CAPÍTULO QUATRO — Será que isso aqui é algo importante? — Eu segurei o livro no alto, sem saber se as marcas estranhas na capa do livro significavam alguma coisa. Violet enfiou a cabeça na sala de artesanato um segundo depois. As sobrancelhas dela franziram e ela estudou a capa marrom na minha mão. — Essa não é a escrita de sua avó ou o Grimório da sua família. Parece um livro Feérico. Essa é a língua Feérica. Eu não imagino Isidora teria deixado notas nele. Eu balancei a cabeça e suspirei. — Bem, eu não achei mais nada. Isso é inútil. Parece que minha avó não pensou em me deixar um bilhete ou uma pista sobre este mundo. Talvez eu devesse voltar para a Carolina do Norte para ficar com meus filhos. Violet se aproximou de mim e apertou minha mão. — Você mencionou algo encaixando no lugar. Você se sente diferente agora? Olhando pela janela, eu vi a lagoa e as vitórias-régias florescendo. — Honestamente, estou sobrecarregada, mas ainda sinto que é aqui que estou destinada a estar. Mas eu não tenho ideia do que deveria fazer como Guardiã e isso me irrita. Eu não estou acostumada a não saber das coisas. Violet riu e saiu da sala, me puxando com ela. — Agora, isso soa como Isidora. Ela era a chamada na cidade pela maioria das pessoas se eles estivessem precisando de poções ou receitas ou precisassem de ajuda com os entes queridos. O que importa é que você se sente como se pertencesse. — Isso não é o que importa. Não posso ajudar ninguém com nada. Eu nem sei o que são poções. Eu diria que não tenho magia para aprender, mas sei que seria mentira. — Isso já é alguma coisa. Só de dizer que tem certeza que tem magia já te faz muito diferente da mulher com quem falei há algumas semanas. Está dizendo isso por causa do que lhe disseram? Ou alguma coisa aconteceu? — Violet soltou minha mão e foi para a cozinha. Eu fui atrás dela enquanto ela ia para o fogão. — Eu fiz algumas flores aparecerem quando eu estava no jardim arrancando ervas daninhas. Eu estava sobrecarregada na hora e as emoções meio que vazaram de mim. Mas quando eu realmente paro para analisar a minha vida, eu acho que sempre houve algo sob a superfície. Quando estava em trabalho de parto com meus filhos, fiz com que os monitores fetais quebrassem. E quando as pessoas me deixavam com raiva de alguma forma aconteciam coisas como bebidas derramadas, defeitos no guarda-roupa e diarreia quando direcionava minha raiva para eles. Nunca pensei muito nisso, supondo que estava sendo paranoica. Depois das últimas semanas eu passei a considerar esses eventos de forma diferente. Violet se apoiou no balcão enquanto se inclinava e gargalhava. — Diarreia? Essa é clássica. Quanto a aprender a usar magia, posso ajudar com poções e outros feitiços com a sua parte ligada à bruxaria. Mas você também é parte Feérica e eu já não posso ajudar com essa metade. Nem com o papel que você aceitou como Guardiã. É aí que o Grimório da sua família vem a calhar. — Você mencionou isso antes. Seria um livro, certo? Como ele se parece? Eu não encontrei nada que tivesse o histórico da minha família. Violet ligou o fogão e colocou a chaleira para ferver. — Eu nunca o vi, mas é muito mais do que sua história familiar. É um compilado de feitiços e magia que seus ancestrais criaram. Aposto que também há informações sobre o portal e seus deveres nele. — Então parece que eu preciso encontrar esse maldito livro. — De repente me senti derrotada. Eu procurei pela maior parte da casa, mas não encontrei nada. — Você pode me dizer por que minha família tem esse papel? Por que não posso passar o trabalho para alguém como Sebastian? Ele seria capaz de lutar contra qualquer um que não deveria atravessar para a Terra. Violet balançou a cabeça e pegou o leite da geladeira. — Tê-lo no comando seria um desastre. Ele nunca permitiria que ninguém passasse. Não sei a história toda, mas sei que sua família se estabeleceu em Pymm's Pondside há muito tempo, quando havia