acreditasse no que estava a ouvir.
– Tens a certeza? – Havia um certo receio no seu tom, mas o pânico desaparecera.
– Caso contrário, não to ofereceria – indicou ele.
– Isto é incrivelmente amável da tua parte – disse ela, desviando o olhar. – Estou a dar-te muito trabalho.
– Claro que não. Então, aceitas?
Anatole voltou a sorrir, dessa vez, com o sorriso que usava para que as pessoas fizessem o que ele queria. Daquela vez, também funcionou. Ela assentiu tremulamente.
Recusando-se a prestar atenção à voz que lhe dizia que estava louco por fazer semelhante proposta a uma perfeita desconhecida, Anatole ajudou-a a entrar outra vez no carro e dirigiu-se para Mayfair, onde era o seu apartamento.
Olhou para ela. Estava sentada, muito direita e com as mãos no colo, e olhava para a frente, não para ele. Parecia não acreditar que aquilo estava realmente a acontecer. Portanto, deu o passo seguinte para o tornar real para ela e também para ele próprio.
– Talvez devêssemos apresentar-nos. Sou o Anatole Kyrgiakis.
Era estranho dizer o seu próprio nome porque, normalmente, não tinha de o fazer e, quando o fazia, esperava que reconhecessem o seu apelido imediatamente. Contudo, daquela vez, não houve reação.
– Tia Saunders – respondeu ela, com timidez.
– Olá, Tia – disse Anatole, em voz baixa e com um sorriso.
Viu um rubor nas suas faces, mas voltou a concentrar-se no trânsito. Deixá-la-ia um pouco em paz para que relaxasse um pouco, mas, sem dúvida, continuava a estar tensa quando parou o carro à frente da mansão elegante de estilo georgiano e, depois, a guiou para o interior, carregando a mala estragada. Quando entraram no seu apartamento, que ocupava as águas-furtadas, Tia susteve a respiração.
– Não posso ficar aqui! – exclamou, num tom de surpresa. – De certeza que vou estragar alguma coisa!
Tia observou o sofá branco, comprido e coberto de almofadas de seda e o tapete grosso e cinzento que condizia com as cortinas das janelas amplas. Parecia algo saído de um filme.
– Simplesmente, não entornes café em cima de nada. – Anatole riu-se. – E falando de café… Mataria por uma chávena. E tu?
Tia assentiu.
– Sim… obrigada – balbuciou.
– Ainda bem. Vou ligar a máquina. Mas, primeiro, deixa-me mostrar-te o teu quarto. E porque não tomas um duche para te refrescares? A julgar pelo que me contaste, deves ter tido uma noite má.
Anatole agarrou novamente na mala dela e decidiu que pediria ao gerente do edifício para lhe trazem uma nova. Arrastou-a para um dos quartos de convidados.
Tia continuou a olhar à volta, maravilhada, como se nunca tivesse visto algo parecido. E, certamente, era assim, pensou Anatole. Sentiu uma pontada de satisfação fora do comum. Era um sentimento agradável poder dar àquela rapariga que, sem dúvida, não lidara bem com a morte dos pais e com aquele trabalho mal pago, uma experiência breve do luxo. Queria que desfrutasse.
Anatole deixou a mala no chão, que voltou a abrir-se e a espalhar todo o seu conteúdo, e apontou para a casa de banho incorporada no quarto. Depois, deixou-a com outro sorriso e dirigiu-se para a cozinha.
Cinco minutos mais tarde, o café estava a fazer e ele estava sentado no sofá a examinar as mensagens de correio eletrónico e a tentar por todos os meios fazer com que a sua mente não divagasse para a convidada inesperada que estava a tomar um duche…
Questionou-se se os seus encantos se prolongariam para além do rosto bonito. Suspeitava que sim. Era esbelta, isso via-se claramente, mas não magra. Não. Embora usasse roupa barata e pouco favorecedora, vira os montículos suaves dos seios por baixo. E era baixa, bastante mais do que as mulheres com quem costumava sair.
