Stefano Vignaroli

Crimes Esotéricos


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ou outras catástrofes naturais, para recuperar quaisquer sobreviventes sob os escombros, ou para procurar pessoas desaparecidas nas montanhas, não só por ocasião de avalanches, mas também porque talvez tivessem se perdido durante uma caminhada. Com o passar do tempo, a reputação da minha equipe ultrapassou as fronteiras da região de Marche e, com frequência, éramos solicitados para serviços longe da nossa base. Faltava à equipe um cão que pudesse farejar uma pista, seguir rastros, enfim, ajudar o policial tanto em uma investigação quanto em uma ação. Ele chegou mais tarde e este era o meu Fúria, um springer spaniel, filho da cadela do inspetor Santinelli.

      O fluxo de meus pensamentos foi, a certa altura, interrompido definitivamente pela frenagem do avião na pista e a subsequente abertura da porta. Um capítulo totalmente novo de minha vida estava prestes a começar.

      CAPÍTULO 2

      Eu estava tentando me orientar no saguão de desembarque do aeroporto para ver onde ficava a esteira rolante em que minhas malas chegariam, quando um homem grande, usando um perfeito uniforme de verão da Polícia Estadual, aproximou-se de mim com determinação. Ele devia ter pelo menos um metro e noventa de altura, com cabelos penteados para trás, olhos azuis e uma barba perfeitamente aparada, com seus bíceps lutando para caber na meia manga da camisa do uniforme. Ele fez uma saudação militar e, depois, pensando melhor, estendeu a mão para mim.

      ‒ Doutora Ruggeri, presumo! Sou o Inspetor Mauro Giampieri e, a partir deste momento, estou à sua disposição. Tenho instruções peremptórias do comissário de polícia: devemos partir imediatamente para chegar à cena de um crime. Se trata de um assassinato que ocorreu esta noite em Triora, um pequeno vilarejo no interior de Imperia. Já instruí um oficial a recolher sua bagagem e levá-la para a delegacia de polícia. Siga-me, não temos tempo a perder.

      Eu estava um pouco atordoada e o segui sem objeção, embora gostaria de ter começado de outra forma, pegando um táxi para Imperia e me adaptando ao meu novo local de trabalho depois de pelo menos ter me refrescado em um hotel. Quando vi o carro azul e branco da Polícia Estadual na vaga de estacionamento reservado, em direção ao qual estávamos indo, não pude deixar de sentir uma emoção: um Lamborghini Gallardo novinho em folha. Eu só sabia da existência daquele carro maravilhoso, capaz de atingir uma velocidade de 320 km/h, equipado com um computador de bordo com várias funções, conectado por um sistema de satélite aos arquivos da Polícia Criminal e da Interpol, porque havia lido sobre ele em nossas revistas.

      ‒ Pensei que essa joia fosse reservada para a Polícia Rodoviária ‒ eu disse, tentando quebrar o gelo com o inspetor, que mantinha seu ritmo determinado. Quando chegamos a alguns passos do carro, as quatro setas piscaram, emitindo um sinal sonoro.

      ‒ Este é diferente do usado pela Polícia Rodoviária, não no modelo, mas em termos de equipamento e desempenho. Terei a oportunidade de lhe explicar muitas coisas no caminho, acomode-se!

      Quando estávamos no carro, ele inseriu um cartão em uma abertura no painel e digitou um código em um teclado numérico. Ele estava prestes a pressionar o botão de partida do motor, mas parou e começou a mexer em uma caixa.

      ‒ Seu antebraço direito, Doutora! Vou inserir nele um microchip, contendo algumas informações sobre a senhora, como dados pessoais, tipo sanguíneo, histórico médico, mas que também funcionará como um localizador via satélite, caso seja necessário. Será rápido, não sentirá nenhuma dor. Infelizmente, são ordens. Tive que inserir um em mim também.

      Sua disciplina pseudomilitar estava começando a me irritar um pouco e fiz um protesto.

      ‒ Não sou um cachorro que corre o risco de se perder!

      Com movimentos rápidos, ele abriu uma embalagem esterilizada contendo algodão embebido em álcool e, em seguida, de outra, retirou uma seringa com uma agulha de enorme calibre. Apesar de meus protestos, ele agarrou meu braço e realizou o procedimento.

      ‒ Mantenha o algodão pressionado por alguns instantes e aperte o cinto de segurança. Estamos partindo.

