempre…

      – Tenho de desligar, Bella – interrompeu ele. – O teu número, por favor…

      Deu-lhe o número e ele desligou quando Alex e Jeremy chegavam à mesa. Desligou o telemóvel e guardou-o no bolso.

      Cumprimentou-os com uma expressão de tranquilidade na cara. Sergio nunca expressava as suas emoções e foi uma vantagem nesse momento, dado o que pensava. Ainda não conseguia acreditar. Bella ia estar em sua casa e em dívida com ele!

      Nunca se considerara desumano ou vingativo, mas, aparentemente, era mais do que imaginara.

      – Lamento o atraso – desculpou-se Alex, enquanto se sentava.

      Sergio viu que Alex usava umas calças de ganga azuis e uma camisa azul-clara, enquanto Jeremy continuava de fato. Não era o fato azul-marinho às riscas que usava antes, mas um cinzento de três peças com uma camisa castanha e uma gravata malva.

      – Estavas a marcar um encontro para amanhã à noite? – perguntou Jeremy.

      – O Sergio não tem encontros – interveio Alex. – Só… dorme em casa de… amigas.

      – Que miserável – comentou Jeremy, com carinho. – O mínimo que podes fazer é convidar uma rapariga para jantar antes de ires para a cama com ela. Com quem estás… na cama ultimamente?

      – Isso não é assunto vosso. – Sergio decidiu não lhes contar nada sobre a chamada de Bella porque não queria que o dissuadissem do que decidira fazer. – Vamos pedir, estou cheio de fome.

      Essa era outra das coisas de que Sergio gostavam nesse restaurante, a velocidade com que serviam as bebidas e a comida. Abriram-lhes uma garrafa de champanhe e trouxeram-lhes uns pratos com pão de ervas para ensopar um pouco o álcool.

      Teria sido uma noite muito boa se não estivesse a pensar noutra coisa, em como ia seduzir Bella, que, naturalmente, era o que tencionava fazer. Embora, se fosse sincero, não tivesse muita experiência na arte da sedução. Os homens altos, morenos e bonitos não tinham de recorrer, normalmente, à sedução descarada e ainda menos os ricos. No entanto, era possível que ser alto, moreno e bonito não bastasse para Bella. Também poderia dizer-lhe que era multimilionário. As mulheres como Bella nunca tinham dinheiro suficiente, mas isso não seria tão gratificante como se fizessem amor por ele, não pelo seu dinheiro.

      Pensou nisso durante as entradas e, no prato principal, chegou à conclusão de que, a julgar pelo seu historial, gostava dos rapazes maus, algo que ele não era, pelo menos, por enquanto.

      Durante a sobremesa, decidiu que podia ser mau porque, já que tinha a oportunidade, faria tudo para levar Bella para a cama pelo menos uma vez. Não, não só uma vez. Uma vez não bastaria para sufocar a labareda que já sentia. Precisaria de um mês de relações sexuais para se cansar dela e não só de relações sexuais. Queria possuí-la de todas as formas possíveis, queria conhecer todo o desenfreio lascivo que teria praticado com os outros… amigos.

      Quando esse mês passasse, quando estivesse satisfeito, livrar-se-ia dela e começaria a procurar uma rapariga boa para se casar.

      Comeu a última trinca de crème caramel e decidiu que era um bom plano, embora também fosse possível que «bom» não fosse a palavra adequada.

      – Estás estranho, Sergio – comentou Jeremy, quando chegaram os cafés. – Sei que o Alex e eu falamos mais dos três, mas costumas participar mais na conversa. Tens algum problema de saias?

      Sergio conteve a gargalhada. O efeito da chamada de Bella não podia chamar-se «um problema de saias». No entanto, já traçara um plano e sentia-se mais tranquilo. Só faltava levar esse plano a cabo e fazer com que ela deixasse de ser um problema, uma obsessão.

      Até então, decidiu que trataria do assunto de que quisera tratar antes da chamada de Bella. Ao fim e ao cabo, era possível que não voltassem a ver-se até dentro de muito tempo e, como sócios do Clube dos Solteiros, achava que tinham o direito de saber quais eram as suas intenções.

      – Em certo sentido – respondeu ele, enigmaticamente. – O sexo oposto entra no que vou dizer-vos.

      – Ena, isso parece infeliz – comentou Alex.

      – Não é infeliz, mas é sério. Decidi que vou casar-me.

      Alex engasgou-se e Jeremy limitou-se a sorrir com ironia.

      – Não me surpreende.

      – Mas eu estou surpreendido! – exclamou Alex. – Achava que tinhas rejeitado o casamento para sempre depois do divórcio do teu pai.

      – Isso são águas passadas. Agora, que o meu pai faleceu e vendemos as cotas da franquia, sinto a necessidade de ter uma vida mais aprazível. Quero constituir uma família, Alex.

      – Parece-me bem – concedeu Alex.

      – Quem é a sortuda? – perguntou Jeremy.

      – Sim, pode saber-se quem é? – insistiu Alex.

      – Não tenho ideia – respondeu Sergio. – Ainda não a conheci. Estava a pensar numa italiana, em alguém cuja família viva perto de Milão, já que trabalharei lá a partir de agora.

      Alex abanou a cabeça e Jeremy assentiu como se estivesse de acordo.

      –