Stefano Vignaroli

Crimes Esotéricos


Скачать книгу

de forma espontânea e sensual por Ero e Dusai. Exaustas pelos dias de caminhada, mas regeneradas em espírito, Aurora e Larìs estavam revigoradas. A mesa posta oferecia carneiro assado com acompanhamentos de saborosos legumes e uma incrível variedade de frutas suculentas. No final do banquete, retiraram-se para os seus quartos e mergulharam em um merecido sono reparador.

      Na manhã seguinte, bem cedo, os cicerones trouxeram para cada uma das duas mulheres uma xícara de chá muito perfumado, acompanhado de doces feitos de uvas sultanas e mostos, dizendo-lhes que se preparassem para serem recebidas pelo Grande Patriarca. Seus companheiros do dia anterior as conduziram até o pé de uma escada que levava aos andares superiores. A partir de então, elas seriam acompanhadas por um guia muito mais velho e muito menos atraente, já que Ero e Dusai não tinham permissão para subir na presença do Patriarca. Hiamalè, como se chamava o novo guia, era uma pessoa que aparentava ter pelo menos oitenta anos, mas dizia-se que era muito mais velho. Uma longa barba cinza adornava seu rosto e seus longos cabelos prateados estavam presos atrás da nuca em uma comprida trança. Ele cumprimentou as mulheres no idioma antigo e as convidou para subir. Apesar da idade, o ancião subiu a escada agilmente, piso por piso, até chegar ao quinto nível. Aurora e Larìs perceberam que estavam em uma espécie de torre com vista para o templo e que, das janelas, se podia admirar a construção em toda a sua magnificência. O idoso Hiamalè se ajoelhou diante de uma porta de madeira, decorada com belas incrustações, e convidou as duas mulheres a fazerem o mesmo. Como se alguém tivesse sentido a sua presença, mesmo sem serem anunciados, a porta se abriu e as duas mulheres se encontraram na presença do Grande Patriarca.

      ‒ Não há necessidade de se prostrarem diante de mim ‒ disse ele, dispensando o ancião e convidando as duas mulheres a entrarem em sua sala. ‒ Sejam bem-vindas. Eu estava esperando por vocês há muito tempo, a percepção de sua chegada era forte dentro de mim. Apresento-me a vocês, fiéis seguidoras, que aspiram ao conhecimento universal. Desde que cheguei a este lugar, embora este não seja meu verdadeiro nome, sou chamado de Roboão, em homenagem ao filho do rei Salomão, que tinha esse nome. A tradição diz que esse mesmo templo foi construído pelo sábio Rei nestes lugares inacessíveis, entre estas que são as montanhas mais altas da Terra, para servir como um baú de tesouro e proteção para o mais antigo e preciso livro de magia, escrito por seu próprio punho, “A Chave de Salomão”. Reza a lenda que esse livro foi encontrado, alguns séculos após a morte do famoso Rei, dentro de sua tumba, preservado em um recipiente de marfim junto com um anel com seu selo. Muitos tentaram traduzir esses escritos, primeiro para o latim, depois para o francês, mas ninguém conseguiu plenamente, pois era apenas uma falsificação e o Rei Salomão havia se certificado de torná-lo incompreensível. “A Chave de Salomão” original, no entanto, é mantida no Sancta Sanctorum desse templo e apenas algumas pessoas sábias, ao longo dos milênios, tiveram acesso a ela. Talvez você, Aurora, possa fazer parte desses poucos escolhidos, mas não vamos nos precipitar. Vocês estão aqui para acessar o conhecimento preservado neste local, assim como, antes de vocês, vieram pessoas ávidas por consultar textos importantes, aqui recolhidos desde tempos imemoriais. Vieram sacerdotes de todo tipo de religião, mas também importantes homens da ciência, graças aos quais esta construção foi dotada de confortos modernos. Vocês mesmas viram a usina de energia elétrica. Não é simples fazer chegar aqui as matérias-primas necessárias para esta obra. O último cientista a nos visitar foi um italiano, cuja ideia era transformar a energia dos raios solares, mas também a energia inerente à própria luz, em energia elétrica, por meio de micro células, que ele chamou de células fotovoltaicas, em homenagem ao seu compatriota Alessandro Volta. Mas, embora eu veja auras positivas em vocês, ao redor dele pairava uma aura escura, quase negra, indicativa de maldade e perfídia de espírito.

      ‒ Como ele se chamava? ‒ perguntou Aurora, intrigada e temerosa. ‒ Ele teve acesso ao conhecimento, mesmo que você tenha duvidado dele?

