Sara Craven

Confissões de amor


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Suffolk a tenha deixado esgotada – a senhora Harrington suspirou. – Deixa-a por agora. Tenho a certeza de que já estará boa à hora do jantar.

      Alanna viu que Gerard apertava os lábios, mas não disse nada.

      – Bom – comentou a senhora Harrington. – O meu neto disse-me que és editora.

      – Edito ficção comercial para mulheres – comentou Alanna.

      – Esse é um trabalho que invejo. Não há nada que eu goste mais do que um livro. Uma boa história sumarenta e não demasiado sentimental. Talvez possas recomendar-me alguns livros que gostes.

      «Pode recomendar-me um livro para uma idosa que gosta de ler?»

      Era quase o mesmo pedido que tinha ouvido numa livraria de Londres um ano atrás, mas dessa vez fora com uma voz profunda de homem. E o começo do pesadelo que tanto precisava esquecer. Tentou reprimir um calafrio instintivo.

      – Tens frio, e não me admira, agora que se levantou a brisa da tarde – Niamh Harrington falou mais alto: – Queres entrar já, Zandor? E fecha essas portas atrás de ti. Há uma corrente de ar e não podemos permitir que a convidada do Gerard morra de frio só porque tu queres andar pelo terraço.

      Alanna teve a sensação de que estava mesmo gelada. Olhou para as suas mãos, que apertava tanto no colo que tinha os nós brancos.

      – Zandor – repetiu com incredulidade. Zandor?

      Não, não era possível. Estava tão nervosa que tinha ouvido mal. Devia ser isso.

      – Peço-te desculpa, avó. A ti e à bela amiga do meu primo. Temos de esforçar-nos para que não lhe aconteça nada de mal.

      Alanna obrigou-se a levantar os olhos e olhar para a figura alta e escura, em contraluz, que estava enquadrada pelas portas de vidro.

      Era o homem de cujo quarto tinha fugido há tantos meses atrás e que lhe tinha deixado recordações que a atormentavam desde então.

      E pelas piores razões possíveis.

      Capítulo 2

      Ele fechou atrás de si as portas do terraço com muito cuidado e avançou, com as suas longas pernas numas calças pretas e a sua camisa a condizer, aberta até ao meio, oferecendo a Alanna uma visão não desejada do seu peito cor de bronze e a recordação de que, quando tinha fugido da sua cama no encontro anterior, ele não vestia roupa alguma.

      – Talvez devêssemos apresentar-nos como deve ser – disse ele com calma. – Chamo-me Zandor Varga. E você?

      Ela conseguiu falar, embora com uma voz rouca muito diferente da sua habitual.

      – Alanna – engoliu em seco. – Alanna Beckett.

      Ele assentiu, observando-a com os seus olhos de um cinzento pálido.

      – É um prazer conhecê-la, menina Beckett. O meu primo Gerard teve sempre um gosto extraordinário.

      Deu meia volta e Alanna sentiu-se aliviada, mas sabia que o alívio seria apenas passageiro. Aquilo não tinha acabado. O dia que tinha começado mal acabava de piorar mil vezes.

      Compreendeu então que naquele dia em Chelsea não tinha imaginado coisas. Que como dono da cadeia Bazaar Vert, ele tinha ido à sucursal de King’s Road, onde ela o tinha visto por breves instantes. E Gerard provavelmente tinha acabado de acompanhá-lo lá fora onde tinha ido em seu resgate.

      A senhora Harrington, certamente, não tinha detetado nada de estranho, pois a conversa tinha voltado ao tema dos livros.

      – Middlemarch – disse. – Leu esse? Um livro maravilhoso, mas que tonta a jovem Dorothea para casar com esse homem tão empertigado. E tudo para depois saltar da frigideira para o fogo com aquele outro tipo – fez uma careta de desprezo. – Um inútil. Porque é que raparigas decentes se sentem atraídas por homens assim?

      Alanna conseguiu sorrir.

