Margaret Moore

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro


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perdoara intimamente William e os outros pela reacção à sugestão do barão de que pagassem a sua dívida. Na ocasião, ela ficara desolada, mas o barão era um homem nobre e intimidador, e eles não passavam de camponeses. Se não a ajudavam, certamente era porque não se atreviam. Ela não devia ter ficado magoada.

      Além do mais, o barão fizera a pergunta antes de eles terem qualquer ideia de qual seria o aumento da renda e, mais tarde, quando a quantia fora anunciada, Gabriella sentira que não seria justo culpá-los; ela preferia continuar a ser serva do que ver aquelas famílias a empobrecerem ainda mais.

      – Entendo, milady – murmurou Gabriella, com uma expressão séria, ao perceber que Josephine aguardava uma resposta.

      Josephine sentou-se na cadeira e contemplou o próprio reflexo ao espelho, ajeitando as dobras do seu magnífico vestido verde-escuro, de lã macia, com debrum dourado no decote e nos punhos. À cintura, ela usava um cinto de aros dourados, e ao pescoço uma corrente, também de ouro, com um pingente de esmeralda.

      Instintivamente, Gabriella evitou olhar para o espelho; não precisava da evidência visual para saber que não podia comparar-se a Josephine de Chaney.

      – Eu sei que não está a ser fácil para ti, Gabriella.

      – Não, milady – respondeu ela, contrafeita. Não tinha vontade nenhuma de discutir a sua situação com quem quer que fosse, e muito menos com uma mulher como Josephine de Chaney, que usara o próprio corpo para alcançar prosperidade.

      – Não sou tua inimiga, Gabriella – disse Josephine, com tanta ternura que Gabriella imediatamente sentiu remorso. – Na verdade, sei como te sentes, porque já passei por situação semelhante.

      – O barão DeGuerre disse-me.

      Josephine virou-se para Gabriella, perplexa.

      – Ele disse-te? Quando?

      – Na... No dia em que chegaram, milady – respondeu Gabriella, tentando, em vão, não enrubescer. A lembrança dos momentos que passara sozinha com o barão tornava-se nítida demais, naquele quarto.

      – Quando estavam aqui, sozinhos? – Josephine arqueou as sobrancelhas. – Vocês falaram sobre mim?

      – Sim, milady.

      Josephine inclinou-se para a frente, com uma expressão de curiosidade no rosto.

      – O que é que Etienne disse sobre mim?

      – Ele disse que milady veio de uma família que perdeu todos os seus bens. E que eu devia seguir o seu exemplo. Quando eu disse que preferia mo... não fazer isso, ele disse que eu não devia fazer julgamentos precipitados, pois eu não conhecia as circunstâncias.

      – A sério? Etienne disse isso? – Josephine desmanchou-se num sorriso que exibia dentes brancos e perfeitos.

      – Sim, milady.

      Josephine recostou-se na almofada macia que protegia o encosto da cadeira, com uma expressão pensativa.

      – Ele disse a verdade sobre o meu passado, Gabriella. O meu pai perdeu todo o dinheiro que tinha em bebidas, e quando ele morreu, fiquei sozinha. Tive de encontrar um rumo para a vida, e a primeira coisa que fiz foi procurar uma pessoa forte, que me protegesse. – Ela olhou atentamente para Gabriella. – Existem destinos piores, como tu já deves ter percebido. Diz-me, agora que sabes o que é ser uma serva, não te sentes tentada a fazer o mesmo que eu fiz?

      – Conforme disse ao barão, milady, eu não seria capaz.

      Josephine ajustou um dos punhos do vestido e sorriu.

      – Tu és uma mulher de princípios, não és? – Rapidamente, porém, o sorriso esmoreceu. – A tua censura não me afecta, Gabriella. Fiz a minha escolha, e não me arrependo, assim como tu não te arrependes da escolha que fizeste. Por enquanto. Daqui a alguns meses voltarei a perguntar-te o que pensas da experiência de ser aia. Talvez chegues à conclusão de que é bem mais agradável ser servida do que servir.

