Sara Craven

Confissões de amor


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Louis a almoçar com ele e a debater projetos futuros?

      Embora ela, desde então, preferisse não se aproximar dele, após o seu único encontro com o rotundo autor de Amor na fornalha e A pousada do prazer. E pior ainda, o que se tinha seguido depois.

      Todo o que tinha tentado apagar da sua memória reaparecia agora de repente com todos os seus detalhes, deixando-a momentaneamente enjoada.

      E Louis aproveitou-se disso para convencer os outros, enquanto a ela lhe restava a missão de dizer a uma autora em que acreditava que, afinal, não poderia oferecer-lhe um contrato.

      E aquilo, além disso, serviria provavelmente para aproximar Louis um passo mais do seu objetivo de unir a ficção comercial de homens e mulheres sob a sua liderança.

      E para cúmulo, umas horas depois teria o seu primeiro encontro com a família Harrington, para o que seguramente precisaria de toda a segurança em si mesma que conseguisse arranjar.

      Olhou para a mala de fim de semana que estava a um canto e que continha calças de ganga e botas, juntamente com o vestido caro embrulhado em papel de seda e a moldura artesanal de prata que escolhera como presente de aniversário para sua anfitriã.

      Considerou por um momento declarar-se vítima de um vírus misterioso, mas pôs isso de parte.

      Depois de ter falhado à sua autora, não faria o mesmo a Gerard, principalmente porque percebia que ele também estava nervoso com o fim de semana.

      Tinha de fazê-lo por ele e pela possibilidade de um futuro juntos, se é que a simpatia mútua acabaria por abrir caminho ao amor.

      Um começo cauteloso para um final feliz. Como tinha de ser.

      Era disso que ela precisava. Não uma queda apaixonada para a culpa e para o risco de um desastre. Isso, como todas as outras recordações más, tinha de ficar no esquecimento.

      A viagem decorreu sem incidentes. Gerard conduziu com destreza o seu espampanante Mercedes enquanto falava da abadia e da sua turbulenta história.

      – Diz-se que a família que a comprou na época Tudor subornou os oficiais do rei para que expulsassem os monges e que o abade os amaldiçoou – comentou. – Fosse verdade ou não, o certo é que depois houve anos difíceis, em grande parte devido aos problemas com o jogo e a bebida de uma série de filhos primogénitos, tanto que o meu tataravô, Augustus Harrington, a comprou baratíssima. E como era um homem respeitável e muito trabalhador, dedicou-se ao restauro de Whitestone.

      – Ainda resta muito do edifício original? – perguntou Alanna.

      – Muito pouco, tirando os claustros. Os proprietários da época Tudor derrubaram quase tudo.

      – Vândalos! – Alanna sorriu-lhe. – Suponho que a manutenção não seja pera doce.

      Gerard ficou em silêncio um momento.

      – Não – disse. – Talvez a maldição do abade seja essa. Disse que a propriedade seria eternamente uma pedra ao pescoço dos donos.

      – Eu não acredito em maldições – murmurou ela. – E até uma pedra vale a pena, quando há uma história assim.

      – Eu penso da mesma maneira – disse ele. – Mas não é uma opinião universal. Em qualquer caso, terás de julgar por ti mesma – acelerou um pouco. – Já estamos quase a chegar.

      Subiram mais uma colina e, ao chegarem lá em cima, Alanna viu a massa sólida de pedra esmaecida da abadia recostada pelo vale abaixo, com as suas altas chaminés a elevarem-se para o céu e as suas janelas com os seus pinázios a brilharem ao sol da tarde.

      De ambos os lados da estrutura principal, sobressaíam duas alas estreitas que guardavam um grande pátio, onde se via já um bom número de veículos.

      Gerard estacionou o Mercedes entre um Jaguar e um Audi, à direita dos degraus de pedra que levavam até à entrada principal. Enquanto Alanna esperava que tirasse a bagagem, deu por si a abrir a pesada porta de madeira e apareceu uma mulher de cabelo grisalho com um elegante vestido vermelho, que fez uma pala com a mão para conseguir vê-los a aproximarem-se.

