Морган Райс

O Dom da Batalha


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morrer ali naquele lugar, de repente, para grande alívio do comandante, ele saiu de rompante para fora da areia e de volta para a luz do dia, sem mais areia a arranhá-lo, sem mais ruído nos seus ouvidos, nada para além de céu aberto e ar - que ele nunca tinha ficado tão feliz de ver.

      Ao redor dele, os seus homens saíram também de rompante, escoriados e a sangrar como ele, juntamente com as zertas, todas parecendo mais mortas do que vivas, mas todas vivas.

      E, quando o comandante olhou diante de si, o seu coração acelerou e ele ficou imóvel com a surpreendente visão que teve. Ele não conseguia respirar com o que via, e, lenta mas seguramente, ele sentiu-se orgulhoso com uma súbita sensação de vitória, de triunfo. Picos majestosos erguiam-se diretamente para o céu, formando um círculo. Um lugar que só poderia ser uma coisa:

      O Cume.

      Ali estava, no horizonte, apontado para o ar, magnífico, vasto, estendendo-se para fora de vista em ambos os lados. E ali, no topo, a brilhar à luz do sol, ele ficou surpreendido ao ver milhares de soldados de armadura brilhante, a patrulhar.

      Ele tinha-o encontrado. Ele, e somente ele, tinha-o encontrado.

      Os seus homens pararam de repente ao seu lado dele. Ele viu-os, também, a olhar para o Cume em contemplação e em admiração, com as suas bocas abertas, todos a pensar a mesma coisa que ele: aquele momento era história. Eles seriam todos heróis, conhecidos por gerações na história do Império.

      Com um largo sorriso, o comandante virou-se e encarou os seus homens, que agora olhavam para ele com deferência; ele, então, puxou a sua zerta e voltou-a ao contrário, preparando-se para cavalgar de volta através da parede de areia - todo o caminho, sem parar, até chegar à base do Império e relatar aos Cavaleiros dos Sete o que ele, pessoalmente, tinha descoberto. Ele sabia que em poucos dias, toda a força do Império iria descer até àquele lugar, o peso de um milhão de homens empenhados na destruição. Eles iriam passar por aquele muro de areia, escalar o Cume, e acabar com aqueles cavaleiros, conquistando os restos finais do livre território do Império.

      "Homens", disse ele, "a nossa hora chegou. Preparem-se para terem os vossos nomes gravados na eternidade."

      CAPÍTULO TRÊS

      Kendrick, Brandt, Atme, Koldo e Ludvig caminhavam pelo Grande Desperdício, na direção dos sóis nascentes da aurora do deserto, a pé, durante toda a noite, determinados a resgatar o jovem Kaden. Eles caminhavam sombriamente, caindo num ritmo silencioso, todos com as mãos sobre as armas, todos alerta, seguindo o trilho dos Caminhantes da Areia. As centenas de pegadas levavam-nos cada vez mais para as profundezas daquela paisagem de desolação.

      Kendrick começou a questionar-se se alguma vez aquilo chegaria ao fim. Ele estava admirado por se encontrar de volta àquele lugar, de volta àquele Desperdício, lugar onde ele havia jurado nunca mais voltar - especialmente a pé, sem cavalos, sem provisões e sem maneira de voltar para atrás. Eles tinham depositado a sua fé nos outros cavaleiros do Cume, que voltariam para eles com os cavalos – para o caso de eles não o fazerem, eles tinham comprado para si próprios um bilhete só de ida para uma missão sem retorno.

      Mas era isso o que significava a valentia, Kendrick sabia. Kaden, um bom jovem guerreiro com um grande coração, que tinha nobremente ficado a vigiar, aventurando-se corajosamente no deserto para dar provas do seu valor enquanto montava guarda, tinha sido sequestrado por aquelas bestas selvagens. Koldo e Ludvig não podiam virar costas ao seu irmão mais novo, por muito sombrias que fossem as hipóteses - e Kendrick, Brandt e Atme não podiam virar costas a todos eles; o seu sentido de dever e honra compelia-os a isso. Estes bons cavaleiros do Cume haviam-nos acolhido com hospitalidade e gratidão quando eles mais haviam precisado - e, agora, estava na hora de retribuir o favor - custasse o que custasse. A morte pouco significava para ele - mas a honra significava tudo.

      "Conta-me sobre Kaden", disse Kendrick, voltando-se para Koldo, querendo quebrar a monotonia do silêncio.

