partir de vinte anos atrás e tentar entender como e por que algumas pessoas desapareceram em Triora, enquanto outras apareceram. Temos Aurora, de sessenta anos, que, se estivesse viva agora, teria oitenta. Ela partiu para o Nepal com uma garota romena, Larìs Dracu, no final da década de 1980, e todos os vestígios das duas mulheres foram perdidos. Partindo do Aeroporto Internacional de Fiumicino em junho de 1989, não há registros de seu retorno à Itália. Depois de alguns meses, no entanto, apareceu uma garota de vinte anos com o mesmo nome, a Aurora Della Rosa que conhecemos ontem, que se fez passar por suposta neta da bruxa e foi morar na sua casa. A diferença de idade entre as duas poderia nos levar a crer que ela é filha e não neta da velha Aurora, mas alguns no vilarejo chegam a afirmar que a velha e a jovem são a mesma pessoa, porque, na viagem ao Nepal, a bruxa teria encontrado uma maneira de rejuvenescer. A primeira tarefa para você, Laura, é verificar os arquivos de registro de Triora. E chegamos a Larìs Dracu. Desapareceu do nada no Nepal? Retornou à Romênia ou está aqui em Triora? Quem é a morena com sotaque estrangeiro que às vezes acompanha Aurora ao restaurante Da Luigi? Quero uma pesquisa no banco de dados de pessoas desaparecidas, Laura, quero saber tudo o que há para saber sobre Larìs.
Em um canto do grande quadro branco, escrevi em letras maiúsculas “AURORA” e “LARÌS” e fechei os dois nomes em um círculo.
‒ A segunda pessoa desaparecida é Mariella, A Ruiva. Em 1997, ela deixou Abruzzo e veio para Triora, visitou alguns lugares importantes para nossas bruxas, a Fonte das Nozes, a Fonte de Campomavùe, a Rua Atrás da Igreja e o Lago Degnu, entrou na floresta, em uma noite de lua cheia, e desapareceu no ar. Excluindo, a priori, que Satanás a tenha sequestrado, o que aconteceu com ela? Será que ficou escondida por anos na floresta de Triora? Ou foi assassinada e seu corpo escondido em algum lugar? E que relação há com o caminhão incendiado, na mesma noite, por supostos arruaceiros? Se hoje temos uma mulher morta queimada, o mesmo fim pode ter sido reservado, na época, para Mariella, A Ruiva. O assassino, na ocasião, talvez tenha tido tempo e maneira de fazer o cadáver desaparecer! Portanto, outra busca se concentrará nessa Mariella e no caminhão que pegou fogo há doze anos.
Escrevi “MARIELLA” e “CAMINHÃO” em outro canto do quadro e circulei.
‒ No ano 2000, três jornalistas desapareceram no ar, dois homens e uma mulher: Stefano Carrega, Dario Vuoli e Giovanna Borelli. Temos muitos elementos sobre eles e sua história, a julgar pelo conteúdo dessa caixa…
‒ Um momento ‒ Laura me interrompeu. ‒ Sou natural desses lugares, moro em Molini di Triora e conheço bem a história das bruxas que passaram pela Inquisição em 1587. Dois dos sobrenomes que você acabou de mencionar são recorrentes na história das bruxas de Triora. De fato, Stefano Carrega é homônimo do Podestà de Triora na época do julgamento, enquanto Teresa Borelli era uma das cinco bruxas de Ca Botina, as principais sob investigação. Borelli era a bruxa chamada pelos habitantes locais de “Teresa, O Moleque”.
‒ Mais homônimos! Bem, a essa altura, acho que preciso me informar melhor sobre esse julgamento das bruxas. Quem sabe, talvez o hipotético assassino se inspire nessa história!
Escrevi em um terceiro canto do quadro “CARREGA”, “BORELLI” e “VUOLI” dentro de outro círculo.
‒ Há uma versão oficial do julgamento e uma versão transmitida oralmente pelos idosos de Triora, que é bem diferente, mas é muito difícil de interpretar porque é contada apenas no idioma occitano ‒ interveio Laura. ‒ Vou tentar obter as duas versões.
‒ Muito bem, Laura! E chegamos a ontem, o dia em que foi encontrado o cadáver carbonizado de uma mulher, cuja identidade não conhecemos. Teremos que aguardar os resultados da autópsia e as conclusões forenses para começar a pensar sobre isso. Ainda temos poucos elementos.
No último canto do quadro escrevi “VÍTIMA”, circulei também essa última palavra e, depois, no centro do quadro, em letras grandes, incluí o nome da seita, “OAMOLAS ED SOVRES”. Por fim, conectei com setas cada um dos quatro círculos desenhados antes ao nome escrito no centro.
