pressionou a palma da sua mão contra a ferida, tentando parar o sangue. Mesmo assim, ele conseguia sentir o sangue quente a escorrer-lhe por entre os dedos, conseguia sentir a força vital de Reece a esvaziar-se enquanto o segurava nos seus braços.
Elden, Matus, Indra e Angel aproximaram-se rapidamente, também eles finalmente livres das garras da sua loucura, aglomerando-se ao redor deles. Thor fechou os olhos e rezou com tudo o que tinha para que o seu amigo voltasse a si, para que lhe fosse dada a ele, Thor, uma hipótese de corrigir o seu erro.
Thor ouviu passos e, ao olhar para cima, viu Selese a aproximar-se rapidamente, com a pele mais pálida que ele alguma vez a tinha visto, com os olhos a brilhar com uma luz que era de outro mundo. Ela caiu de joelhos perante Reece, tomou-o nos braços e, ao fazê-lo, Thor largou-o, vendo o brilho em torno dela e lembrando-se dos seus poderes enquanto curandeira.
Selese olhou para Thor, com um olhar que ardia de intensidade.
"Só tu o podes salvar", disse ela com urgência. "Coloca a mão na sua ferida agora!", ordenou ela.
Thor colocou a palma da mão sobre o peito de Reece e, ao fazê-lo, Selese colocou a mão sobre a dele. Ele conseguia sentir o calor e o poder a percorrer a palma da mão dela sobre a sua mão e na direção da ferida de Reece.
Ela fechou os olhos e começou a cantarolar. Thor sentiu uma onda de calor a surgir no corpo do seu amigo. Thor rezou com tudo o que tinha para que o seu amigo voltasse a si, para que fosse perdoado de qualquer que fosse a loucura que o tinha levado a fazer aquilo.
Para grande alívio de Thor, Reece abriu os olhos devagar. Ele pestanejou e olhou para o céu, e, depois, lentamente, sentou-se.
Thor observava, espantado, enquanto Reece pestanejava várias vezes e olhava para a sua ferida: estava totalmente sarada. Thor estava sem palavras, rendido, maravilhado pelos poderes de Selese.
"Meu irmão!", gritou Thorgrin.
Ele aproximou-se e abraçou-o. Reece, desorientado, abraçou-o lentamente de volta e Thor ajudou-o a levantar-se.
"Estás vivo!", exclamou Thor, mal ousando acreditar, agarrando-o pelos ombros. Thor pensou em todas as batalhas em que tinham estado juntos, todas as aventuras. Ele não iria conseguir tolerar a ideia de o perder.
"E porque é que eu não haveria de estar?", pestanejava Reece, confuso. Ele olhou em toda a volta para os rostos inquisitivos da Legião, parecendo baralhado. Os outros aproximaram-se e abraçaram-no, um a um.
Enquanto os outros se aproximavam, Thor olhava à sua volta fazendo um balanço. De repente, ele percebeu, com horror, que faltava alguém: O'Connor.
Thor correram para a amurada lateral e freneticamente procuraram nas águas, lembrando-se de que O'Connor, no auge da sua loucura, tinha saltado fora do navio para as correntes furiosas.
"O'Connor!", gritou ele.
Os outros correram-se até ao seu lado e procuraram nas águas também. Thor olhou para baixo e esticou o pescoço para olhar para trás para o Estreito, para as furiosas águas vermelhas, cheias de sangue - e, ao fazê-lo, viu O'Connor a debater-se e a ser sugado precisamente junto do limite do Estreito.
Thor não perdeu tempo; reagiu instintivamente e saltou por cima da amurada, mergulhando de cabeça sobre a borda, para o mar.
Submerso, assustado com a temperatura quente da água, Thor sentiu o quão espessa aquela água era, como se estivesse a nadar através do sangue. A água estava tão quente que era como nadar em lama.
Thor precisou de toda a sua força para nadar através das águas viscosas de volta à superfície. Ele olhou para O'Connor, que começava a afundar-se, conseguindo ver o pânico nos seus olhos. Ele também via, à medida que O'Connor cruzava a fronteira para o mar aberto, que a loucura o começava a abandonar.
Ainda assim, ele debatia-se e começava a afundar-se. Thor sabia que, se não o alcançasse logo, em pouco tempo ele se afundaria até ao fundo do Estreito e nunca mais seria encontrado.
