VINTE E OITO
PRÓLOGO
A princípio, Janet Davis não tinha noção de nada a não ser da terrível dor que lhe atravessava o crânio como se mil castanholas soassem em uníssono.
Tinha os olhos fechados. Quando tentou abri-los, foi cega por uma brilhante luz branca e foi obrigada a fechá-los novamente.
A luz aqueceu o seu rosto.
Onde é que estou? Perguntou-se.
Onde é que eu estava antes… antes disto ter acontecido?
E então começou a lembrar-se…
Estivera a tirar fotos nos pântanos perto do Lady Bird Jonhson Park. O verão já ia muito adiantado para os milhões de narcisos florescerem, mas as folhas dos cornisos eram de um lindo verde, particularmente bonito à hora do pôr do sol.
Ela estava na marina a fotografar os barcos e o magnífico jogo de luzes do pôr do sol na água quando ouviu passos a aproximarem-se rapidamente atrás dela. Antes de ter tempo para se virar e olhar, sentiu uma forte pancada na nuca e a câmara voara-lhe das mãos, e…
Acho que perdi a consciência.
Mas onde estava ela agora?
Estava demasiado atordoada para sentir medo, mas sabia que não faltaria muito para ele entrasse em cena.
Aos poucos começou a aperceber-se de que estava deitada de costas numa superfície dura.
Não conseguia mexer as pernas. As mãos e pés estavam dormentes de estar amarrada pelos pulsos e tornozelos.
Mas a sensação mais estranha era de dedos no seu rosto, espalhando algo suave e húmido na sua pele quente.
Conseguiu articular algumas palavras.
“Onde é que estou? O que é que está a fazer?”
Quando não lhe foi dada qualquer resposta, retorceu a cabeça, tentando fugir ao aborrecido movimento das pontas dos dedos viscosas.
Ouviu uma voz de homem a murmurar…
“Fique quieta.”
Ela não tinha intenção de ficar quieta. Continuou a retorcer-se até os dedos se afastarem.
Ouviu um suspiro audível de desaprovação. Depois a luz mudou de direção, já não estava diretamente virada para o seu rosto.
“Abra os olhos,” Disse a voz.
Ela abriu.
A brilhar à sua frente estava a lâmina afiada de uma faca de açougueiro. A ponta da faca aproximou-se do seu rosto, fazendo-a entortar os olhos e ver a lâmina em duplicado.
Janet arfou e a voz sussurrou novamente…
“Fique quieta.”
Congelou, olhando diretamente para cima, mas um espasmo de terror apoderou-se do seu corpo.
A voz silvou uma ordem mais uma vez.
“Eu disse quieta.”
Ela tentou manter o corpo quieto. Tinha os olhos abertos, mas a luz era dolorosamente brilhante e quente, impossibilitando que conseguisse ver o que quer que fosse com clareza.
A faca afastou-se e os dedos continuaram a esfregar, desta vez em torno dos seus lábios. Ela cerrou os dentes e conseguia ouvi-los a rangerem.
“Estou quase a terminar,” Disse a voz.
Apesar do calor, Janet começou a tremer de medo.
Os dedos começaram a esfregar à volta dos olhos agora e ela teve que os fechar outra vez para evitar que o que o homem espalhava entrasse dentro deles.
Então os dedos afastaram-se do seu rosto e ela pode abrir os olhos novamente. Agora conseguia ver a silhueta de uma cabeça com uma forma grotesca a movimentar-se na luz flamejante.
Sentiu um soluço de pavor sair-lhe da garganta.
“Deixe-me ir,” Disse ela. “Por favor, deixe-me ir.”
O homem não disse nada. Ela sentiu-o a apalpar o seu braço esquerdo agora, prendendo algo elástico à volta do bíceps e depois apertando-o dolorosamente.
O pânico de Janet auentou e ela tentou não imaginar o que estava prestes a acontecer.
“Não,” Disse ela. “Não faça isso.”
Ela sentiu um dedo a sondar-lhe a curva do braço e depois a dor penetrante de uma agulha a entrar numa artéria.
Janet soltou um grito de horror e desespero.
Então, ao sentir a agulha recuar, uma estranha transformação tomou conta de si.
O seu grito de repente converteu-se em…
Riso!
Ria-se vibrantemente, incontrolavelmente, repleta de uma euforia louca que nunca sentira antes.
Naquele momento sentia-se completamente invencível, forte e poderosa.
Mas quando tentou libertar-se novamente do que lhe prendia os pulsos e tornozelos, não conseguiu.
O seu riso transformou-se num acesso de fúria violenta.
“Deixe-me ir embora,” Silvou ela. “Deixe-me ir ou juro por Deus que o mato!”
O homem soltou uma risada.
Depois inclinou a sombra metálica do candeeiro para que a sua luz iluminasse o seu rosto.
Era o rosto de um palhaço, pintado de branco com uns enormes olhos estranhos e lábios pintados de preto e vermelho.
Janet susteve a respiração durante alguns segundos perante aquela visão.
O homem sorriu com uns dentes amarelos que constrastavam com o resto do rosto colorido.
Disse-lhe…
“Vão