muitas pontes do Reino Feérico para este mundo. À medida que a magia secava no mundo, o portal em sua terra permaneceu. Suspeito que alguém da sua linhagem o criou como uma maneira de visitar a família aqui e vinculou sua existência à sua linhagem quando o Reino Feérico começou a perder seu poder. Eu virei para encará-la e quase derrubei as canecas que eu tinha acabado de pegar com o choque. — Como um reino inteiro pode perder energia? Isso parece impossível. Violet suspirou e colocou saquinhos de chá nas canecas que eu coloquei na ilha da cozinha. — Tem a ver com o Rei e quando ele assumiu o trono. Ele consumiu uma parte significativa da magia do reino e até roubou a magia de algumas das criaturas que vivem nele. Foi a única maneira dele vencer o rei anterior. Aquilo era fascinante. — Então, há tipo uma família real escondida que pode tomar o trono de volta e restaurar o Reino Feérico à sua antiga glória? — Era um plot comum em romances de fantasia, meu gênero favorito. Violet riu disso e pegou a chaleira quando ela começou a assobiar. Ela derramou a água quente nas canecas. — As histórias não mencionam isso. Não sou Feérica, mas pelo que sei, o trono é tomado à força. Não é algo que é passado de herdeiro para herdeiro. O mais forte reina Eidothea e o seu povo. Mas há um alto escalão e apenas essas famílias do topo têm a capacidade de lutar pelo trono. Suspeito que sua família pertence a esse nível mais alto. Eu recuei como se ela tivesse me dado um tapa. Eu não queria ter nada a ver com seres que explorassem outros para ganho pessoal. — Aff. Graças aos Deuses eu não sou uma pessoa vil que passaria por cima de outros para poder tomar o trono. — O Reino Feérico precisa de um governante que pense no bem maior. Talvez então o equilíbrio entre nossos mundos possa ser restabelecido. — Violet colocou açúcar em seu chá, em seguida, ergueu a caneca fumegante para seus lábios. Eu também ergui a minha e deixei o vapor aromático me acalmar. — E o que poderia acontecer? Não vejo humanos aceitando que Feéricos existem. Eles lançariam bombas nucleares para destruir todos nós se soubessem que criaturas míticas eram reais. — Não havia como negar a forma como reagimos ao medo. Pensei em comprar uma arma depois que Tim morreu. No final, percebi que seria mais um risco do que ajuda. — É verdade. De qualquer forma isso não importa agora. Não há ninguém vivo capaz de desafiar o Rei Voron. Eu ofeguei e derrubei meu chá quando minhas mãos voaram para minha cabeça. Aquele ping terrível tinha começado novamente e estava muito mais forte do que nunca. — Fiona, você está bem? O que houve? — A voz da Violet parecia que vinha de muito longe. Eu não conseguia me concentrar em nada, exceto no barulho e no puxão em meu peito. — Minha cabeça — grunhi com os dentes cerrados. — Tem esse ping incessante. Uma mão correu para cima e para baixo nas minhas costas, esfregando círculos. Descubra de onde vem essa merda! Respirei fundo, várias vezes, e me concentrei na fonte por vários segundos. Violet estava perguntando se ela deveria me levar a alguém ou algo na cidade chamado Zreegy. Eu não tinha ideia de quem ou o que Zreegy era. Tudo o que eu conseguia pensar era em acabar de uma vez por todas esse ping e puxão. Estava piorando e agora era insuportavelmente doloroso. Depois de vários segundos, deixei minhas mãos caírem e olhei para os olhos azuis de Violet. A preocupação dela era o lembrete que eu precisava de que havia alguns na cidade que se importavam comigo. — Você está bem? — perguntou ela, depois de alguns segundos. Eu assenti e passei a língua em meus lábios secos. — Estou bem agora. É que sinto esse ping na minha cabeça desde que cheguei e está piorando. Eu pensei que estava vindo da casa, mas agora eu suspeito que está vindo de fora. Violet se virou e foi para a despensa. — Pode ser apenas as linhas ley e você está sensível ao poder que corre através delas, mas vamos sair e descobrir