essa incrível boca quando ouvissem as doze badaladas.
Ela deteve-se de repente quando ele a impediu de aceder à sua via de escape. Havia demasiado barulho para manter uma conversa, mas Emma não teve o menor problema para lhe comunicar a sua impaciência enquanto a levava em direção ao piano, colocando-a entre uma loura com um vestido decotado e um homem baixinho e careca que não deixava de olhar para esse decote.
Nathan olhou para a loura sem mostrar interesse. Ainda que gostasse de ver uma mulher meio despida tanto como qualquer outro homem, não era fã dos peitos artificiais. Ele preferia curvas que se movessem; as de Emma, neste caso.
Enquanto ela cantava com os demais, Nathan pôs as duas mãos sobre o piano, prendendo-a entre os seus braços. Teve de fazer um esforço para não se apertar contra o corpo feminino e até conteve um gemido ao recordar as suas suaves nádegas. O desejo que sentia quase o impedia de ouvir a música.
Sem poder evitar, inclinou a cabeça para o seu pescoço, o delicioso aroma do seu perfume envolvendo-o e provocando uma amnésia momentânea. Qual era mesmo a razão do seu aborrecimento com ela?
Em seguida conseguiu recordar.
Numa pausa entre canções, sussurrou-lhe ao ouvido:
– Eu e o teu pai tivemos uma conversa muito interessante esta tarde.
Emma levantou um ombro, como uma espécie de barricada.
– O Cody mencionou que tinhas que lhe fazer uma proposta.
Nathan também tinha uma proposta para ela. Uma proposta de natureza muito diferente à que teria discutido com Silas Montgomery.
– O teu irmão disse-te sobre o que falámos?
– Não.
– E não sentes curiosidade?
– Devia sentir?
Nathan inclinou-se um pouco mais, até tocar na sua testa.
– O teu nome veio à baila.
Emma fulminou-o com o olhar, mas antes de poder abrir a boca, o pianista começou a tocar as primeiras notas de Come Fly With Me e a conversa tornou-se impossível.
O que se estava a passar? Emma não se portava como uma jovem emocionada porque estava quase a casar-se, mas Nathan estava convencido que ela estava por trás das condições que o seu pai tinha imposto. Silas Montgomery estava disposto a dar-lhe a sua preciosa filha, tudo o que desejara, e Nathan sabia que Emma o desejava. Tinha-lho deixado bem claro três semanas antes, quando a tirou da festa de Natal de Grant Castle. Então, porque tinha saído a correr?
Do outro lado do piano, uma mulher de meia-idade olhava para ele com a sobrancelha franzida, mas Nathan disse-lhe com os olhos que se metesse nos seus assuntos e ela virou-se de imediato para o homem careca, que agora parecia cativado pelo decote de Emma.
Nathan conteve o fôlego, contando até dez para não lhe mostrar os dentes como um cão de guarda. Mas imediatamente tentou descontrair-se com a romântica canção que tinha feito com que gerações de mulheres se apaixonassem enquanto admirava a beleza com que tinha de casar-se se queria fazer negócios com o pai dela.
Nathan e o irmão de Emma, Cody, que eram amigos desde a universidade, andavam há algum tempo a tentar associar-se profissionalmente, mas não tinham encontrado a forma de o fazer. Quando começaram a discutir a ideia de uma joint venture entre a companhia petrolífera Montgomery e a Investimentos Case, Nathan não tinha pensado que casar-se com Emma fosse parte das negociações, mas não podia dizer que tivesse sido uma surpresa total que Silas tornasse essa questão num fator fulcral da negociação. O projeto seria a longo prazo e requereria um grande capital por parte de ambas as empresas, mas, pelos vistos, Silas estava disposto a cimentar os laços entre a Investimentos Case e a empresa petrolífera Montgomery através do casamento.
