AAVV

Santa María de Montesa


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e foi um elemento crucial ao nível das transformações nas relações mediterrânicas nos séculos XIII a XV, em boa medida devido aos interesses que recaíam sobre aquela área, já que uma parte da economia ocidental dependia do controlo dos acessos ao Levante e ao Mar Negro.

      O nexo de causalidade entre o desfecho de Acre e a supressão da Ordem do Templo é fácil de estabelecer. Em palavras sucintas, a Ordem, que tinha assumido como objetivo crucial da sua missão a defensa da Cristandade, tinha acabado de dar provas da sua incapacidade militar no Mediterrâneo oriental. Esta razão, a par de outras mais específicas relacionadas com o seu percurso histórico junto da corte capeta, tornava evidente a acumulação de pretextos que ameaçavam o futuro dos Templários. As Ordens Militares (umas mais do que outras) ficaram expostas ao que podemos designar por crise de identidade sem precedentes, em virtude do falhanço de uma das suas missões primordiais. A procura de soluções foi, desde logo, ensaiada e as reações não tardaram. O próprio Mestre Jacques de Molay, em 1305, opôs-se à união dos Templários com os Hospitalários, argumentando que estes últimos tinham sido criados para tratar de doentes. Ao apontar esta especificidade fomentou, como é óbvio, o destino negativo da sua própria instituição.

      REFLEXOS EM PORTUGAL: A INSTITUIÇÃO DA ORDEM DE CRISTO

      A conjuntura centrada no Mediterrâneo oriental e, em particular, a grande mudança da segunda metade do século XIII refletiram-se em Portugal de forma muito clara e coincidiram com alterações importantes. Dois episódios são suficientes para evidenciar o sincronismo com os acontecimentos vividos a longa distância: a conquista de Faro, o último povoado algarvio, em 1249, e a criação da Ordem de Cristo, em 1319. Esta cronologia estende-se ao longo de dois reinados: o de Afonso III, conhecido como o Bolonhês (1248-1279), e o de D. Dinis (1279-1325). Ambos tinham fortes ligações pessoais e políticas à Europa além-pirenaica, o que lhes garantia o conhecimento atualizado de boa parte do que se estava a passar no plano internacional.

      Entre a capitulação de S. João de Acre, a 28 de maio de 1291, e a criação da Ordem de Cristo, a 14 de março de 1319, no rigor do tempo, passaram 27 anos, 9 meses e 17 dias. Se numa leitura objetiva ficamos com a ideia de que bastante tempo passou, numa interpretação mais histórica temos a convicção de que a ligação entre os dois acontecimentos é intensa e se estabelece de forma direta. Acre, apesar de estar tão longe (a cerca de 6.000 km de viagem terrestre), fazia-se sentir muito perto se pensarmos no impacto que tiveram em Portugal os acontecimentos que lá se desenrolaram.