      – Se eu estivesse à procura de coisas agradáveis, teria aceitado o dinheiro do barão e ido para um convento.

      O som melodioso do riso de Josephine de Chaney preencheu o aposento.

      – Pois acho que esse seria o lugar mais desagradável de todos. Sem homens?! – A expressão da cortesã tornou-se novamente pensativa. – Não há ninguém que te possa tirar daqui e ajudar-te? Nenhum parente, ou pretendente?

      – Se o meu irmão soubesse o que está a acontecer, viria imediatamente.

      – Ah, sim, o teu irmão... Tu não tens ideia nenhuma de onde é que ele se encontra?

      Gabriella balançou a cabeça.

      – Que pena – Josephine estudou Gabriella da cabeça aos pés. – Tu és uma jovem interessante. É difícil acreditar que não tenhas um namorado.

      – Não tenho, milady.

      – Nem Chalfront? – perguntou Josephine, com um olhar maroto.

      – Nunca!

      – Confesso que concordo contigo, nesse ponto. Ele não é o tipo de homem capaz de fazer palpitar o coração de uma mulher.

      – Não pretendo casar-me com ninguém, milady.

      Josephine arqueou as sobrancelhas como se tivesse dúvidas, e suspirou.

      – Bem... preciso de descer para o salão. Sir George deve lá estar, e ele é um jovem elegante e divertido. Far-me-á companhia enquanto Etienne anda por aí a tentar descobrir se há algum arrendatário a tentar enganá-lo. Espero que não, pois pobre daquele que se atrever! Por favor, arruma o quarto, Gabriella, e depois estarás livre até à hora do jantar.

      – Obrigada, milady – murmurou Gabriella, enquanto Josephine saía do quarto.

      Gabriella começou a dobrar o pesado vestido de veludo, com movimentos bruscos. O que é que Josephine de Chaney pensava, que ela precisava da sua compaixão? Ela amassou entre os dedos das duas mãos a écharpe azul e mandou-a com força sobre a cama, num gesto furioso. Depois deixou escapar uma exclamação sufocada, ao ver a seda toda amarrotada. Esticou a écharpe e alisou-a delicadamente, reflectindo que não fazia sentido descarregar a sua raiva num pedaço de tecido, principalmente num tão precioso como aquele.

      Sem largar a écharpe, Gabriella caminhou até à penteadeira. Com Josephine ausente, podia olhar à vontade para o espelho. Gabriella surpreendeu-se ao ver que a sua aparência era melhor do que imaginara; a pele do rosto estava um pouco bronzeada do sol, mas não demais; os cabelos estavam levemente despenteados, e depois de um rápido olhar para a porta, ela pegou numa escova e passou-a pelos cachos ondulados. O seu rosto parecia um pouco mais magro, mas não lhe ficava mal; ao contrário, realçava-lhe os olhos, que eram o seu traço mais favorável.

      Sentindo a fragrância dos perfumes, Gabriella pegou num dos frascos de cristal; fechou os olhos e inalou o doce e suave perfume a rosas. Depois recolocou-o no lugar e, com outro olhar furtivo em direcção à porta, cobriu a cabeça com a écharpe.

      Até certo ponto, compreendia a escolha de Josephine; não era fácil abster-se do luxo e do conforto. Ela, pelo menos, ainda tinha esperança de que Bryce voltasse para a amparar; Josephine ficara completamente sozinha. E encontrara um grande amigo no barão DeGuerre.

      O qual, por acaso, a observava, parado sob o umbral da porta, percebeu Gabriella ao olhar para o espelho. Ela tirou a écharpe da cabeça, com uma exclamação de susto, e virou-se para contemplá-lo.

      – Este quarto está em completa desordem – murmurou o barão, entrando, quase como se falasse para si mesmo.

      – Sim, milorde... Eu estava a arrumá-lo – Gabriella engoliu em seco, indecisa sobre o que fazer. Havia roupas de Josephine espalhadas por toda parte, mas o seu último desejo era ficar naquele quarto sozinha com o barão DeGuerre.

      – Pois continua.

      Gabriella assentiu,