virou-se, juntamente com os outros, seguindo a direção do seu dedo que apontava - e ficou atordoado com o que viu diante deles. Toda uma nova vista se espalhava no horizonte diante deles, uma nova paisagem naquela Terra do Sangue. Era uma paisagem densa de nuvens melancólicas e escuras que persistiam baixas no horizonte, com a água ainda espessa com sangue – e, no entanto, naquele momento, o contorno da costa estava mais perto, mais visível. Era preto, desprovido de árvores ou de vida, parecendo cinzas e lama.
Os batimentos cardíacos de Thor aceleraram quando vislumbrou, ao longe, um castelo preto, feito do que parecia ser terra, cinzas e lama, erguendo-se do chão como se fizesse parte dele. Thor conseguia sentir o mal a emanar dele.
Conduzindo ao castelo havia um canal estreito, com os seus cursos de água ladeados com tochas, bloqueado por uma ponte levadiça. Thor viu tochas acesas nas janelas do castelo e sentiu uma súbita sensação de certeza: convicto, ele sabia que Guwayne estava dentro daquele castelo, esperando por si.
"Encher as velas!", gritou Thor, sentindo-se novamente a controlar, sentindo um renovado sentido de propósito.
Os seus irmãos entraram em ação, içando as velas e apanhando por trás a forte brisa que os empurrava para a frente. Pela primeira vez desde que entrara naquela Terra do Sangue, Thor sentiu-se otimista, uma sensação de que poderia realmente encontrar o seu filho e resgatá-lo dali.
"Estou feliz por estares vivo", disse uma voz.
Thor virou-se e olhou para baixo, vendo Angel a sorrir para si, puxando-o pela camisa. Ele sorriu, ajoelhou-se ao lado dela, e abraçou-a.
"Assim como eu estou feliz por estares viva", ele respondeu.
"Eu não entendo o que aconteceu", disse ela. "Num minuto eu era eu mesma, e, no seguinte... era como se eu não me conhecesse a mim própria."
Thor abanou a cabeça lentamente, tentando esquecer.
"A loucura é o pior inimigo de todos", respondeu ele. "Nós, nós mesmos, somos o único inimigo que não conseguimos vencer."
Ela franziu a testa, preocupada.
"Será que vai acontecer de novo?", perguntou ela. "Há mais alguma coisa neste lugar como aquela?", perguntou ela, com uma voz amedrontrada enquanto observava o horizonte.
Thor observava-o também, perguntando-se exatamente a mesma coisa – quando, demasiado depressa, para seu pânico, a resposta veio rapidamente na direção deles.
Ouviu-se um tremendo respingar, como o som de uma baleia à superfície. Thor ficou surpreendido ao ver emergir à sua frente a criatura mais hedionda que alguma vez havia visto. Parecia uma lula monstruosa, com cinquenta pés de altura, vermelha brilhante, a cor do sangue, surgindo sobre o navio ao sair disparada das águas, com os seus infinitos tentáculos com trinta pés de comprimento, dezenas deles espalhados por todas as direções. Os seus redondos olhos amarelos olhavam para baixo na direção deles, cheios de fúria. A sua enorme boca, revestida com presas amarelas e afiadas, abriu-se com um som nauseante. A criatura extinguiu qualquer luz que os céus sombrios tinham permitido e emitindo um gritou sobrenatural quando começou a descer na direção deles, com os seus tentáculos a espalharem-se, pronta para consumir todo o navio.
Thor olhava apavorado para a criatura, apanhado pela sua sombra com todos os outros. Ele sabia que tinha ido de uma morte certa para a próxima.
CAPÍTULO DOIS
O comandante do Império chicoteava a sua zerta sem parar enquanto galopava através do Grande Desperdício, seguindo o trilho, como fazia há dias, pelo chão do deserto. Atrás de si os seus homens cavalgavam, ofegantes, à beira do colapso, já que ele não lhes havia dado um momento para descansar desde que tinham começado a cavalgar - nem mesmo durante a noite. Ele sabia como dirigir zertas pelo chão - e sabia como dirigir homens também.
