Sophie Love

Agora e Para Sempre


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observou a cena de seus colegas atônitos olhando para ela enquanto as portas se fechavam, tirando-os de vista. Ela deu um grande suspiro, sentindo-se mais livre e leve do que nunca.

      *

      Emily subiu a escada para seu apartamento, percebendo que não era realmente seu – nunca havia sido. Ela sempre sentira como se estivesse vivendo no espaço de Ben, que ela precisava se tornar o mais invisível e discreta possível. Ela procurou suas chaves, grata por Ben estar no trabalho e ela não ter que lidar com ele.

      Emily entrou e olhou para o lugar com novos olhos. Nada aqui era do seu gosto. Tudo parecia assumir um novo significado; o sofá horrível que ela e Ben compraram depois de uma discussão (que ele ganhou); a estúpida mesinha de centro da qual ela queria se desfazer porque uma das pernas era mais curta que as outras e, por isso, era bamba (mas Ben era apegado ao móvel por “razões sentimentais”, então, permaneceu); a TV imensa que havia sido cara demais e que ocupava muito espaço (mas que Ben insistiu que precisava para assistir a esportes, porque era a “única coisa” que evitava que ele enlouquecesse). Ela pegou alguns livros da estante, percebendo como seus romances haviam sido relegados às sombras das prateleiras de baixo (Ben sempre teve medo que seus amigos o achassem menos intelectual se vissem romances na estante – ele preferia textos acadêmicos e filosóficos, apesar de nunca lê-los).

      Ela olhou para os porta-retratos sobre a lareira para ver se havia algum que valesse a pena levar, e percebeu como toda foto que a incluía era com a família de Ben. Lá estavam eles no aniversário da sobrinha dele, no casamento da irmã dele... Não havia uma única foto dela com sua mãe, a única pessoa em sua família, quanto mais de Ben passando algum tempo com as duas. Subitamente, ocorreu a Emily que ela vinha sendo uma estranha em sua própria vida. Vinha percorrendo o caminho de outra pessoa há vários anos, ao invés de forjar o seu próprio.

      Ela se dirigiu rapidamente para o banheiro. Aqui estavam as únicas coisas que realmente importavam para ela – seus produtos de banho e maquiagem, todos de muito boa qualidade. Mas até isso era um problema para Ben. Ele reclamava constantemente que ela tinha produtos demais, dizendo que eram um desperdício de dinheiro.

      “É meu dinheiro e eu gasto como quiser!” Emily gritou para seu reflexo no espelho enquanto jogava todos os seus pertences numa bolsa plástica.

      Ela tinha consciência de que parecia uma louca, correndo pelo banheiro jogando frascos meio vazios de xampu em sua sacola, mas não ligava. Sua vida com Ben havia sido nada mais que uma mentira, e queria sair dela o mais rápido possível.

      Em seguida, correu para o quarto e pegou a mala sob a cama. Rapidamente, colocou todas as suas roupas e sapatos dentro dela. Depois de empacotar suas coisas, ela arrastou tudo para fora. Então, como um gesto simbólico final, entrou novamente no apartamento e colocou sua chave sobre a mesa de centro com valor “sentimental” para Ben, e então foi embora, para nunca mais voltar.

      Foi só quando ficou de pé na calçada que Emily realmente se deu conta do que havia feito. Em poucas horas, havia conseguido ficar sem emprego e sem casa. Estar solteira era uma coisa, mas jogar sua vida toda fora era outra bem diferente.

      Leves ondas de pânico começaram a correr por seu corpo. Com mãos trêmulas, ela pegou seu celular e ligou para Amy.

      “Oi, e aí?” Amy falou.

      “Fiz uma loucura”, ela respondeu.

      “Pode dizer...”

      “Deixei meu emprego”.

      Emily ouviu a amiga suspirar no outro lado da linha.

      “Ai, graças a Deus”, falou Amy. “Pensei que você ia me dizer que havia reatado com Ben”.

      “Não, não, muito pelo contrário. Eu empacotei minhas coisas e fui embora. Estou de pé na calçada, parecendo uma moradora de rua”.

