T. M. Bilderback

Baralho Lido - Uma Novela Da Justice Security


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      Levantámo-nos e caminhámos pela ponte suspensa para a entrada do jato. Uma mulher atrativa, mais ou menos da minha idade, estava à nossa espera.

      “Olá. Sou a Capitã Gena Trotter, da Justice Security. Serei o vosso piloto hoje. Infelizmente, não tive tempo suficiente para arranjar um copiloto ou uma hospedeira, mas espero que me perdoem.”

      Sorri e fiz as apresentações. Quando cheguei ao Manny, expliquei o que se tinha passado, menos a ejaculação, e perguntei se por acaso havia algumas roupas no avião.

      “Não, desculpem, não há. Isto não é o tipo de coisa para a qual nos preparamos… pelo menos, não com muita regularidade.”

      Subimos a bordo e sentámo-nos.

      A Capitã Trotter apontou para o monitor montado na parede na parte da frente do avião. “Assim que estivermos no ar, ligo isto. O Joey já está à espera do outro lado. A linha é segura e ele vai poder explicar-vos o que se anda a passar.”

      Agradeci-lhe com um aceno.

      A piloto apontou para a parte de trás do avião. “As bebidas estão ali atrás, assim como fruta, queijo e outros snacks. Sirvam-se e eu vou pôr-nos a caminho.”

      Assim que Trotter disse “bebidas”, o Manny já se dirigia para as traseiras do avião. Voltou com uma garrafa de Jack Daniels Tennessee Whiskey.

      O Manny levantou a garrafa para mim e disse:, “É bom ver um velho amigo no bar.” Deu um longo golo diretamente da garrafa.

      O Sam também se tinha servido. Voltou com um prato cheio de pastéis e uma variedade de fatias de queijo. Num dos lados do prato, tinha uma banana pequena e solitária.

      Encontrei café previamente feito em copos de almirante. Como bebia o meu preto, não andei à procura de natas ou açúcar.

      O avião começou a mover-se para a pista. A voz da Capitã Trotter ouviu-se no altifalante.

      “Por favor, sentem-se e apertem os cintos. Agarrem bem nas vossas refeições – vamos subir depressa, e será uma viagem rápida para sul.”

      Sentámo-nos, apertámos os cintos e observámos Chicago a desaparecer de vista.

      ***

      QUANDO O LIDO BOUVIER fez doze anos, o pai percebeu que já não podia servir de isco para jacarés. O rapaz era tão alto como o pai, e demasiado pesado para o conseguir puxar pela corda.

      Lido pediu ao pai para o ensinar a usar a caçadeira.

      O Pierre olhou para o filho com olhos embriagados. “Para que queres tu usar a arma, rapaz?”

      O Lido tinha conseguido desenvolver uma boa expressão de poker. Não mostrava qualquer emoção que o pai pudesse interpretar. “Eu posso ser uma grande ajuda, Papa.”

      O Pierre estudou o filho o melhor que pode no seu estado embriagado. Por fim, assentiu. “Começamos amanhã, oui?”

      O Lido assentiu. “Oui, Papa.”

      ***

      ASSIM QUE O AVIÃO ESTABILIZOU, a Capitã Trotter anunciou mais uma vez, “OK, podem soltar os cintos. O Joey Justice vai aparecer no ecrã, ele consegue ver-vos e ouvir-vos, portanto sintam-se à vontade de dizer o que precisarem.”

      O grande monitor deu sinal de vida, e lá estava o Joey Justice. Outro homem, de pequena estatura, estava sentado ao lado dele. O homem tinha feições de rato e parecia nervoso. O Joey sorriu-me.

      “Olá, Mickey.”

      “Olá, para si também.”

      Os olhos de Joey moveram-se para o Sam. “Alô, Sam! Já avisei a cafetaria sobre a sua chegada. Já começaram a preparar a comida.”

      A face do Sam tornou-se sonhadora. “Ahhhhh…obrigado, Joey!”

      O Joey olhou para o Manny. “Manny…o homem que me salvou a vida. Estou feliz por termos chegado a si a tempo.”

      Manny acenou com a garrafa de uísque ao Joey. “Asno.”

      O Joey riu-se. “Agora que estamos no ar, deixem-me dizer-lhes o que se anda a passar.”

      Os meu olhos dispararam faíscas. “Seria a primeira vez. Só tenho uma pergunta, Joey – é o Fernandez outra vez?”

      O Joey deitou a cabeça para trás e tornou a endireitá-la. “Mais ou menos. O Fernandez contratou um assassino para nos fazer desaparecer, se não nós os quatro, pelo menos três de nós.”

      Olhámos todos para o ecrã.

      Joey disse, “É o Lido Bouvier.”

      “O, merda,” murmurei eu.

      ***

      PARA SURPRESA DO PAI, Lido provou ser bastante eficiente com a caçadeira. Ele nunca falhava, depois disso.

      No seu décimo quinto aniversário, o Lido e o Pierre tornaram a sair no barco para caçar jacarés.

      O pai do Lido tinha parado de abusar dele, quando o rapaz ficou tão alto como ele. Pierre tinha notado os músculos jovens, tinha visto o ódio de cada vez que lhe batia e tinha medo que o rapaz se virasse contra ele.

      E o Pierre tinha razão.

      Esta seria a última viagem para os dois, embora Pierre não o soubesse na altura.

      O Pierre estava embriagado. Parecia que estar bêbedo tinha-se tornado o seu estado normal. Como resultado, tinha envelhecido terrivelmente.

      Quando o barco se embrenhou no pântano, o Lido disse: “Papá.”

      Pierre virou-se para o Lido, balançando-se enquanto se virava. “Oui, garçon.”

      Lido entregou-lhe uma ponta da corda. “Ata isto à volta da cintura.”

      Os olhos de Pierre esbugalharam-se “Não farei tal coisa!”

      Lido levantou a caçadeira. Estava apontada à cabeça do Pierre. “Ou então eu dou-te um tiro. Não me importo o que é que escolhes.”

      Pierre viu a verdade nos olhos do jovem. Colocou, lentamente, a corda à volta da cintura.

      “Entra na água, Papa.”

      Pierre, balançando, olhou do Lido para a água, e olhou em volta da área em que eles tinham parado. Vários jacarés descansavam em pequenas colinas e árvores caídas.

      “Há aqui jacarés, garçon.”

      “Oui. E tu vais ser o isco.” Lido sorriu sem humor. “Não te preocupes, Papa. Eu puxo a corda antes do jacaré te morder.”

      Pierre desceu do barco, tentando não fazer nenhum som. Agarrou-se à borda do barco com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

      “Agora, afasta-te do barco,” disse o Lido. “Eu digo-te quando estiveres a uma distância boa.”

      E o Pierre moveu-se vagarosamente para longe do barco. O pavor quase que o paralisava. Ele não sabia qual mais temia – os jacarés, ou o filho.

      Quando já se tinha afastado uns sete metros, um enorme espirro irrompeu ao lado de Pierre. Ele voltou-se para olhar para o filho, e viu o jovem a sorrir.

      “Fui eu. Atirei uma pedra.”

      Os jacarés viraram-se todos na direção do som, e viram o homem na água. Vários deles deslizaram preguiçosamente para a água