depois de vários anos dedicados à pilotagem comercial, nas empresas de aviação existentes antes da independência de Angola.
A TAAG é uma empresa que representa o expoente máximo da aviação em Angola e o sonho e ambição de qualquer piloto angolano, ou aqui residente, e, mesmo para muitos profissionais de outras paragens, representa um grande desafio e enorme prestígio estar ao serviço da TAAG.
A Aviação Civil em Angola era desenvolvida com muita seriedade, responsabilidade e premiava a sua actividade com base em normativos, que cumpria e fazia cumprir com rigor, pois havia fiscalização e supervisão competente de todos os operadores.
A progressão das carreiras na TAAG era feita de modo ponderado na vertente da experiência, antiguidade, ética, competência, profissionalismo e baseada no mérito dos seus profissionais, nas diversas direcções, nomeadamente na Direcção de Operações de Voo, que superintende, os tripulantes da cabine de pilotagem e da cabine de passageiros e os oficiais de operações, que cuidam da preparação e acompanhamento dos voos.
Assim, foi com muita honra e elevado prazer, que aceitei de pronto prefaciar uma obra escrita por alguém — o Comandante Oswaldo Mendes — que foi meu colega, mais jovem, mas igualmente dedicado ao exercício da aviação, com esmero e profissionalismo, como nos tempos da velha boa escola, com créditos, tarimba, maturidade e discernimento dos seus comandantes.
De referir que a aviação é um tema apaixonante, que absorveu toda a minha vida, com enorme dedicação, arte e saber, e, porque nesta obra se pretende realçar as inconformidades e omissões, que o exercício da Aviação Civil conheceu e vem sofrendo de algumas dificuldades, naquilo que se entende, pelas boas práticas da indústria aeronáutica.
Deixar um legado, retratar momentos menos expressivos da aviação, será importante para memória futura, para que no conjunto se perceba e que irreversivelmente se valorize, sem equívocos, que a aviação requer que os titulares de cargos possuam habilitações, conhecimento apropriado da Língua Inglesa, competência e reconhecimento dentro do plano local, regional e internacional.
Para os amantes da aviação e outros interessados, esta obra é o testemunho que vale a pena ler e que desperta, pela importância que o mundo aeronáutico encerra. Daí que, com inclinado respeito e responsabilidade, temos vindo a sugerir, pois, de acordo com a nossa estrutura e organigrama funcional, faria todo o sentido que houvesse um Conselheiro junto da Presidência da República para assessoria, numa área tão crítica e cujas acções têm impacto negativo ou positivo, por largas décadas.
Jaime José Rodrigues Pinto
(Comandante Sénior da TAAG, Director de Operações.
Fundador da Spirit Airlines (USA).
Piloto de Linha Aérea, desde 1980.
Instrutor e Verificador de Voo credenciado pela Boeing.)
CAPÍTULO I.
EMBRIÃO DA AVIAÇÃO ANGOLANA
Auster D-5/160
Angola tinha e tem de ser vista, na perspectiva de dimensões continentais, com autonomia e qualidade de oferta de serviços aéreos em cada Província, como resposta à dinâmica do progresso e evolução da economia de cada região e do impulso e desenvolvimento dos vários estratos sociais.
Nesse sentido, e fazendo cálculo do que se verificou no passado, não obstante a realidade actual, poder-se-ia reter um factor na memória colectiva que, à época, proporcionou o conhecido desenvolvimento da aviação, ou seja, este empenho coube à sagacidade das autoridades aeronáuticas «SAC» e ao papel destacado do Aero Clube de Angola (espalhado por várias Províncias).
A estrutura aeroportuária em Angola foi sendo melhorada e dimensionada, sempre com ambição e foco na prevenção e tratamento tecnológico, bem como com um compromisso célere sobre as questões elementares da segurança de voo, na articulação da densidade de tráfego, para acomodar as normas da legislação, (ICAO) e, não menos relevante, na exigência da preparação contínua da qualidade e formação dos técnicos.