      Amy começou a rir. “Eu estou visualizando você agora”.

      “Isso não tem graça!” Emily respondeu, seu pânico crescendo. “O que vou fazer agora? Estou desempregada. Não posso alugar um apartamento sem emprego!”

      “Admita que é um pouquinho engraçado”, Amy replicou, rindo. “Traga tudo pra cá”, ela acrescentou, de maneira despreocupada. “Você sabe que pode ficar comigo até decidir o que fazer”.

      Mas não era isso que Emily queria. Essencialmente, ela havia desperdiçado anos de sua vida vivendo no espaço de outra pessoa, sentindo-se como uma hóspede em sua própria casa, como se Ben estivesse lhe fazendo um favor apenas por deixá-la morar na casa dele. Ela não queria mais isso. Precisava forjar sua própria vida, sustentar-se com as próprias pernas.

      “Agradeço muito”, Emily disse, “mas preciso ficar sozinha por um tempo”.

      “Entendo”, Amy respondeu. “Então, e agora? Vai sair da cidade por alguns dias? Esfriar a cabeça?”

      Isso fez Emily refletir. Seu pai tinha uma casa no Estado do Maine. Eles costumavam ir para lá no verão quando ela era criança, mas estava vazia desde que ele desaparecera, há vinte anos. Era uma casa velha, mas cheia de personalidade, e foi gloriosa em sua época de ouro, de um jeito meio histórico; sempre pareceu mais uma pousada descuidada, com a qual ele não sabia lidar, do que uma casa.

      Na época, seu estado era apenas razoável, e Emily sabia que não estaria melhor depois de passar vinte anos abandonada; também não seria o mesmo vê-la vazia — ou agora que ela não era mais uma criança. Sem falar que o verão ainda ia demorar pra chegar. Estávamos em fevereiro!

      Ainda assim, a ideia de passar alguns dias sentada na varanda, olhando para o mar, num lugar que era dela (mais ou menos), pareceu, subitamente, muito romântica. Sair de Nova York no final de semana seria uma boa maneira de limpar sua mente e tentar pensar no que fazer com sua vida.

      “Tenho que ir”, Emily disse.

      “Espere”, Amy respondeu. “Primeiro, diga-me para onde está indo!”

      Emily respirou fundo.

      “Estou indo para Maine”.

      Capítulo Três

      Emily teve que pegar vários metrôs para chegar ao estacionamento de longa permanência em Long Island City, onde seu carro velho, surrado e abandonado estava. Fazia anos que ela não o dirigia, já que Ben sempre assumiu essa responsabilidade para exibir seu precioso Lexus, e enquanto ela caminhava pelo imenso estacionamento escuro, arrastando sua mala, ela se perguntava se ainda poderia dirigir. Era mais uma coisa que havia deixado escapar ao longo de seu relacionamento.

      Só a viagem para chegar até aqui – a este estacionamento na periferia da cidade – parecia não acabar nunca. Enquanto caminhava até o carro, seus passos ecoando no estacionamento frio como gelo, ela quase se sentiu cansada demais para continuar.

      Estava cometendo um erro? Ela se perguntou. Devia voltar?

      “Aqui está ele”.

      Emily se virou e viu o atendente do estacionamento sorrindo para seu carro surrado, como se demonstrasse simpatia por ela. Ele lhe estendeu as chaves.

      A ideia de ainda ter que dirigir por oito horas pareceu esmagadora, impossível. Ela já estava exausta, física e emocionalmente.

      “Você vai pegar as chaves?” ele perguntou, por fim.

      Emily piscou, surpresa, sem perceber que havia passado alguns instantes pensando.

      Parada ali, sabia que aquele era um momento decisivo, de certa forma. Ela iria colapsar, correndo de volta para sua antiga vida?

      Ou seria forte o bastante para seguir em frente?

      Finalmente, Emily afastou os pensamentos sombrios e se obrigou a ser forte. Pelo menos por ora.

      Ela pegou as chaves e caminhou triunfante para seu carro, tentando demonstrar coragem e confiança enquanto se afastava,