do restaurante, e porque hoje é nosso aniversário...” Ela mal conseguia falar.
“Sim”, Ben disse, friamente. “É nosso aniversário e comprei um presente para você. Sinto muito se não é bom o bastante, mas você não comprou nenhum para mim”.
“Pensei que você me pediria em casamento!” Emily finalmente gritou, jogando seu guardanapo na mesa.
O burburinho das conversas no salão do restaurante desapareceu e as pessoas pararam de comer, virando-se para olhar para ele. Emily nem ligava mais.
Os olhos de Ben se arregalaram de medo. Ele parecia ainda mais assustado do que quando ela mencionou a possibilidade de começar uma família.
“Para que você quer se casar?” ele perguntou.
Emily teve um momento de clareza. Olhou para o namorado como se o visse pela primeira vez. Ben nunca mudaria. Ele nunca se comprometeria. Sua mãe, Amy, as duas estavam certas. Ela havia passado anos esperando por algo que obviamente nunca ia acontecer, e este frasco de perfume em miniatura era a gota d'água.
“Acabou”, disse Emily, sem fôlego e, subitamente, sem lágrimas. “Acabou mesmo”.
“Está bêbada?” Ben falou, sem acreditar. “Primeiro, você quer se casar – e agora quer acabar o namoro?”
“Não”, disse Emily. “É só que não estou mais cega. Isto – você, eu – nunca foi certo”. Ela ficou de pé, colocando seu guardanapo sobre a cadeira. “Vou me mudar”, ela disse. “Dormirei na casa de Amy hoje, e pego minhas coisas amanhã”.
“Emily”, Ben disse, inclinando-se para ela. “Por favor, podemos falar sobre isto?”
“Pra quê?” ela disparou de volta. “Para que possa me convencer a esperar mais sete anos antes de comprarmos nossa casa? Mais uma década antes de termos uma conta conjunta? Dezessete anos antes que você possa chegar a pensar na ideia de termos um gato?”
“Por favor”, Ben falou em voz baixa, olhando para o garçom que se aproximava com a sobremesa. “Você está fazendo uma cena”.
Emily sabia que estava, mas não ligava. Ela não mudaria de ideia.
“Não há nada mais pra falar. Acabou. Aproveite sua mousse de caramelo e flor de sal!”
E com essas palavras finais, ela saiu furiosa do restaurante.
Capítulo Dois
Emily ficou olhando para seu teclado, querendo que os dedos se movessem, tentando fazer algo, qualquer coisa. Outro e-mail apareceu em sua caixa de entrada e ela olhou para a tela sem interesse. O burburinho do escritório ao redor entrava por um ouvido e saía pelo outro. Não conseguia se concentrar. Sentia-se num torpor. A falta total de sono depois de uma noite no desconfortável sofá de Amy também não havia ajudado muito.
Ela chegou no trabalho há uma hora, mas não tinha conseguido fazer mais do que ligar seu computador e beber uma xícara de café. Sua mente estava completamente tomada pelas lembranças da noite passada. A expressão de Ben continuava a aparecer em flashes em sua mente. Ela se sentia levemente em pânico toda vez que revivia aquela noite terrível.
Seu celular começou a piscar, e ela olhou para a pequena tela, vendo o nome de Ben aparecer pela zilionésima vez. Ele estava ligando, de novo. Ela não havia respondido a uma única ligação dele. O que poderiam ter ainda para conversar? Ele havia tido sete anos para refletir se queria estar com ela ou não – uma tentativa de última hora de salvar as coisas não adiantaria de nada.
Seu telefone do escritório começou a tocar e ela deu um salto.
“Alô?”
“Oi, Emily, é Stacey, do 15º andar. Consta aqui que você deveria ter participado da reunião hoje de manhã e queria saber por que não foi”.
“MERDA!” Emily gritou, batendo o telefone. Ela havia esquecido completamente a reunião.
Levantou-se subitamente de sua mesa e correu até o elevador. Seu estado frenético parecia divertir os colegas de trabalho, que começaram a cochichar como crianças. Quando chegou ao elevador, ela apertou o botão várias vezes, batendo nele com a palma da mão.
“Vamos, vamos, vamos!”
Levou um século, mas, finalmente, o elevador chegou. Quando as portas se abriram, Emily entrou apressada, esbarrando em alguém que estava saindo. Ao se afastar, sem fôlego, percebeu que a pessoa em quem havia esbarrado era sua chefe, Izelda.
“Mil desculpas”, Emily balbuciou.
Izelda olhou-a de cima a baixo. “Pelo que, exatamente? Por esbarrar em mim, ou por perder a reunião?”
“Por ambos”, Emily disse. “Eu estava indo para lá agora mesmo. Esqueci completamente.”
Ela podia sentir cada par de olhos no escritório queimando em suas costas. A última coisa de que precisava agora era de uma dose de humilhação pública, algo que Izelda tinha grande prazer em proporcionar.
“Você tem uma agenda com calendário?” Izelda disse friamente, cruzando os braços.
“Sim”.
“E você sabe como funciona? Como marcar compromissos nela?”
Atrás de si, Emily podia ouvir as pessoas abafando o riso. Seu primeiro instinto foi murchar como um flor. Ser feita de boba na frente de uma plateia era sua ideia perfeita de um pesadelo. Mas, assim como aconteceu no restaurante na noite passada, um estranho senso de clareza tomou conta dela. Izelda não era uma figura de autoridade que ela devia respeitar e nem precisava se curvar diante de qualquer capricho seu. Era apenas uma mulher amarga descontando sua raiva em qualquer um que pudesse. E aqueles colegas cochichando atrás dela não significavam nada para Emily.
Uma súbita onda de clareza tomou conta de Emily. Ben não era a única coisa de que ela não gostava em sua vida. Ela também odiava seu emprego. Estas pessoas, este escritório, Izelda. Havia ficado presa aqui por anos, assim como com Ben. E não iria mais tolerar aquilo.
“Izelda”, Emily disse, chamando sua chefe pelo nome pela primeira vez, “terei que ser sincera. Perdi a reunião, esqueci completamente. Não é a pior coisa do mundo”.
O rosto de Izelda se iluminou.
“Como ousa!” ela disparou. “Vou fazê-la trabalhar em sua mesa até meia-noite pelo próximo mês inteiro até aprender o valor de ser responsável!”
Izelda falou essas palavras enquanto passava por Emily, batendo em seu ombro, querendo sair dali e dar o assunto claramente como resolvido, na opinião dela.
Mas Emily não pensava assim.
Num impulso, foi até a chefe e agarrou seu ombro, fazendo-a parar.
Izelda se virou e sorriu de volta, afastando a mão de Emily como se tivesse sido picada por uma cobra.
Mas Emily não recuou.
“Eu não terminei”, continuou, mantendo a voz completamente calma. “A pior coisa do mundo é este lugar. É você. É este emprego estúpido, medíocre, que destrói a alma”.
“Como?” Izelda gritou, seu rosto ficando vermelho de raiva.
“Você me ouviu”, Emily respondeu. “Na verdade, tenho certeza de que todo mundo me ouviu”.
Emily olhou sobre o ombro para seus colegas, que a olharam de volta, pegos de surpresa. Ninguém esperava que a quieta e obediente Emily revidasse daquele jeito. Então, lembrou-se de Ben, avisando que ela estava “fazendo uma cena” na noite passada. E aqui estava Emily, fazendo outra. Só que, desta vez, ela estava gostando.
“Pode pegar seu emprego, Izelda”, Emily acrescentou, “e enfiar no rabo”.
Praticamente, dava para ouvir o sobressalto dos seus