Marco Lupis

Entrevistas Do Século Breve


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Duanwu (interpretado pela promessa do cinema de Taiwan, Lin Chìen-hwa), que desde sempre ama Ruyi em segredo: «Deve pensar: é a última vez que a vejo, a última vez! Isso se deve ler no seu vulto, é aquilo que quero ver!» recomenda-lhe Chen Kaige, quarenta e seis anos, casaco de pele e jeans pretos. «Bem... Yu-bei ... (prontos, ndr) ... Action !». Quando Lin Chien-hwa se vira para olhar o navio que parte, nos seus olhos se lê a dor. « Okay! » grita Kaige satisfeito. É a última claquete do dia.

       Depois de mais de dois anos passados reescrevendo o roteiro, Kaige está trabalhando duro para preparar o seu filme para a participação do Festival de Cannes, em maio. Número um do cinema chinês dos anos Noventa, filho da arte (seu pai, Chen Huai’ai, era um monumento do cinema do pós-guerra), Chen Kaige é famoso por obter o máximo dos seus atores, colocando às vezes à dura prova a sua paciência. E aquela do governo chinês, que por anos proibiu, cortou e censurou os seus filmes, até que teve que reconhecer, no fim, a estatura de mestre do cinema contemporâneo.

       O novo filme Temptress Moon, que custou até agora seis milhões de dólares, representa de certo modo o símbolo da condição hoje do cinema chinês, oscilando entre liberalismo e repressão, projetado nos mercados mundiais, mas com os pés bem no chão no solo da pátria mãe; cosmopolita e provinciana ao mesmo tempo. E o set do filme parece um microcosmo da China contemporânea.

       Os protagonistas são o melhor que oferecem, atualmente, «as três Chinas»: Hong Kong (Leslie Cheung), Taiwan (Lìn Chien) e a China popular (Gong Li). O diretor é um intelectual de Pequim e a produtora, Hsu Feng, é uma ex-estrela do cinema de Taiwan, casada com um homem de negócios de Hong Kong, onde nos anos Setenta fundou a Tomson Film (e tinha sido exatamente ela a convencer Kaige, oito anos atrás, a levar para a tela a novela de Lilian Lee, Addio mia concubina ).

       Mas se a espera pela nova direção de Kaige é grande, ainda maiores são as expectativas do público e da crítica para a prova de atriz da estrela incondicional da película, Gong Li. Com trinta e um anos, a atriz é com certeza neste momento a mulher chinesa mais conhecida no mundo. No seu passado, há filmes como Sorgo rosso (1987), Lanterne rosse (1991) e Addio mia concubina (1993). É uma longa história de amor recém terminada com Zhang Yimou, seu companheiro por oito anos, o diretor que fez dela uma estrela mundial e com o qual rodou uma última película o ano passado, La triade di Shanghai .

       Mas o sucesso junto ao público ocidental não impediu a Gong Li de permanecer chinesa cem por cento.

       No fim do dia no set, aceitou falar de si mesma para Panorama , nesta entrevista exclusiva.

      

      

       Ainda um grande filme, mas ainda uma história antiga que fala dos anos Vinte na China e não dos fatos da história recente...

       Penso que isto dependa do fato que a China abriu as suas portas para o resto do mundo só há poucos anos. E desde que isso aconteceu, para nós também o cinema desfrutou de uma maior abertura estilística e cultural. Com certeza, a censura desempenhou, por anos, um papel decisivo ao dirigir os temas e o destino do nosso cinema. Mas, há também um motivo, mais artístico, se pode-se falar assim: muitos diretores chineses pensam que seja bom fazer filmes sobre fatos que precedem a Revolução cultural. É uma forma para reabilitar aqueles fatos e aquele passado. E talvez pensam que seja ainda cedo para levar para as telas, para o público internacional, episódios recentes, que são ainda muito recentes e dolorosos na memória de todos.

      

      

       Você é a mulher chinesa mais popular no mundo. Sente a responsabilidade deste seu papel de embaixadora?

       O termo embaixadora me amedronta um pouco... me parece um título grande demais para mim. Digamos que me sinto, na verdade, através dos meus filmes, uma ponte entre a nossa cultura e aquelas do Ocidente. Isto sim: porque, de fato, penso que entre vocês, não se conhece muito da realidade da China atual. E se um meu filme pode servir para fazer compreender ao Ocidente algo a mais sobre a nossa vida, sobre o nosso povo, sobre nós, então disto me sinto realmente orgulhosa.

      

      

       Ultimamente, porém, a imagem da China no mundo não é das melhores: execuções em massa, orfanatos da morte... Tudo isto corresponde à verdade?

       A China tem muitos problemas, isto é verdade. Principalmente, quando se olham só os eventos negativos, esquecendo aqueles positivos. Se de um país se conhecem só as distorções, é claro que a imagem que se tem é incompleta. O meu país é grande, somos mais de um bilhão de pessoas e por isso existem diferenças enormes no interior da China. E não é fácil fazer julgamentos.

      

      

       Quando decidiu aceitar o papel de Ruyi em Temptress Moon?

       Foi quase um acaso. Ou um destino profético, porque foi uma «tentação» também para mim. Propuseram-me no último momento, com as gravações já iniciadas, depois que uma atriz de Taiwan tinha decidido não continuar. Sabe que os críticos chineses compararam Temptress Moon com O vento levou ?

      

      

       Ah, e por quê?

       Não pelo conteúdo. Pela escolha dos atores. Chen viu dezenas de atores para o meu papel, assim como para O vento levou foi descartada uma atriz depois da outra antes de escolherem Vivian Leigh para o papel de Scarlett O'Hara. Assim, eu cheguei com o filme já iniciado. E não foi fácil. Queriam que interpretasse um personagem completamente diferente daqueles que faço habitualmente: aqui devo ser uma garota rica e viciada.

      

      

       Hoje, o cinema chinês atravessa um momento mágico. Mérito de diretores como Kaige e de atores como você. Mas também de nomes como John Woo ou Ang Lee, que trabalham em Hollywood .

      

      

       Penso que a razão esteja no fato que os diretores chineses unem uma técnica cinematográfica irrepreensível àquele fascínio e ao estilo únicos que pertencem à nossa cultura.

      

      

       Como começou a representar?

       Absolutamente, por acaso. Quando eu era pequena, gostava de cantar. Um dia, o meu professor de canto me disse para ir com ele ver as gravações de um roteiro para a televisão em Shandong. A diretora era uma mulher, me lembro. Quando me viu, decidiu que tinha que fazer uma parte, assim me deu para ler o roteiro. Era uma pequena parte. Mas ela disse que eu era uma atriz nata. Disse assim para a minha mãe: «Sua filha deve ser atriz». Conseguiu convencê-la e depois de dois meses entrei na escola de atuação de Pequim. Estudava duro, me lembro, comecei a fazer pequenos papéis e depois...

      

      

       Você vive entre Pequim e Hong Kong. E os jornais falam da sua nova história de amor com um homem de negócios de Hong Kong. Pensa em se transferir definitivamente para lá?

       Não creio. Gosto de Hong Kong porque é frenética. E é bom para fazer compras. Mas a acho aborrecida. Pequim é diferente. As pessoas se encontram pelas ruas e falam com você, conversam.