Michelle Reid

Legado de paixões - O homem que arriscou tudo


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      – Eu não sou um deles, Zoe – disse Anton. – Reconheço que não te disse toda a verdade sobre o nosso destino, mas…

      Praguejou ao ver que Zoe começava a tremer como um vulcão prestes a entrar em erupção e que adquirira uma palidez fantasmagórica.

      – Escuta, Zoe… Maldita! – resmungou Anton, quando Zoe abriu a porta subitamente e saiu do carro.

      Anton saiu precipitadamente e alcançou-a quando se baixava para pegar em Toby.

      Cerrando os dentes, agarrou-a pela cintura e puxou-a antes de ela conseguir agarrar na cadeirinha. Ela retorceu-se e esperneou até Anton a pôr no chão. Segurando-a pelos ombros, obrigou-a a virar-se.

      – Ouve – disse, entre zangado e suplicante. – Lamento ter-te aborrecido tanto.

      Aborrecê-la? Zoe levantou a cabeça e olhou para ele com os seus olhos azuis tão cheios de rancor que soube que aquela palavra ficava longe de descrever os seus sentimentos.

      – Odeio-te! – ela soluçou. – O meu avô e tu destruíram-me a vida e, se não me soltares, vou gritar e pedir socorro.

      Respirou fundo e abriu a boca para cumprir a sua ameaça, mas Anton conteve o grito apertando os seus lábios contra os dela. Até ele próprio se surpreendeu por usar aquele recurso para a parar, mas assim que o fez, nem lhe passou pela cabeça afastar-se. Os lábios de Zoe estavam entreabertos e trémulos. As suas línguas encontraram-se e houve uma onda de calor de uma força explosiva. Embora Zoe continuasse a chorar, retribuiu o beijo com uma urgência frenética e Anton soube que agia de forma inconsciente.

      Para além da pista, do outro lado do portão, elevaram-se várias câmaras para capturar o beijo. O seu pessoal de segurança permaneceu impassível enquanto via o seu chefe a beijar apaixonadamente a neta de Theo Kanellis depois de terem tido uma discussão monumental. E mesmo assim, a paixão ecoava entre eles como se tivesse adquirido vida própria. Abraçou Zoe contra ele e a dureza do seu corpo fê-la gemer.

      Separando os seus lábios bruscamente dos dele, Zoe rejeitou-o com decisão.

      – Abusaste!

      – Mas tu participaste por vontade própria – disse ele, que não se reconhecia naquele estado de descontrolo.

      – És… és… – Zoe ficou sem palavras

      Sentia os lábios inchados e quentes. Sensações que desconhecia percorriam o seu corpo, intensificando-se nas suas partes mais íntimas, desde os mamilos endurecidos até à pélvis, contra a qual Anton pressionava a prova da sua resposta física. A forma como olhava para ela naquele momento, como se fosse beijá-la novamente, fê-la sentir temor e desejo.

      – Solta-me – sussurrou, sentindo a sua respiração no rosto.

      Anton sentia-se alerta, vigorizado. A neta de Theo transformara-se numa obsessão num tempo recorde e ficou desarmado quando aqueles olhos azuis espetaculares se encheram de lágrimas.

      – Porque me fazes isto? – ela gemeu.

      Ao ouvir um ruído ao seu lado, virou-se instintivamente. Espantada, viu que o carro, com as portas ainda abertas, se afastara.

      – Anton! Toby está no carro! O que faz aquele homem com o meu irmão?

      O pânico apoderou-se dela, perdendo-a numa espiral de terror. Olhou para Anton e encontrou o seu rosto inexpressivo.

      – Por favor! – suplicou, chorosa. – Não me tires o meu irmão!

      Com os dentes cerrados, Anton disse alguma coisa, mas ela não o ouviu porque o medo a ensurdecia. Tinham entrado no avião e Anton conduzia-a para o interior. Zoe remexia-se e batia-lhe.

      – Toby! – gritou, até o nome ecoar na sua cabeça.

      Deixando-a num banco, Anton baixou-se à frente dela.

      – Ouve-me, Zoe – disse, com firmeza, consciente de que estava a sofrer um ataque de histeria. Tremia como uma folha e não parava de chorar e de chamar o seu irmão. Anton cerrou os dentes e pôs-lhe o cinto de segurança. – Acalma-te.

