Marco Lupis

Entrevistas Do Século Breve


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       Penso que seja inevitável. É, principalmente, a imprensa asiática que escreve com frequência coisas desagradáveis ou inventadas. Os jornais ocidentais são mais corretos.

      

      

       Na China também é importante ser bonita, para uma atriz?

       Você acha que eu sou bonita?

      

      

       No Ocidente, é considerada um símbolo sexual .

       Bem, isso me deixa satisfeita. Eu, porém, não me sinto um símbolo sexual. Talvez, possa representar a personalidade ou o fascínio da mulher chinesa, que são tão diferentes das mulheres ocidentais.

      

      

       Que projetos têm para o futuro?

       Gostaria de me casar e ter filhos, penso que a família seja muito importante na vida de uma mulher. E sem uma família, não se pode levar no próprio trabalho a verdade de cada dia.

      

      

       E os projetos cinematográficos?

       Por enquanto, não. Estou lendo muitos roteiros, mas não encontro nada que me convença. Não acho que se deva aceitar um papel só para fazer alguma coisa.

      

      

       Trabalharia com um diretor ocidental?

       Se tivesse uma parte adequada para mim, adequada a uma mulher chinesa, por que não?

      

      

       Existe um italiano com quem gostaria de trabalhar?

       Claro, Bernardo Bertolucci!

      

      

       5

      Ingrid Betancourt

      

       A apaixonada dos Andes

      

      

      

      

       Cara Dina, eis a parte com box a seguir. Espero que tudo esteja bem. Hoje (segunda, 11) tomarei o avião de Tóquio para Buenos Aires, onde chegarei amanhã, 12 de fevereiro. Daí em diante, poderei ser encontrado no satelitar, mesmo nos dias de “navegação” antártica. Estarei de novo na Argentina por volta de 24 de fevereiro, depois seguirei para Bogotá, onde terei que encontrar a Bentacourt nos primeiros dias de março.

       Faça-me saber se lhe interessa.

       Até logo

       Marco

      

      

       Com este e-mail, que encontrei em um velho computador, no início de fevereiro de 2002 escrevia para Dina Nascetti, uma das minhas chefes no Espresso, para informá-la dos meus movimentos. Tinha estado no Japão para uma reportagem sobre o túmulo de Jesus [1] e me preparava para enfrentar uma longa viagem, que me teria levado para longe de casa por quase dois meses. O destino final era o limite geográfico extremo: a Antártida.

       Ao longo da estrada, previa uma parada na Argentina, para uma reportagem sobre a gravíssima crise econômica que assolava o país sul americano naqueles meses e depois, no caminho de volta, a Colômbia, onde deveria ter que entrevistar Ingrid Betancourt Pulecio, a política colombiana e militante dos direitos humanos. Na realidade, cheguei alguns dias antes do previsto em Bogotá. E foi - pelo menos para mim - uma sorte. Encontrei a Betancourt no dia vinte e dois de fevereiro e, exatamente, vinte e quatro horas depois enquanto viajava de carro para Florença, Ingrid Betancourt desapareceu no nada, pelos lados de San Vicente del Caguan. Sequestrada pelos guerrilheiros das farc , foi mantida como refém por quase seis anos.

       Se tivesse chegado na Colômbia só no dia depois, nunca a teria encontrado.

      

      

       *****

       Os cabelos castanhos soltos sobre os ombros. Os olhos escuros, de verdadeira colombiana. No pulso, uma pulseira de âmbar. E os lábios que não sorriem quase nunca.

       Tem poucas ocasiões para sorrir Ingrid Betancourt, quarenta anos bem cuidados, cinquenta quilos bem distribuídos em um metro e setenta, hoje candidata ao incômodo cargo de presidente da República do país mais violento do mundo, a Colômbia. Um lugar onde todos os dias se contam em média setenta homicídios. Onde, há quarenta anos, se combate uma guerra que desde 1990 até hoje fez trinta e sete mil vítimas civis. Onde são sequestradas, mais ou menos, dez pessoas a cada vinte e quatro horas. Um país que se orgulha do recorde de primeiro produtor no mundo de cocaína e do qual, nos últimos três anos, fugiu mais de um milhão de pessoas.

       Entretanto, não se passaram muitos anos desde quando a mesma mulher que hoje se senta em frente a mim, em um anônimo apartamento super secreto e super blindado no centro de Bogotá, colete a prova de balas e olhar nervoso, sorria serena, deitada em uma praia das Seychelles, sob o olhar indulgente do padre Gabriel de Betancourt, diplomático francês belo, culto e inteligente, enviado para trabalhar naquele canto do paraíso depois dos anos difíceis passados na Colômbia.

       Exatamente vinte e quatro horas depois desta entrevista, enquanto viajava para Florença, Ingrid Betancourt desapareceu, pelos lados de San Vicente del Caguan, no limite da área mais avançada de penetração das tropas colombianas contra os rebeldes da farc . Junto a ela, desapareceram uma cinegrafista e um fotógrafo franceses que a acompanhavam para documentar a sua arriscada campanha eleitoral. E tudo deixa pensar que se trata de um rapto.

       Uma representação dramática que, paradoxalmente mas não demais em um país cruel como a Colômbia, «aumenta de vez as possibilidades da sua eleição», como observa pragmaticamente um que entende de acontecimentos colombianos, Gabriel Marcela, professor na Escuela de Guerra.

      

      

       Ingrid Betancourt Pulecio, tinha voltado para este inferno, espontaneamente. E não ao ocaso da vida mas, com trinta anos, em 90.

       Ex-deputada, atualmente senadora, funda um partido que se chama Oxigeno Verte , «para levar ar limpo para a política colombiana, doente de corrupção», explica séria. O slogan diz: «Ingrid es oxigeno». E na foto, está ela, com uma máscara antipoluição e calças coloridas. Com cento e sessenta mil preferências, é a mais votada do País. Ninguém porém, talvez, falasse hoje dela se não fosse pela autobiografia que sai exatamente nestes dias também na Itália. O título não deixa dúvidas sobre o caráter da autora: «Provavelmente amanhã, irão me matar».

      

      

       Um tanto teatral, talvez?

       «A edição francesa se intitulava La rage au coeur – La rabbia nel cuore » ela se defende. «Mas os editores italianos queriam um título mais forte, assim escolhemos este. De resto é assim que me sinto e é isto que penso todas as manhãs, quando