Talvez se devesse ao facto de ele medir um metro e oitenta e seis ou a estar habituado a mulheres seguras de si próprias que estavam à sua altura em muitos sentidos e avançavam pelo mundo conscientes do seu valor e dos seus atributos.
Mulheres como Romola.
A expressão dele mudou. Antes de Tia se precipitar para a frente do carro, tomara a decisão de afastar Romola da sua vida. Então, porque não haveria de o fazer naquele mesmo instante? Podia enviar-lhe uma mensagem e dizer-lhe que, afinal, não podia encontrar-se com ela naquela noite, que surgira um imprevisto e que não sabia quando voltaria a passar por Londres. E que talvez devessem aceitar que o seu tempo juntos chegara ao fim… Com uma crueldade que era fácil de exercitar quando se via como alvo de uma mulher que queria mais do que ele estava disposto a dar, mandou-lhe uma mensagem e amorteceu o golpe com o envio de uma pulseira de diamantes como presente de despedida. E, depois, com uma sensação de alívio, voltou a concentrar-se naquela noite.
Um sorriso começou a aparecer-lhe nos lábios e os seus olhos suavizaram-se um pouco. Já brincara ao príncipe e à mendiga ao convidar Tia a ficar no seu apartamento. Então, porque não haveria de lhe dar o pacote completo e de lhe oferecer uma noite que sempre recordaria? Champanhe, um bom jantar… A experiência total!
Tinha a certeza de que era algo que nunca vivera na sua vida desfavorecida.
É claro, não lhe ofereceria mais nada. Ele nem sequer ficaria lá. Passaria a noite no Hotel Mayfair, onde o pai tinha sempre uma suíte reservada. É claro que o faria.
Qualquer outra coisa estava fora de questão… por muito bonita que fosse.
Capítulo 2
Tia estava num estado de felicidade completa enquanto a água quente lhe caía pelo corpo, formando espuma com o champô e o gel que encontrara no cesto de produtos de banho de aspeto muito caro na cómoda da casa de banho. Nunca desfrutara de um duche tão delicioso.
Quando saiu com o cabelo tapado por uma toalha e outra toalha à redor do corpo, sentiu-se renascida. Ainda não tivera tempo para se focar no que estava a acontecer porque tudo lhe parecia como um conto de fadas. Um príncipe que a deixava com falta de ar trouxera-a para ali.
Era incrivelmente bonito. E muito amável. Podia tê-la deixado perfeitamente na calçada com a mala estragada e ter-se afastado sem se preocupar.
Mas não o fizera: Levara-a para casa. E como podia dizer que não? Em toda a sua vida confinada e aborrecida, dedicada ao cuidado da sua pobre mãe e de outros, quando acontecera uma coisa dessas, exceto nas suas fantasias?
Tia ergueu o queixo e olhou-se ao espelho com decisão. Não sabia o que estava a acontecer, mas ia desfrutar do momento.
Virou-se e tirou a toalha da cabeça, deixando que o cabelo húmido caísse livre. Depois, procurou desesperadamente entre a roupa para encontrar alguma coisa que fosse melhor do que umas calças de ganga velhas e uma camisola larga. É claro que não tinha nada nem remotamente adequado, mas, pelo menos, melhoraria um pouco. Talvez não conseguisse parecer uma princesa de conto de fadas, mas esforçar-se-ia ao máximo.
Quando regressou àquela sala antiga e palaciana, dirigiu diretamente o olhar para a figura que parecia relaxada no sofá. Meu Deus, não podia ser mais bonito.
Tirara o casaco do fato formal e afrouxara a gravata. Desabotoara o colarinho da camisa e os botões de punho.
Levantou-se.
– Já estás aqui. – E sorriu. – Senta-te e desfruta do teu café.
Anatole apontou com a cabeça para o lugar onde pusera um prato de bolos que tirara do congelador e, depois, descongelara no micro-ondas. Agora, cheiravam deliciosamente.
– Estás a dieta ou posso tentar-te? – perguntou, num tom amável.
Anatole observou como corava novamente. Talvez não devesse ter usado a palavra «tentar». E, se Tia corava porque se