por um momento. "Virei a esquina na altura em que o homem disparava. O homem que atingiu estava a cair. Os olhos pousaram-se em mim, e eu sabia, de alguma forma, que ele ia começar a atirar em mim. Virou-se, e eu carreguei no acelerador e comecei a ziguezaguear para trás e para a frente do outro lado da rua."
"Viu o suficiente para conseguir descrever o atirador?"
Olhos ainda fechados, Tony disse: "Tez escura, quase como se se bronzeasse muito. Cabelo mais grisalho no geral, e uma barba maioritariamente grisalha, aparados. Casacão bonito...comprido. London Fog, ou outra marca cara, mas não era um casaco leve – mais como um sobretudo grosso, com um cachecol cor de carvão. Sem chapéu. Tinha a arma na mão direita.” Abriu os olhos. "É isso. É tudo o que consigo lembrar."
Fiquei impressionada. Nunca conseguiria fazer o que este homem tinha acabado de fazer, mesmo que tivesse tido mais tempo para estudar a cena.
"Incrível!"
Tony sorriu suavemente. "Ficaria surpreendida com o que se lembra quando está a ser alvejada."
Eu sabia o que isso era. Mas não o ia dizer ao Tony.
Disse ao Tony que o táxi teria de ficar ali até o pessoal do laboratório acabar a investigação. O atirador tinha atingido a bagageira do táxi pelo menos duas vezes, e precisávamos da evidência. Disse-lhe que estava livre para ir, se quisesse.
"Acho que vou para casa, Tenente", disse Tony. "Estou um pouco abalado."
Agradeci-lhe e dei-lhe um dos meus cartões, caso se lembrasse de qualquer outra coisa. Tínhamos a morada dele, se precisássemos dele.
O Sam e eu, saímos do táxi com relutância. Reparei imediatamente em duas coisas. Uma, que o M.L. tinha chegado e já tinha levantado a lona para verificar a vítima, e segunda, que estava a nevar.
Dalton McFee, barba a brilhar com pingentes de neve, voltou a colocar a lona sobre a vítima. Virou-se para nós: "Oficialmente, só pode dizer que a morte parece ser por tiro. Extra oficialmente, foi o mesmo atirador dos outros casos. Parece que alguém anda a executar traficantes de rua e a usar uma 9 mm."
Um dos agentes trazia um rádio portátil. "Tenente, é para si. Há outro caso.”
"Mas que raio? " Disse eu, pegando no rádio.
***
O DETETIVE TORY MASTERSON dos Narcóticos juntou-se a nós no local do quarto homicídio. Estava a falar ao telemóvel quando eu e o Sam chegámos, enquanto os polícias vigiavam a porta.
"Bem, isso estraga completamente o nosso caso, é o que isso significa! Três meses de trabalho por água abaixo, assim!” Masterson disse energeticamente. "Tinker era o único elo com as pessoas acima dele!" Ouviu por um momento, e depois disse: "Eu já conhecia os outros três traficantes, e eles também estão mortos!" Ele reparou em nós à porta do apartamento. "Senhor, a Tenente Rooney está aqui. Sim, senhor. Vou dizer-lhe, senhor.” Desligou a chamada, dirigiu-se a nós e apertou-nos a mão.
Masterson já tinha sido da minha equipe, quando era detetive/terceira esquadra. Tinha sido transferido para os Narcóticos depois de mostrar que tinha talento para trabalhar disfarçado. Agora, como detetive/Primeira Classe, andava a colecionar uma data de apreensões e rumores diziam que estava a caminho de se tornar tenente. Era casado e ouvi dizer que tinha um novo bebé.
"Desculpe, Tenente, era o Capitão Phillips" disse Masterson. "Ele disse-me para lhe dizer que sou oficialmente seu até resolvermos estas mortes."
Eu sorri. "Fico feliz em tê-lo, Tory. Vou avisar o Capitão Baker. Também vai ficar feliz em tê-lo connosco. E parabéns pelo novo bebé!"