Angola, de certo modo, herdou o passivo desenvolvimento da Aviação Civil, por altura da independência, malgrado as convulsões e o êxodo dos quadros, então capazes de assegurar uma transição de qualidade, nos marcos e requisitos da indústria.
Descrever o relato dos acontecimentos e dos feitos monumentais que viriam a transformar-se, de modo indelével e irreversível, naquilo que, no futuro, viria a constituir-se o amplo embrião da formação de Angolanos no quadro da aeronáutica — pilotos; engenheiros de manutenção e engenharia; mecânicos de linha; assistentes de bordo; técnicos de controlo de tráfego e load control; quadros administrativos dos recursos humanos e da direcção comercial; controladores de tráfego aéreo; operadores de telecomunicações aeronáuticas; oficiais de aeroportos; técnicos de manutenção de equipamentos de comunicações e de ajudas rádio; chefes de unidades de bombeiros; despachantes de operações de voo; etc.; e todo o conjunto de técnicos adjacentes à aviação necessários para assumir os cargos com competência e responsabilidade — não se traduz necessariamente numa tarefa fácil. Em tese, e face à grande relevância dos episódios, o papel protagonizado por estes valiosos e abnegados jovens, embevecidos na mais vibrante paixão, foi de extrema importância, pois rapidamente responderam ao desafio, na companhia de outros já qualificados, e entregaram-se de forma empírica e audaz nesta aventura.
À data dos factos, esta nova vaga de técnicos e profissionais, que se ajustavam às novas e desafiantes ocupações, estaria restringida a uma modesta perícia de recém-formados, mas frequentemente sujeitos a pressões, até porque não existiam outras respostas plausíveis diante do novo normal e na demanda gritante de profissionais para os serviços.
A velocidade a que tudo viria a desenvolver-se, associada ao instável cenário político que se vivia, muitos ver-se-iam alistados in extremis e impulsionados para as missões (voos) e outras tarefas sem grande preparo. Abro aqui um parêntesis, devido à minha vivência como piloto. Quantas vezes desafiávamos os céus sem sequer termos familiaridade com as rotas (briefing), num misto de atrevimento, amadorismo, e, claro, num contexto épico em nome do alto heroísmo que, pela natureza, mais se assemelhava ao do «tipo militar», sem suporte adequado ao nível da aeronavegação e das comunicações, porque tudo já começava a falhar, e/ou, pelo menos, estávamos limitados a uma operação intermitente, para além do registo insólito de operações em condições fora do envelope das limitações operacionais das aeronaves.
Em resumo, apesar do treino, era preciso muitas vezes queimar etapas. Nestas circunstâncias, tal atitude seria encorajada, diante da capacidade e da facilidade que muitos revelavam na adaptação e aprendizagem, prescindindo da necessidade do treino regulamentar previsto, cumprindo apenas os tempos mínimos, porque, no fundo, diante dessas tais circunstâncias transmitiam confiança. Neste período, o treino conheceu um forte ímpeto nestes segmentos de ponta, para atender e cobrir a extrema necessidade existente e devido ao facto do jovem País estar praticamente ilhado, sendo a aviação a alternativa viável. A conjuntura, de um modo geral, veio redobrar com grande incidência a envolvência dos técnicos da aeronáutica.
Reportando-nos a este período e num registo até muito recentemente, havia uma maior valorização e reconhecimento no contexto da utilização consentânea dos quadros.
O País pugnava com enorme apreço e extremada noção o esforço e valorização do capital humano e do papel da prata da casa. Nesse sentido, o princípio da autonomia num sector bastante exigente era inquestionável nestas questões do valor e asseguramento da formação continuada, vis-à-vis a integral capacidade científica e tecnológica na correlação do poder dos Estados.
Nestes primórdios, do alvorar da bandeira e do País, acarinhava-se e empregavam-se todos, com vista a um desempenho categórico e irrepreensível, evitava-se o desperdício de recursos de mote próprio, por capricho ou incoerência, a coberto de uma