      ‒ Minha cara Aurora, você tem uma aura de um azul intenso, como o céu claro, porque tem um coração puro, mas é muito sensível a influências externas, porque confia em todos. E é por isso que você está acompanhada de Larìs, que tem uma aura vermelha como o fogo e que revela seu caráter impulsivo e determinado, pronto a sacrificar até mesmo sua própria vida para ajudar quem lhe é próximo. Não posso revelar o nome dessa pessoa. Qualquer pessoa que chegue aqui tem acesso aos textos e manuscritos armazenados. Cabe então a ela decidir como utilizar o conhecimento adquirido, seja para o bem ou para o mal. Veja, toda religião tende a identificar o bem com Deus e o mal com uma divindade oposta. Se Deus é então chamado de Javé, Vishnu, Odin ou Alá e o demônio de Satanás, Lúcifer, Seth ou Sehuet é irrelevante. O bem e o mal estão dentro de cada um de nós e a eterna luta entre eles se consuma em nossas almas. Em alguns prevalece o bem, em outros o mal.

      ‒ Grande Patriarca, revele-nos o caminho para acessar o Conhecimento Universal ‒ continuou Aurora ‒ e nós lhe seremos gratas e o honraremos pelo resto de nossas vidas mortais.

      ‒ Veja, há duas maneiras de alcançar o objetivo, uma mais rápida e outra mais lenta. Larìs, que é jovem, seguirá esse segundo caminho, terá tempo de sobra para consultar os textos, assimilar o que está contido neles e aprender a usar, com a ajuda dos Mestres, seu Terceiro Olho, o da sabedoria, aquele com o qual ela poderá perceber a aura das pessoas ao seu redor e penetrar em seus pensamentos, entrando em contato com suas mentes. É uma longa jornada que eu mesmo empreendi em meu tempo e que exige perseverança, concentração e aplicação. Para você, Aurora, que, por outro lado, está ansiosa para assimilar tudo rapidamente e retornar à sua terra natal para combater as forças do mal, tenho reservado um caminho mais curto.

      Batendo palmas, ele chamou Hiamalè, que conduziu Larìs para fora da sala, enquanto por outra porta entraram duas jovens criadas com um fumegante chá de ervas para o idoso patriarca. Roboão bebeu cuidadosamente e, então, de uma bandeja trazida a ele por uma das duas servas, pegou um estojo e tirou uma seringa.

      ‒ Papaverina. Injetada no pênis, permite uma ereção duradoura para relações sexuais satisfatórias, mesmo em uma pessoa idosa como eu. Transmitirei a você todo o meu conhecimento e a minha ciência através de uma conjunção carnal, após a qual você terá acesso ao Sancta Sanctorum.

      As criadas ajudaram Aurora a se despir e a se deitar sobre as almofadas colocadas no chão para esse fim, depois cuidaram do velho, o libertaram das vestes, aplicaram-lhe a injeção, fizeram-lhe uma boa massagem e, quando perceberam que ele estava pronto para consumar a relação com a recém-chegada, retiraram-se para um canto da sala. O relacionamento com o ancião deu a Aurora um imenso prazer. Ela fechou os olhos e abandonou-se aos movimentos de Roboão. No auge da excitação, tendo alcançado um prazer intenso, ela percebeu que, com o fluxo do líquido, estava penetrando nela um calor que a percorria da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Ela estava assimilando de uma só vez todo o conhecimento que o idoso havia acumulado ao longo de décadas de permanência naquele lugar inacessível. A certa altura, Aurora percebeu que Roboão estava deitado imóvel sobre ela. Seu membro ainda estava túrgido, devido ao efeito da papaverina, mas ele não respirava mais, havia expirado. Com um movimento suave, ela moveu o corpo de Roboão para o lado e, com dificuldade, se desvencilhou dele. Enquanto as servas cuidavam do falecido, Aurora se vestiu e foi assaltada pelo temor: como ela poderia chegar ao Sancta Sanctorum sem a orientação de Roboão? Mas então, ao se concentrar, percebeu que, além do conhecimento, havia assimilado tudo o que estava conservado em sua memória e, portanto, já sabia o caminho a seguir para alcançar seu objetivo. Mas havia mais: a relação que acabara de consumar a havia transformado, sua pele estava mais lisa, seus seios mais firmes, suas pernas mais esguias, seus cabelos mais sedosos; enfim, se sentia rejuvenescida. Ela se olhou em um espelho, que lhe devolveu a imagem de uma jovem de vinte anos, a imagem de si mesma, mas com quarenta anos a menos. Com as mãos, ela tocou o rosto, como se quisesse ter certeza de que o que estava vendo era real e não uma visão. Suas rugas haviam desaparecido, seus olhos verdes brilhavam, não havia sombra de opacidade no cristalino e seu cabelo havia voltado à cor natural de castanho claro. Mas não era hora de ficar pensando em coisas fúteis. Ela tinha que encontrar “A Chave de Salomão”.

      Tentando seguir as lembranças impressas na mente de Roboão, ela desceu as escadas até o andar térreo. Em um salão com paredes ornamentadas, procurou uma estátua dourada de um gato.