Sarah Morgan

Vida de sombras - Sombras no coração


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      Surpreenderia as pessoas saber o pouco que lhe importava o dinheiro. No entanto, o poder era outra coisa. Desde muito pequeno, tinha aprendido o seu valor. Abria portas, convertia os «nãos» em «sins», as dificuldades em facilidades. O poder era afrodisíaco e, quando era necessário, uma arma perfeita que usava sem que lhe tremesse a mão.

      O telefone tocou pela enésima vez em dez minutos e ignorou-o mais uma vez.

      Uma pancada na porta tirou-o da sua abstração. Tratava-se de Maria, a sua assistente pessoal.

      Stefan olhou para ela, arqueando um sobrolho irritado.

      – Não me olhes assim. Sei que não queres que te incomode, mas não estás a atender a tua linha pessoal – ao não obter resposta, Maria soprou. – Sonya já te ligou várias vezes.

      – Quer dizer-me que está zangada e não tenho o mínimo interesse em falar com ela.

      – Deixou uma mensagem, não pensa fazer de anfitriã da tua festa desta noite enquanto não tomares uma decisão a respeito da vossa relação. Literalmente, disse: «Diz-lhe que ou se compromete ou acabámos».

      – Então, acabámos. Eu disse-lho, mas não quer entendê-lo – Stefan levantou bruscamente o auricular e apagou as mensagens sem se incomodar em ouvi-las, diante do olhar reprovador de Maria. – Trabalhas para mim há doze anos. Porque me olhas assim?

      – Nunca te importará acabar uma relação?

      – Não.

      – Isso diz muito de ti, Stefan.

      – Sim, que lido bem com os fins das relações.

      – Não, que as mulheres com quem sais te são indiferentes.

      – Tanto como eu a elas.

      Abanando a cabeça, Maria recolheu duas chávenas vazias da secretária de Stefan.

      – Tens todas as mulheres que queres e não há uma única com que queiras assentar. És um homem com sucesso em todos os campos, exceto no pessoal.

      – Enganas-te.

      – Não acredito que não queiras mais de uma relação.

      – Quero sexo frequente, apaixonado e sem complicações – Stefan respondeu com um sorriso ao olhar de desaprovação da assistente. – Por isso, escolho mulheres que querem o mesmo.

      – O amor transformar-te-ia.

      Amor? Só de ouvir a palavra algo bloqueava no interior de Stefan. Baixou os pés da secretária.

      – Desde quando faz parte do teu trabalho ocupares-te da minha vida privada?

      – Como queiras, não sei porque me incomodo – disse Maria. E saiu, mas voltou imediatamente. – Há uma pessoa que quer ver-te. Talvez ela te ajude a recordar que és humano.

      – Uma mulher? Pensava que a minha primeira reunião era às dez.

      – Veio sem hora marcada, mas não tive coragem de lhe dizer que se fosse embora. É uma freira e diz que tem de falar urgentemente contigo.

      – Uma freira? – perguntou Stefan, espantado. – Se veio salvar a minha alma, chega tarde. Diz-lhe que se vá embora.

      Maria endireitou os ombros.

      – Não vou expulsar uma freira.

      Stefan soprou de exasperação.

      – Como podes ser tão inocente? Não ponderaste que pudesse ser uma stripper?

      – Sei quando um hábito é verdadeiro. E não és nada atraente quando és tão cínico.

      – Mas sempre me serviu de escudo protetor. E agora que amoleceste, vou necessitá-lo mais do que nunca.

      – Recuso-me a dizer a uma freira que se vá embora. Além disso, tem um sorriso muito doce – Maria suavizou a sua expressão antes de olhar para ele com determinação. – Se queres expulsá-la, terás de o fazer tu mesmo.

      – Está bem, manda-a entrar. Vais ver como é fácil alugar um fato de freira.

      Maria foi-se embora, evidentemente aliviada, e Stefan esperou por uma visita da qual não esperava obter nenhum benefício.

      A sua irritação aumentou ao ver a freira a entrar com a cabeça coberta inclinada. A atitude pia dela não afetou Stefan, que a observou da poltrona sem se alterar.

      – Se espera que admita os meus pecados, advirto-lhe que tenho uma reunião daqui a uma hora e não é tempo suficiente para os resumir. Se o que quer é dinheiro, os meus advogados encarregam-se das minhas obras de caridade. Eu ganho o dinheiro, mas gastam-no outros.

      O tom de voz que usou teria afugentado muitos, mas a freira limitou-se a fechar a porta atrás dela.

      – Não se incomode – disse ele, com frieza. – Sairá dentro de segundos. Não compreendo o que pretende com... – emudeceu ao ver que a mulher tirava o toucado e um cabelo loiro-prateado caía em cascata pelas suas costas.

      – Não sou uma freira, Stefan – a sua voz suave e agitada pareceu mais própria de uma alcova do que de um convento.

      – É evidente – disse ele, irritando-se com Maria por se ter deixado enganar. – Estou habituado a que as mulheres recorram a qualquer artimanha para conseguirem um encontro comigo, mas nenhuma tinha caído tão baixo ao fazer-se passar por freira.

      – Tinha de passar despercebida.

      – Receio que uma freira não passe precisamente despercebida no bairro financeiro de Atenas. Da próxima vez, veste um fato.

      – Não podia arriscar-me a ser reconhecida – a mulher olhou para a janela e, para exasperação de Stefan, aproximou-se para contemplar a vista.

      Quem era? Havia algo vagamente familiar no seu rosto. Stefan tentou despi-la mentalmente para ver se o ajudava a recordar, mas era difícil pensar numa freira nua.

      – Dado que não me deito com mulheres casadas, não entendo a necessidade do disfarce. Esclarece-me, por favor – Stefan arqueou um sobrolho. – Onde? Quando? Tenho uma memória péssima para os nomes.

      Selene desviou o olhar da janela e cravou os seus penetrantes olhos verdes nele.

      – Onde e quando, o quê?

      Stefan, que odiava mistérios e não se caracterizava pelo seu tato, perguntou:

      – Onde e quando nos deitámos? De certeza que foi fantástico, mas vais ter de me dar detalhes.

      Ela pigarreou.

      – Não me deitei contigo.

      – Tens a certeza?

      – Segundo os rumores – disse ela com frieza, – o sexo contigo é inesquecível, portanto, suponho que o recordasse.

      Mais intrigado do que teria estado disposto a admitir, Stefan recostou-se na poltrona.

      – Vê-se que sabes mais de mim do que eu de ti. Portanto, a questão é o que fazes aqui.

      – Disseste-me que voltasse quando passassem cinco anos e acabaram na semana passada. Foste a única pessoa que foi atenciosa comigo em toda a minha vida.

      O tom emotivo dela disparou os alarmes na mente de Stefan. Habituado a detetar a vulnerabilidade para a usar em proveito próprio, suavizou a sua atitude.

      – Deve tratar-se de um engano, porque eu nunca sou atencioso com as mulheres. De facto, esforço-me para não o ser para evitar que comecem com insinuações sobre anéis, casamentos e casinhas no campo. E isso não é o meu estilo.

      Selene sorriu.

      – Garanto-te que foste muito amável comigo. Se não fosses tu, acho que me teria atirado ao mar naquela festa. Conversaste comigo toda a noite e deste-me esperança.

      Stefan arqueou os sobrolhos,