      – Chegaram – disse, cortante. Voltou-se para um homem alto que a tinha seguido para o exterior. – Richard, diz à mãe que o Gerard finalmente chegou.

      – E boa tarde também para ti, tia Caroline – Gerard sorriu com cortesia. – Não te incomodes, tio Richard. Já lho digo eu.

      – Mas esperávamos que chegassem há uma hora – a sua tia apertou os lábios enquanto entrava num impressionante átrio com painéis de madeira. – Não faço ideia de como isto irá afetar a hora do jantar.

      – Imagino que o jantar será servido quando a avó quiser, como sempre – retorquiu Gerard, imperturbável. – Permite-me apresentar-vos a Alanna Beckett. Querida, estes são os meus tios, o senhor e a senhora Healey.

      Alanna apertou-lhes a mão e cumprimentou-os com cortesia.

      – Está toda a gente à espera no salão – disse a senhora Healey. – Deixe a mala aí, menina Beckett. A governanta vai levá-la para o seu quarto – olhou para Gerard. – Tivemos de fazer umas alterações de última hora. Portanto, a tua convidada fica agora na ala este, ao lado da Joanne – olhou para Alanna. – Receio que terão de partilhar a casa de banho.

      – Estou habituada – retorquiu Alanna com um sorriso. – Divido um apartamento em Londres.

      A senhora Healey assimilou a informação sem fazer comentários.

      – Então vamos – disse a Gerard. – Sabes que a tua avó não gosta de esperar.

      Gerard e Alanna começaram a andar atrás dela.

      – Não te preocupes com a tia Caroline – sussurrou o primeiro. – Desde que a minha mãe foi viver para Suffolk, leva demasiado a sério o seu papel de anfitriã da casa.

      Pouco depois entraram numa grande sala de teto baixo, com uma lareira de pedra numa ponta, grande o suficiente para assar um boi.

      Os móveis, principalmente sofás longos e macios e cadeirões fundos, todos com estofo num cretone já desbotado, não eram propositadamente envelhecidos de um modo elegante. Tal como os tapetes gastos pelo chão de madeira escura e as cortinas verdes de damasco que emolduravam umas amplas portas de vidro, eram simplesmente velhos.

      A sala estava cheia de gente que ficou em silêncio quando eles entraram. Alanna sentiu-se incomodada. Teria preferido que conversassem, nem que fosse só para apagar do ruído dos seus saltos no chão de madeira e dissimular o facto de que todos olhavam fixamente para ela quando Gerard a levava em direção à avó.

      Niamh Harrington era uma mulher baixinha e gordinha, com olhos azuis brilhantes, bochechas coradas e muito cabelo branco, cor de neve, que usava apanhado em cima da cabeça e que dava a impressão que poderia cair a qualquer momento.

      Estava sentada no meio do sofá mais longo, à frente das janelas abertas. Falava animadamente com a rapariga loira que tinha ao lado, mas interrompeu-se quando Gerard se aproximou.

      – Querido rapaz – ergueu a cara para que ele a beijasse. – Portanto, esta é a tua encantadora rapariga.

      Examinou Alanna com atenção e esta teve, por um momento, o impulso absurdo de retroceder. A senhora Harrington sorriu.

      – Isto é maravilhoso. Bem-vinda a Whitestone, querida.

      Alanna não esperava que a sua anfitriã tivesse aquela pronúncia irlandesa, embora imaginasse que o nome «Niamh» deveria ter-lhe dado uma pista.

      – Obrigada por ter-me convidado, senhora Harrington – disse. – Tem uma casa linda.

      A mulher fez um gesto de desagrado com uma mão cheia de anéis.

      – Já conheceu melhores dias – voltou-se para a rapariga que tinha ao lado. – Mexe-te um pouco, Joanne, querida, e deixa a Alanna sentar-se ao meu lado e falar-me de si mesma.