Ele não tinha piedade de si mesmo e, certamente, não tinha nenhum dos seus homens. Ele queria que eles fossem impermeáveis à exaustão, ao calor e ao frio - especialmente quando estavam numa missão tão sagrada como aquela. Afinal, se aquele trilho realmente os levasse até onde ele esperava que os levasse – até ao lendário Cume - tal poderia mudar todo o destino do Império.
O comandante enterrou os seus calcanhares nas costas da zerta até ela guinchar, forçando-a a ir cada vez mais rápido, até praticamente tropeçar em si própria. Ele piscou os olhos na direção do sol, examinando o trilho à medida que iam avançando. Ele havia seguido muitos trilhos ao longo da sua vida e havia matado muitas pessoas no final deles – no entanto, ele nunca havia seguido um trilho tão fascinante quanto aquele. Ele conseguia sentir o quão próximo estava da maior descoberta na história do Império. O seu nome seria imortalizado, entoado por gerações.
Subiram um cume no deserto e ele começou a ouvir um fraco ruído a aumentar, como uma tempestade no deserto; ele olhou ao longe enquanto o subiam, esperando ver uma tempestade de areia vindo na sua direção. Ele ficou chocado, por detetar, em vez disso, uma parede imóvel de areia a cem jardas de distância, que se erguia a partir do solo na direção do céu, girando e agitando-se, como um tornado em atividade.
Ele parou, com os seus homens ao seu lado, e observava, curioso, uma vez que a parede parecia não se mover. Ele não conseguia entender. Era uma parede de areia em fúria, mas não se aproximava. Ele perguntava-se o que estava do outro lado. De alguma forma, ele persentia que era o Cume.
"O teu trilho termina", disse um dos seus soldados, ironicamente.
"Não podemos passar por aquela parede", disse outro.
"Não nos trouxeste a lado nenhum a não ser a mais areia", disse outro.
O comandante abanou a cabeça lentamente, franzindo a cara para eles com convicção.
"E se ali existir uma terra do outro lado da areia?", ele retorquiu.
"Do outro lado?", perguntou um soldado. "Estás louco. Não passa de uma nuvem de areia, um desperdício sem fim, como o resto deste deserto.”
"Admite o teu fracasso", disse outro soldado. "Volta para trás agora - ou caso contrário, nós vamos voltar sem ti."
O comandante virou-se e encarou os seus soldados, chocado com a sua insolência - e viu desprezo e rebelião nos seus olhos. Ele sabia que tinha de agir rapidamente se quisesse acabar com aquilo.
Num acesso súbito de raiva, o comandante baixou-se, tirou uma adaga do seu cinto e girou-a para trás num movimento rápido, alojando-a na garganta do soldado. O soldado arfou por ar e depois caiu para trás, da sua zerta abaixo, batendo no chão e acumulando uma nova piscina de sangue no chão do deserto. Em poucos instantes, apareceu do nada um enxame de insetos, cobrindo o seu corpo e comendo-o.
Os outros soldados olhavam agora com medo para o seu comandante.
"Existe mais alguém que queira desafiar o meu comando?", perguntou.
Os homens olhavam para ele nervosamente, mas desta vez não disseram nada.
"Ou o deserto mata-vos", disse ele, "ou mato-vos eu. A escolha é vossa."
O comandante avançou para a frente, baixou a cabeça e deu grande grito de guerra ao galopar direitamente para a parede da areia, sabendo que tal poderia significar a sua morte. Ele sabia que os seus homens o seguiriam. Um momento depois, ele ouviu o som das suas zertas e sorriu de satisfação. Às vezes, eles só tinham de ser mantidos na ordem.
Ele gritou ao entrar no tornado de areia. Parecia que era uma tonelada de areia em cima dele, vinda de todas as direções, escoriando-lhe a pele enquanto ele avançava cada vez mais lá para dentro. O barulho era tão grande, como se estivesse um milhar de vespas nos seus ouvidos, e, ainda assim, ele avançava, esporeando a sua zerta, forçando-a, mesmo enquanto ela protestava, entrando cada vez mais lá para dentro. Ele sentia a areia a raspar-lhe a cabeça, os olhos e o rosto, e ele sentia como se pudesse ser rasgado em pedaços.
Ainda assim, ele continuou a cavalgar.
Precisamente