Thor redobrou os seus esforços, nadando com todas as suas forças, nadando através da intensa dor e exaustão que sentia nos ombros. E, no entanto, assim que se aproximou, O'Connor começou a afundar-se na água.
Thor sentiu uma injeção de adrenalina, ao ver o seu amigo a afundar-se, sabendo que era naquele momento ou nunca. Ele atirou-se para a frente, mergulhou, dando um grande impulso com os pés. Ele nadou debaixo de água, esforçando-se por abrir os olhos e ver através do líquido espesso; ele não conseguia. Os olhos ardiam muito.
Thor fechou os olhos e baseou-se nos seus instintos. Convocou uma parte profunda de si mesmo, uma que conseguia ver sem ver.
Com um outro impulso desesperado, Thor avançou, apalpando as águas diante de si, sentindo algo: uma manga.
Exultante, ele agarrou O'Connor com firmeza, espantado com o peso dele enquanto ele se afundava.
Thor puxou, virando-se com toda a sua força na direção da superfície. Ele estava aflito, com cada músculo do seu corpo a protestar, enquanto dava aos pés e nadava para a liberdade. As águas eram tão grossas, faziam tanta pressão, que ele sentia que os seus pulmões podiam explodir. A cada movimento das suas mãos, ele sentia como se estivesse a puxar o mundo.
Precisamente quando ele pensava que nunca iria conseguir fazê-lo, que se iria afundar de volta nas profundezas com O'Connor e morrer ali naquele lugar horrível, Thor subitamente rompeu a superfície da água. Ofegando por ar, ele virou-se, olhou ao redor e viu, com alívio, que tinham emergido no outro lado do Estreito da Loucura, em águas abertas. Ele viu que a cabeça de O'Connor apareceu ao seu lado, vendo que ele, também, estava ofegante. A sua sensação de alívio estava completa.
Thor observou a loucura a abandonar o seu amigo e a lucidez lentamente a voltar aos seus olhos.
O'Connor pestanejou várias vezes, tossindo e ofegando fora de água. A seguir, olhou para Thor, interrogativamente.
"O que é que estamos a fazer aqui?", perguntou ele, confuso. "Onde estamos?"
"Thorgrin!", ouviu-se uma voz.
Thor ouviu um respingar na água e virou-se vendo que era uma corda grossa a aterrar na água ao seu lado. Ele olhou para cima e viu Angel de pé, lá em cima, junto com os outros na amurada do navio que tinha navegado de volta ao encontro deles.
Thor agarrou-o, agarrando O'Connor com a outra mão, e, ao fazê-lo, a corda moveu-se. Era Elden que se debruçou com toda a sua grande força e os puxou a ambos pelo casco acima. A outra legião juntou-se e puxou também, um puxão de cada vez, até que Thor se sentiu a subir pelo ar e, finalmente, sobre a amurada. Ambos pousaram no convés do navio com um baque.
Thor, exausto, sem fôlego, ainda tossindo água do mar, estava esparramado no convés ao lado O'Connor; O'Connor virou-se e olhou para ele, igualmente exausto. Thor conseguia via a gratidão nos seus olhos. Conseguia via O'Connor a agradecer-lhe. Nenhuma palavra precisa ser dita - Thor compreendia. Eles tinham um código de silêncio. Eles eram irmãos de Legião. Sacrificarem-se um pelo outro era o que eles faziam. Era para isso que eles viviam.
De repente, O'Connor começou a rir-se.
Ao princípio Thor estava preocupado, perguntando-se se ele ainda estaria louco, mas então ele percebeu que O'Connor estava bem. Ele estava apenas de volta ao seu antigo eu. Ele estava a rir-se de alívio, de alegria por estar vivo.
Thor começou a rir-se, também, com a tensão a ficar para trás. Todos os outros se juntaram. Eles estavam vivos; contra todas as probabilidades, eles estavam vivos.
A outra Legião aproximou-se e agarrou em O'Connor e Thor, levantando-os. Todos eles apertaram as mãos, abraçando-se com alegria. O navio, finalmente, entrou nas águas esperando-o uma navegação tranquila.
Thor olhou ao longe e viu, com alívio, que eles estavam cada vez mais afastados do Estreito. A lucidez estava a descer sobre todos eles. Eles haviam conseguido; eles tinham haviam passado através do Estreito, embora a um alto preço. Thor achava que eles