      – Não faço ideia. Mas continua a ser uma grande novela.

      «E foi o que eu disse ao seu neto, que a comprou para si há mais ou menos um ano».

      – Não é altura de nos prepararmos para o jantar, mamã? – perguntou então a senhora Healey. – Sei que não vamos pôr um vestido de gala esta noite, mas estou certa de que a menina Beckett, por exemplo, gostaria de refrescar-se. A Joanney pode conduzi-la ao seu quarto.

      A senhora Harrington deu uma palmadita na mão de Alanna.

      – Tenho de deixar-te ir, querida rapariga – disse, – mas teremos muito tempo para conversar.

      Joanne, a loira que antes estava sentada ao lado da sua avó, não só era bonita, como parecia claramente predisposta a ser amigável.

      – É melhor ela falar contigo do que comigo – confessou quando subiam as escadas. – A avó tem o costume de fazer perguntas cujas respostas já conhece. Mas isso não acontecerá contigo.

      Alanna confiou que assim fosse.

      – E tu sabes de literatura – prosseguiu Joanne. – Eu, a única coisa que leio é as revistas de coscuvilhices no cabeleireiro e a Kate é como eu, embora ela possa usar o Mark e o bebé como desculpa para não ler porque não tem tempo.

      Quando chegaram à parte de cima da impressionante escada de pedra, virou à esquerda.

      – Estamos aqui, na zona das solteironas, suponho, embora tu não o sejas, porque és a namorada do Gerard.

      – É um pouco cedo para chamar-me isso – disse Alanna com cautela. – Só andamos a sair há umas semanas.

      – Mas trouxe-te aqui. Expôs-te a todos os Harrington – Joanne soltou um risinho certeiro. – Decerto que a avó já esteve a analisar se as tuas ancas são boas para ter filhos. O pai dela tinha uma fazenda de garanhões em Tipperary e ela afirma ser descendente de Brian Boru. Portanto, quererá saber tudo da tua família. Não pode haver ramos suspeitos na árvore familiar.

      Alanna sobressaltou-se.

      – Estás a brincar.

      – Nem um pouco – Joanne fez uma careta. – Leva isso muito a sério – abriu uma porta. – Tu dormes aqui. Espero que fiques confortável – acrescentou, duvidando. – A casa de banho fica entre o teu quarto e o meu. É pequeno porque antes era um quarto de toucador, mas tem sempre água quente e ambas podemos fechar a porta dos quartos e não ouviremos ruídos quando uma ou a outra estiver lá dentro.

      Olhou para o seu relógio.

      – Venho buscar-te dentro de uns quarenta minutos. Parece-te bem?

      Alanna assentiu com a cabeça.

      Uma vez a sós, sentou-se na ponta de um colchão bastante duro e olhou em redor. Era um quarto antiquado, com uma janela estreita, e parecia mais escuro ainda por causa dos móveis pesados, de princípios do século anterior, e pelo papel pintado, cheio de grandes e chamativas rosas.

      Tinham deixado a mala aos pés da cama. Tirou o vestido de noite para o dia seguinte e arrumou-o no cavernoso armário.

      Decidiu que Joanne podia ser indiscreta além de simpática e que provavelmente deveria estar cautelosa com ela. Mas talvez fosse uma fonte de informação valiosa e talvez pudesse fazer-lhe algumas perguntas, como quem não quer a coisa.

      Porque tinha a impressão de que o outro neto de Niamh Harrington estava algo fora do círculo familiar.

      O seu primeiro instinto, uma vez mais, era fugir dali. Inventar uma urgência no trabalho e voltar para Londres. Mas isso faria Zandor Varga pensar que ela tinha medo dele e Alanna não queria dar-lhe esse prazer.

      O seu dilema imediato era o que vestir nessa noite. Claro, tinha levado um vestido, um de linho, preto e até ao joelho. Não era o que levava quando conheceu Zandor, mas parecia-se demasiado para seu gosto. Por outro lado, sentia-se