      A aceleração colou minhas costas ao banco do carro. O Lamborghini, em poucos segundos, atingiu uma velocidade muito superior à permitida pelo código de trânsito, logo passou pelo pedágio e estava viajando a uma velocidade próxima de 200 km por hora.

      ‒ O senhor, inspetor, parece mais um militar do que um policial. Não conheço seu currículo, mas acho que vou estudá-lo cuidadosamente. No entanto, como temos de trabalhar juntos e eu sempre detestei formalidades, proponho que nos tratemos pelo primeiro nome: eu sou Caterina.

      Ele respondeu, relaxando um pouco.

      ‒ Mauro. Confesso à senhora… confesso a você que, na verdade, até alguns meses atrás, eu estava no exército. Acompanhei o contingente italiano em várias missões no exterior e até o Natal passado eu estava de serviço no Afeganistão. Eu estava em Nassirya em 2003, durante o massacre de soldados italianos, e escapei sem sofrer um ferimento sequer. Também estive no Iraque e na Bósnia-Herzegovina. Ainda estou muito habituado à disciplina militar. No entanto, sou especialista em explosivos, no combate ao terrorismo e à guerrilha organizada, em dirigir em condições extremas… Acredito que o Delegado nos queria como parceiros para resolver um caso realmente complicado, sobre o qual contarei mais tarde. Enquanto isso, deixe-me falar sobre as características desse carro, que, até o momento, não tem comparação na Itália. Como você pode ver, aqui no centro do painel temos uma tela de doze polegadas, que parece um navegador GPS, mas tem muitas outras funcionalidades. É um verdadeiro computador, que além de ter acesso à internet por meio de uma conexão via satélite, também nos permite consultar bancos de dados da Polícia, não apenas da Itália, mas de todo o mundo. Este é um pequeno scanner, conectado ao sistema, no qual podemos inserir impressões digitais, obtidas em fita adesiva, e iniciar uma busca nos bancos de dados aos quais estamos conectados. À funcionalidade da tela sensível ao toque, que é muito interessante para trabalhar no menu principal, podemos adicionar as funções de um teclado padrão, que temos naquela pequena gaveta ali embaixo. Abra o porta-luvas e você encontrará uma pistola, que já foi atribuída a você, e um palmtop. Tanto você quanto eu temos um palmtop idêntico, conectados ao computador de bordo do carro. O palmtop, assim como o microchip que recebemos, permite que a estação, e quem estiver no carro, identifique nossa localização exata com o sistema de GPS.

      ‒ Puxa, a julgar por tudo o que você está me dizendo, a investigação que eles nos designaram deve ser bem arriscada. Nem mesmo o lendário Agente 007 tem toda essa tecnologia à sua disposição!

      ‒ De fato, você não está errada. Há vários anos, eventos estranhos vêm ocorrendo em Triora: pessoas desaparecem em circunstâncias misteriosas, aparentemente sem deixar vestígios. Até o momento, os carabinieri[1] investigaram, mas não descobriram nada. Sobre a principal suspeita, uma certa Aurora Della Rosa, a quem o povo da cidade se refere como feiticeira, ou melhor, como bruxa, eles nunca conseguiram reunir provas suficientes e, portanto, a investigação ainda está tateando no escuro. Na noite passada, um incêndio começou na floresta perto de Triora, ameaçando a própria casa de Aurora. No final das operações de combate ao fogo, os bombeiros encontraram o corpo carbonizado de uma mulher. Acredito que o médico legista e a equipe forense já estejam no local. Desta vez, sem os carabinieri nem seu departamento científico, a investigação é nossa. Precisamente por causa de seus estudos sobre esoterismo e seitas, o Delegado Geral de Imperia solicitou sua presença, e esse crime, quem sabe por que coincidência, foi cometido justamente na sua chegada. Agora temos que trabalhar, e não é pouco!

      Na verdade, depois de alguns anos de trabalho intenso com as unidades caninas, a equipe se tornou tão bem treinada e eficiente que consegui arranjar algum espaço pessoal e até mesmo voltar a frequentar a Faculdade de Direito de Macerata. Eu sabia que, com meu diploma, poderia aspirar a um importante avanço na carreira, mas não foi isso que me motivou a estudar, e sim minha paixão inata pela criminologia, que só ficava atrás da paixão por cães. Eu estava particularmente interessada nos crimes cometidos por adeptos das chamadas seitas esotéricas. A partir do episódio das Bestas de Satã, ocorrido alguns anos antes, no qual alguns bandidos, para encobrir o assassinato