      Não se importava com o que fizesse desde que obedecesse à sua ordem. Como se as suas palavras tivessem atravessado a névoa do cérebro de Zoe, ela agarrou-se às lapelas do seu casaco.

      – Anton, por favor. Preciso do meu irmão. Por favor, Anton, por favor…

      Foi como o gemido de um animal ferido, face ao qual ninguém poderia permanecer impassível. Todos os presentes, incluindo Anton, ficaram gelados, e Anton não recordou ter-se sentido tão zangado nem tão envergonhado de si próprio.

      Kostas olhou para ele com desaprovação.

      – O seu irmão, está aqui, menina Kanellis – disse, com uma doçura que Anton, que o conhecia há anos, nunca o ouvira usar.

      Zoe levantou o olhar e viu o menino ainda na sua cadeirinha.

      – Toby – sussurrou, aliviada.

      – Tenho de o pôr numa cadeirinha de segurança enquanto descolamos – continuou Kostas, no mesmo tom. – Está a duas filas de si. Está a salvo comigo, prometo.

      – Obrigada – murmurou ela, antes de se virar para Anton. – Pensava que…

      – Sei o que pensavas – disse ele, com solenidade. – Posso ter muitos defeitos, Zoe, mas juro-te que nunca mais darei Toby a ninguém, está bem?

      Zoe assentiu, embora se perguntasse porque havia de acreditar.

      – Ele é tudo o que tenho – cerrando os dentes, os seus olhos pousaram nos dedos com que ainda se agarrava às lapelas de Anton. – É tudo o que resta deles e…

      Sentiu que as lágrimas se acumulavam nos seus olhos como uma onda avassaladora de tristeza dolorosa. Durante três semanas, conseguira conter-se. Permanecera tranquila, guardando os seus sentimentos porque tivera de demonstrar que podia ser uma boa mãe para Toby. Então, aparecera aquele homem e, pela primeira vez, baixara a guarda… E aquela era a consequência: estava num avião no meio do nada, quase a descolar para a Grécia.

      Anton observou-a enquanto as lágrimas começavam a cair novamente pelas suas faces, umas lágrimas diferentes das que derramara até àquele momento. Cerrando os dentes e com uma expressão ininterpretável, ele fechou os braços à volta dela e, com uma mão, fê-la apoiar o rosto no seu peito. Não lhe ofereceu carícias reconfortantes nem a encorajou a chorar. Limitou-se a olhar fixamente para as costas do banco de Zoe e a segurá-la enquanto o poço profundo de tristeza em que estava perdida brotava como uma cascata imparável.

      Zoe desabafou em soluços violentos entre os quais Anton a ouviu sussurrar «mamã» e «papá».

      O comissário de bordo aproximou-se com cautela.

      – Senhor, tem de se sentar.

      Anton abanou cabeça, resistente a mexer-se e, depois de alguns segundos, o comissário de bordo foi-se embora.

      Os motores começaram a funcionar e Anton sentiu a vibração nos pés. Assim que alcançaram altitude suficiente, soltou o cinto de Zoe e, pegando nela ao colo, foi com ela para o quarto que havia na parte de trás. Fechando a porta com o ombro, tirou os sapatos e depositou Zoe na cama. Como continuava agarrada às suas lapelas, em vez de a soltar, deitou-se ao seu lado, mantendo-a abraçada. Cada um dos seus soluços era um golpe contra a sua arrogância cruel e desconsiderada. Quando Zoe ficou finalmente cansada e adormeceu, Anton permaneceu ao seu lado, consciente de que nunca abraçara nenhum ser humano com tanta força, nem sequer durante o sexo.

      Esperou que os dedos de Zoe afrouxassem e deslocou-se com cuidado para se levantar e ir à casa de banho. Fechou a porta e apoiou-se contra ela com os olhos fechados, dominado por um sentimento terrível de culpa.

      Zoe acordou com a vaga sensação de que tinha acontecido alguma coisa de mal. Na sua mente sucediam-se imagens de si própria a gritar com Anton, a beijá-lo, a suplicar