Alguma coisa interessante sobre as descobertas forenses?
‒ Diria que sim. O líquido inflamável com que o incêndio foi iniciado é óleo de lamparina, uma substância incomum, não muito utilizada. Para estas lamparinas, antigamente se usava azeite como combustível, hoje se utiliza um derivado do petróleo de baixa densidade, que produz menos fumaça. São poucas as empresas que o produzem e será fácil verificar se alguma delas vendeu uma certa quantidade aqui na região. O outro elemento interessante é a tatuagem. Usando a espectrografia computadorizada, a equipe forense conseguiu visualizar uma tatuagem na perna direita da vítima. Ela retrata três livros dispostos lado a lado, envoltos em chamas. Uma peculiaridade? Sabemos que Mariella, A Ruiva, a garota que desapareceu em 1997, tinha uma tatuagem idêntica na mesma área de sua perna direita!
‒ Portanto, como eu imaginava, há uma conexão entre as duas. E você, Laura, o que tem a relatar?
‒ Trabalhei muito e encontrei algo interessante. Fui a Triora, primeiro ao cartório e depois ao Museu das Bruxas. Infelizmente, não consegui obter muitas informações no cartório, pois ele só foi informatizado há alguns anos e os antigos arquivos em papel foram destruídos mais de uma vez por incêndios ou outros desastres, naturais ou não. Sabe-se que a velha Aurora Della Rosa nasceu em 21 de março de 1929. Os arquivos daquele ano foram destruídos por esquadrões fascistas que atacaram o oficial de registro da época, pois este se declarou antifascista e se recusou a aderir ao partido de Mussolini. O expurgo para ele foi inevitável, e até mesmo seu escritório foi destruído. O que não está escrito, mas que todos em Triora sabem, é que Aurora tinha o mesmo nome e sobrenome de sua ancestral, a filha de Artemisia De La Rose, bruxa que foi julgada no final do século XVI junto com suas companheiras de Ca Botina. De geração em geração, as primogênitas da família receberam o nome da avó e, assim, o nome Artemisia se alternou com o de Aurora. Mas o mais incrível é que essas mulheres, ao longo do tempo, sempre mantiveram o sobrenome da mãe, porque nunca houve um pai que as reconhecesse. Teoricamente, em 1949 deveria ter nascido uma Artemisia Della Rosa, da qual nada se sabe. Naquele ano, coincidentemente, eclodiu um incêndio na floresta ao redor de Triora, destruindo algumas casas da vila e, mais uma vez, o arquivo municipal também foi perdido. Em 1969, ou por volta disso, de acordo com meus cálculos, deve ter nascido a Aurora Della Rosa que conhecemos. Os arquivos de registro civil de 1969, 1970 e 1971 desapareceram e o atual oficial do registro civil explica que 1971 foi um ano particularmente chuvoso, algumas salas do município foram inundadas e muitos documentos não puderam ser recuperados de forma alguma. Os idosos do vilarejo se lembram de Aurora com uma barriga de gravidez entre o final de 1948 e o início de 1949. Havia rumores de que a bruxa havia tido relações com o demônio durante um dos Sabbaths noturnos. O fato é que, no final da gravidez, ela se retirou para uma caverna na floresta. Ela só reapareceu na aldeia depois de alguns meses e sem nenhum filho consigo, tanto que se dizia que ela havia tido um filho homem e, conforme a tradição familiar exigia, havia sacrificado o menino ao seu deus antes que ele atingisse o sexto mês de vida. Em 1989, aos sessenta anos, Aurora desapareceu e, algum tempo depois, apareceu sua neta homônima. A incrível semelhança com a avó fez com que os mais imaginativos pensassem que Aurora havia encontrado uma maneira, por meio de alguma magia, de rejuvenescer, e que a pessoa que se apresentava como sua neta era, na verdade, ela mesma. Outros aventaram a hipótese de que, quarenta anos antes, a bruxa não havia matado o fruto de seu ventre, mas o mantivera escondido ou o mandara para viver longe de Triora, até porque o cadáver da criança nunca foi encontrado. O hipotético filho, ou filha, de Aurora teria então gerado a Aurora que apareceu em 1989. O fato de uma garota de vinte anos ter chegado da Romênia na mesma época, e depois ter partido com a Aurora de sessenta anos, fez alguém pensar em uma hipótese muito bizarra, que não foi confirmada por nenhuma evidência. Alguns dizem que a filha da velha Aurora, se respeitarmos a tradição e dissermos que ela era uma menina e talvez se chamasse Artemisia, de alguma forma, com a ajuda de alguém, chegou à Romênia e se estabeleceu na Transilvânia. Aos vinte anos, ela deu à luz gêmeas, Aurora e Larìs, que no final da década de 1980 decidiram retornar à Itália, livrando-se de sua velha avó. Primeiro veio Larìs, que a velha bruxa não poderia reconhecer como sua própria neta, pois ela tinha cabelos escuros e características físicas muito diferentes dos membros de sua família. A garota convenceu a idosa a fazer a peregrinação ao Tibete, onde ela perdeu a vida. Assim, a jovem Aurora teria recebido luz verde para tomar posse da casa da família. Depois de muito tempo, evitando regressar à Itália de avião e enfrentando uma longa viagem por terra, Larìs também retornou discretamente a Triora e se reuniu com sua irmã gêmea. O fato é que a loira Aurora já foi vista diversas vezes na companhia de sua atraente colega morena. Mas, repito, esses são rumores, contados na aldeia por alguns aldeões imaginativos.
‒ Bem, Laura. Essa história das gêmeas, na verdade, não é muito crível em minha opinião. E o que você pode me dizer sobre os julgamentos das bruxas?
Eu havia lido resumidamente a versão oficial do julgamento, conforme relatado nos quadros expostos ao público dentro do Museu das Bruxas de Triora. Na prática, o julgamento terminou com a condenação das cinco bruxas, Artemisia e as outras quatro, que haviam sido salvas pelo Doge de Gênova, mas que morreram de fome durante o seu encarceramento nas prisões genovesas. Mas eu estava mais interessada na versão não oficial, contada pela minha inteligente colaboradora.
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