‒ Tudo parece girar em torno desta seita. Precisamos entender o significado desse nome estranho, a quais atividades os adeptos se dedicam e quem está no comando. Em outras palavras, precisamos saber quem é o homem santo, ou guru, dessa seita. Em minha opinião, Aurora Della Rosa está envolvida nisso, e não é pouco. E ela não conta tudo o que sabe, é muito hábil em desviar a conversa e criar álibis confiáveis. Mauro, você acha que o Coruja-de-Igreja pode autorizar uma busca na casa da bruxa?
‒ Ah, você quer dizer o Dr. Leone? Mas, como você o chamou? O Coruja-de-Igreja? Fantástico! Ele é um Magistrado muito exigente e, sem elementos suficientes, nunca autorizará uma busca. Ele é alguém que não gosta de ter problemas.
‒ Bom, então teremos que agir com astúcia, e já tenho algo em mente. E agora vamos ao trabalho. Você, Laura, dedique-se à pesquisa que lhe pedi, e você, Mauro, prepare o carro, vamos voltar a Triora!
‒ Lá se vai minha disciplina militar! ‒ exclamou Mauro. ‒ Lembro-lhe que não iremos a lugar algum antes de passarmos pela Sede da Polícia. Nossas cabeças dependem disso.
‒ Muito bem, vamos torcer para que o Delegado Geral não nos reserve horas na espera. Aguarde por mim lá embaixo no carro, descerei em alguns minutos.
Certamente Mauro pensou que eu iria retocar minha maquiagem, conforme o padrão de vaidade das mulheres, mas não foi o caso. Eu fui me trocar, colocando roupas esportivas confortáveis e tênis. Na verdade, não adiantava voltar para o meio da floresta e caminhar por trilhas nas montanhas e estradas de terra com tailleur e sapatos brilhantes. Depois de cinco minutos, eu estava no carro ao lado de Mauro, que me olhou com espanto.
‒ Você é inacreditável, Caterina! Você quer se apresentar ao Delegado Geral vestida assim?
‒ A roupa não é em função do Delegado Geral, mas da investigação. Você vai ficar me olhando ou vai ligar o maldito carro?
Ele partiu cantando pneus e, graças a costuradas no trânsito, insanos tráfegos na contramão, invasões de faixas preferenciais reservadas a ônibus e táxis, sem nunca ficar abaixo de noventa quilômetros por hora, em quatro minutos e vinte e cinco segundos chegamos à Piazza del Duomo. Com uma inacreditável guinada, obtida com a ajuda do freio de mão, ele escorregou milimetricamente entre outras duas viaturas da Polícia Estadual, em uma das vagas reservadas à Sede da Polícia.
‒ Se não for necessário, peço que evite todas essas cenas! ‒ disse a ele, saindo do carro e tentando me recompor. Minha cabeça girava um pouco, parecia que eu ia cair, mas mantive a calma, apesar de sentir que minhas forças estavam prestes a me abandonar.
Sempre com Mauro como guia, seguimos até a entrada do prédio e pegamos um elevador para o terceiro andar. Depois de caminhar por um longo corredor com piso muito polido, finalmente chegamos ao gabinete do Delegado Geral. O Dr. Perugini nos recebeu imediatamente, e isso me deixou agradavelmente surpresa. Ele era um homem baixo, ligeiramente rechonchudo, com rosto redondo e cabelo bagunçado, quase lembrando o ator americano Denny De Vito. Ele se levantou de sua mesa e apertou minha mão vigorosamente. Em pé diante de mim, notei ainda mais sua baixa estatura. Sua cabeça alcançava mais ou menos a altura do meu ombro, enquanto Mauro, comparado a ele, parecia um gigante. No entanto, ele inspirava simpatia, e mais tarde eu viria a descobrir nele uma inteligência notável e uma excelente capacidade de gestão dos seus funcionários.
Depois de concluir o preâmbulo habitual, ele retornou ao seu lugar atrás da mesa.
‒ Tenho muita confiança em você, Dra. Ruggeri, e sei que não me decepcionará. Colocarei à sua disposição todos os meios que desejar para chegar a uma conclusão dessa investigação. Eu recomendo prioridade máxima. E se você tiver problemas com o Magistrado, não tenha medo de recorrer a mim. Vá agora e me mantenha informado.
De volta ao carro, aconselhei Mauro a dirigir em um ritmo moderado e a parar assim que visse uma loja de ferragens. Tendo identificado o local pretendido, entrei para comprar uma grande tesoura de jardinagem. De fato, minha intenção era chegar a todo custo ao caminhão queimado e vê-lo de perto.
‒ Hoje eu gostaria de examinar