E Emma estava por trás dessa decisão. Deveria ser um elogio que o desejasse tanto a ponto de convencer o seu pai para a utilizar nas negociações. E porque é que Silas iria discordar? Depois de terem casado, Emma seria responsabilidade de outra pessoa.
– Tens uma voz assombrosa – disse-lhe a loura que estava ao seu lado. – E sabes a letra.
Nathan notou que Emma ficava tensa perante o evidente ataque.
– A minha mãe adorava Sinatra e costumava ouvir os seus discos quando eu era criança. Costumava chamar-me «o seu pequeno Frank», mas não pelos meus dotes musicais, era mais porque era bastante traquinas.
A loura deu uma gargalhada.
– Eu diria que continuas a ser – murmurou Emma.
Nathan sorriu. Gostava do seu sentido de humor. Tinha tudo: bonita, sexy, divertida.
Achando que lhe tinha sorrido a ela, a loura inclinou a parte superior do corpo para ele, pondo o decote ao alcance da sua mão. E como se isso não fosse suficiente, uma longa perna assomou pela abertura do vestido, acariciando a sua anca.
– Chamo-me Bridget.
– Nathan – disse ele, apertando-lhe a mão. – De onde conheces o Silas?
Mas não ouviu a resposta de Bridget porque, ao dar-lhe a mão, tinha deixado o campo livre a Emma, que aproveitou a oportunidade para sair a correr.
Na sua pressa por escapar, e sem se aperceber da comoção que estava a causar, Emma empurrou o homem careca, que olhou para ela como se os olhos lhe fossem saltar das órbitas.
Nathan olhou para a loura e viu-a a encolher os ombros, fazendo beicinho quando ele saiu da biblioteca.
Mas Emma não tinha percorrido mais do que cinco metros quando chegou ao seu lado e lhe passou um braço pela cintura, levando-a para o único sítio no primeiro andar onde ninguém os incomodaria: o escritório de Silas.
– A última vez que nos vimos tive a impressão de que tinhas vontade de festa – disse-lhe ao ouvido.
Emma olhou para ele com receio, como um potro assustado perante a chegada de um puma. E tinha razão em ter receio. Nenhum homem perseguia uma mulher como ele o tinha feito, a menos que quisesse tê-la em posição horizontal.
– Talvez, mas isso foi antes – admitiu.
– E isto é agora.
Nathan abriu uma porta ao final do corredor e empurrou-a suavemente para o interior. As luzes estavam apagadas, mas havia um pequeno candeeiro aceso sobre uma enorme secretária de mogno. Numa casa normal, um móvel desse tamanho teria anulado toda a divisão, mas aquela mansão tinha sido construída para impressionar. Sobre as paredes forradas a carvalho havia quadros de um dos pintores favoritos de Nathan, um artista de princípios do século xx que retratava as paisagens do Texas como ninguém. E em frente à lareira de mármore, um enorme sofá de pele com cadeirões a combinar. Ao contrário das delicadas antiguidades francesas que decoravam o resto da casa, aquela divisão de linhas simples e masculinas parecia-se com o magnata do petróleo que ali vivia.
Antes que Emma pudesse protestar, Nathan empurrou-a suavemente contra a porta, as vozes e a música da festa tornaram-se num murmúrio. Enfim sós.
Apoiando uma mão sobre o seu ombro, inclinou a cabeça para o olhar nos olhos.
– Não queres saber porque é que apareceu o teu nome na conversa?
– Não me interessa.
– Parece que o teu pai está à procura de um marido para ti.
– Raios – Emma apoiou a cabeça na porta. – Está a tentar casar-me desde a universidade.
– Porquê?
– Porque acha que sou um problema e quer passá-lo a outra pessoa – respondeu ela, sem poder dissimular a sua tristeza. – Está convencido que necessito alguém para cuidar de mim.
Ser a mimada filha de um milionário era parte do seu encanto e Nathan estava desejoso de mimá-la mais do que ninguém.
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