rel="nofollow" href="#uba521c3b-53c5-57fb-96b1-0b0a472f3ca5">45. OBERSALZBERG, BAVIERA
64. ABADIA DE SÃO PEDRO, ASSIS
Como sempre, para a minha esposa, Jamie,
e para os meus filhos, Lily e Nicholas
Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.». E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!».
MATEUS 27:24-25
Todos os infortúnios que, posteriormente, sucederam aos judeus, desde a destruição de Jerusalém até Auschwitz, carregavam um eco desse pacto de sangue inventado do julgamento.
ANN WROE, PONTIUS PILATE
Só ignorando deliberadamente o passado é que não percebemos para onde tudo isto nos conduz.
PAUL KRUGMAN, THE NEW YORK TIMES
CIDADE DO VATICANO
PREFÁCIO
Sua Santidade, o papa Paulo VII, surgiu, pela primeira vez, em O Confessor, o terceiro livro da série de Gabriel Allon. Posteriormente, apareceu em A Mensageira e O Anjo Caído. Batizado como Pietro Lucchesi, é o anterior Patriarca de Veneza e sucessor direto do papa João Paulo II. Na minha versão ficcional do Vaticano, os papados de Joseph Ratzinger e Jorge Mario Bergoglio, os Sumos Pontífices Bento XVI e Francisco, não ocorreram.
1
ROMA
O telefonema chegou às 23h42. Luigi Donati hesitou antes de atender. O número exibido no ecrã do seu telefonino pertencia a Albanese. Só havia uma razão para ele estar a ligar a uma hora daquelas.
— Onde é que Vossa Excelência está?
— Fora do recinto.
— Ah, pois. É quinta-feira, não é?
— Há algum problema?
— É melhor não dizer demasiado ao telefone. Nunca se sabe quem poderá estar a ouvir.
Donati embrenhou-se na noite fria e húmida. Envergava um fato clerical preto com colarinho romano branco, em vez da batina e peregrineta debruadas a fúchsia que usava no escritório (era assim que os homens com o seu título eclesiástico se referiam ao Palácio Apostólico). Donati era arcebispo e secretário pessoal de Sua Santidade, o papa Paulo VII. Alto e esguio, com abundante cabelo escuro e feições de estrela de cinema, celebrara recentemente o seu sexagésimo terceiro aniversário. A idade em nada diminuíra a sua beleza. A revista Vanity Fair batizara-o recentemente como «Luigi, o Deslumbrante». O artigo causara-lhe um enorme embaraço no mundo de maledicência da Cúria, mas, dada a merecida reputação de Donati como implacável, ninguém se atrevera a mencionar-lho na cara. Ninguém, exceto o Santo Padre, que troçara impiedosamente dele.
É melhor não dizer demasiado ao telefone…
Há um ano ou mais que Donati se andava a preparar para esse momento, desde o primeiro ataque cardíaco leve, que ocultara do resto do mundo e até de grande parte da Cúria. Mas, de entre tantas noites, tinha logo de ser aquela?
A rua estava estranhamente silenciosa. Funestamente silenciosa, pensou Donati de súbito. Era uma avenida ladeada de palazzos, mesmo ao lado da Via Veneto, o tipo de local onde um sacerdote raramente punha os pés, especialmente um padre educado e treinado pela Companhia de Jesus, a ordem intelectualmente rigorosa e por vezes insubordinada a que Donati pertencia. O seu carro oficial, com a matrícula SCV característica do Vaticano, aguardava junto à berma. O motorista pertencia ao Corpo della Gendarmeria, a força policial do Vaticano, constituída por 130 membros. O automóvel dirigiu-se sem pressa para oeste, atravessando Roma.
Ele não sabe…
No telemóvel, Donati deu uma vista de olhos aos sites dos principais jornais italianos. Não sabiam de nada. Tal como os seus colegas de Londres e Nova Iorque.
— Liga o rádio, Gianni.
— Música, Vossa Excelência?
— Notícias, por favor.
Mais um ror de disparates de Saviano, outro discurso inflamado sobre como os imigrantes árabes e africanos estavam a destruir o país, como se os italianos não fossem bem capazes de pôr tudo de pantanas por si próprios. Há meses que Saviano importunava o Vaticano para conseguir uma audiência privada com o Santo Padre. Com um regozijo velado, Donati