"Então, quem é a vítima desta vez, Masterson?", Perguntou Sam.
Masterson levou-nos até à vítima, que aparentava ter 50 anos, com cabelo sal e pimenta. Ele tinha sido amarrado a uma cadeira de cozinha, nu. Era óbvio que tinha sido torturado antes de ser morto. Havia várias rasuras de facadas, calculadas para sangrar e ferir e uma garrafa vazia de álcool etílico no chão ao lado da cadeira. Parecia que lhe tinham derramado o álcool sobre as feridas, mas o M.L. teria de o verificar. O cabo de um candeeiro estava também ao lado cadeira. Ainda estava ligado à tomada de corrente e o isolamento de plástico tinha sido retirado da outra extremidade, expondo os fios de cobre no interior. Havia algumas marcas no corpo que mostravam que tinham eletrificado a vítima, incluindo os testículos. Tinham-lhe enfiado um pano pela boca abaixo e usado fita adesiva para a manterem fechada. Mas a causa da morte era provavelmente os três pequenos buracos de bala no peito da vítima, possivelmente através do coração, e organizados em triângulo.
"O nome da vítima era William Joseph Smith, também conhecido como 'Tinker'. A certa altura, era reparador de relógios - mexia com velhos relógios antigos, e foi assim que ganhou a alcunha." Disse Masterson. "Nos últimos anos, era um fornecedor de categoria baixa."
Troquei um olhar com o Sam. Era ali que tínhamos ouvido o nome do Tinker.
"Alguma ideia de quem o fornecia?" Perguntei-lhe.
Masterson abanou a cabeça. "Não, ainda não chegámos tão longe." Apontou para o álcool e o candeeiro. "Mas aposto cinco dólares que quem lhe fez isto sabe. Tenho dois agentes a baterem às portas, a perguntar aos vizinhos se ouviram ou viram alguma coisa, mas as hipóteses são escassas."
"Temos uma descrição do atirador", disse eu. "Temos testemunhas." Dissemos ao Masterson o que tínhamos descoberto no último tiroteio. Quando disse o nome "Esteban Fernandez", Masterson assobiou.
"Porquê o assobio?" Perguntei-lhe. "Esse nome é familiar, mas não consigo lembra-me de onde."
"Temos sarilhos, Tenente", disse Masterson. "Fernández tem o posto de General no México, mas é também o maior chefe de cartel de drogas nesse país. Deixe-me dizer-lhe o que ele fez numa cidade do sul...."
Masterson contou-nos o que Fernandez tinha feito. Quando ele chegou à parte sobre o combate de boxe e a arena, estalei os dedos. "O John disse qualquer coisa sobre isso há uns meses! Parece que um dos lutadores tinha tentado atrasar a luta para que a bomba pudesse ser encontrada e desactivada! " Masterson acenou, e contou-nos mais. Comecei a ficar com arrepios na espinha.
Masterson começou a contar os pontos com os dedos. "Primeiro, temos um líder mexicano do cartel da droga em Chicago. Segundo, é violento. Três, é louco, o que o torna muito imprevisível. E, quatro, é federal."
Os polícias são muito territoriais sobre a jurisdição, e quando ouvi "Federal", encolhi-me interiormente..., mas com uma ponta de alívio. "O que quer dizer com "Federal"? Perguntei-lhe.
"Os Narcóticos receberam um boletim do FBI", respondeu Masterson. "Dizia que se alguma vez fossemos informados de que este Fernandez aparecia na nossa cidade, deveríamos notificá-los imediatamente. Acho que foi enviado para todo o país."
"Então vamos passar a mensagem ao Capitão Baker, e deixá-lo notificar o FBI" disse eu. "É menos uma coisa para nos preocuparmos."
Capítulo 3
A Justice Security, Incorp., tinha o seu próprio edifício numa rua arborizada na melhor parte da cidade.