      Koldo olhou, sobressaltado devido ao silêncio profundo, e suspirou.

      "Ele é um dos melhores jovens guerreiros que jamais irás encontrar", disse ele. "O seu coração é sempre maior do que a sua idade. Ele queria ser um homem antes mesmo de ser um rapaz, ele queria manejar uma espada antes mesmo de conseguir segurar uma.”

      Ele abanou a cabeça.

      "Não me surpreende que por se aventurar tanto, tenha sido o primeiro numa patrulha a ser levado. Ele não recuava de nada - especialmente se isso significasse vigiar os outros."

      Ludvig entrou na conversa.

      "Se algum de nós tivesse sido levado", disse ele, "o nosso pequeno irmão seria o primeiro a voluntariar-se. Ele é o mais novo de nós e representa o que há de melhor em nós."

      Kendrick tinha assumido esse tanto do que havia observado ao falar com Kaden. Ele tinha reconhecido o seu espírito guerreiro, mesmo sendo tão jovem. Kendrick sempre tinha sabido, que a idade não tinha nada a ver com ser um guerreiro: ou se tinha um espírito guerreiro ou não se tinha. O espírito não conseguia mentir.

      Eles continuaram a marchar durante muito tempo, caindo novamente num silêncio firme à medida que os sóis subiam mais alto, até que, por fim, Brandt aclarou a sua a garganta.

      "E os Caminhantes da Areia?", Brandt perguntou a Koldo.

      Koldo virou-se para ele enquanto andavam.

      "Um grupo vicioso de nómadas", ele respondeu. "Mais bestas do que homens. Eles são conhecidos por patrulhar a periferia da Parede de Areia."

      "Necrófagos", entrou Ludvig na conversa. "Eles são conhecidos por arrastarem as suas vítimas para as profundezas do deserto."

      "Para onde?", perguntou Atme.

      Koldo e Ludvig trocaram um olhar alarmante.

      "Para onde quer que eles estejam reunidos - onde eles realizem um ritual e os façam em pedaços."

      Kendrick encolheu-se ao pensar em Kaden e no destino que o esperava.

      "Então, há pouco tempo a perder", disse Kendrick. "Temos de correr, ok?"

      Olharam todos uns para os outros, sabendo a imensidão daquele lugar e o longo caminho que teriam de percorrer a correr - especialmente ao calor, que se acentuava, e com as armaduras. Todos sabiam o quão arriscado seria não irem a andar naquela paisagem implacável.

      No entanto, eles não hesitaram e desataram, juntos, a correr. Corriam para o vazio. Em poucos instantes, o suor iria escorrer-lhes pelos rostos. Eles sabiam que se não encontrassem Kaden em breve, aquele deserto iria matá-los a todos.

      *

      Kendrick arfava por ar enquanto corria, o segundo sol agora lá no alto, com a sua luz ofuscante e o seu calor sufocante, e, ainda assim, ele e os outros continuavam a correr, todos ofegantes, com as suas armaduras a chocalhar enquanto corriam. O suor escorria pelo rosto de Kendrick e picava-lhe tanto os olhos que ele mal conseguia ver. Com os seus pulmões quase a explodir, ele nunca tinha ansiado tanto por oxigénio. Kendrick nunca tinha sentido nada parecido com o calor daqueles sóis, tão intensos, sentindo como se lhe fossem arrancar a pele queimada diretamente do seu corpo.

      Eles não conseguiriam ir muito mais longe com aquele calor, naquele ritmo, Kendrick sabia; em breve, iriam todos morrer ali, colapsar, tornando-se nada mais do que comida para insetos. De fato, enquanto corriam, Kendrick ouviu um guincho ao longe. Olhou para cima e viu os abutres a circular, o que já faziam há horas, baixando de altitude. Eles eram sempre os mais espertos: eles sabiam quando uma nova morte estava iminente.

      Kendrick perscrutava as pegadas dos Caminhantes da Areia, que se desvaneciam pelo horizonte fora. Ele não conseguia perceber como é que eles haviam corrido uma distância tão longa tão rapidamente. Ele só rezava para que Kaden ainda estivesse vivo, para que tudo aquilo não fosse em vão. No entanto, mesmo não querendo, ele não conseguia evitar duvidar se alguma vez iriam chegar até ele. Era como se estivessem a seguir pegadas na direção