Sophie Love

Agora e Para Sempre


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– o restaurante que servia panquecas incríveis, o acampamento, que estaria cheio de grupos de escoteiros durante todo o verão, o caminho de mão-única que levava até Salisbury Cove. Quando ela alcançou o letreiro do Parque Nacional Acadia, sorriu, sabendo que estava a apenas três quilômetros de seu destino final. Parecia que ela chegaria na casa bem na hora; a neve estava começando a cair e seu carro surrado provavelmente não teria forças para enfrentar uma nevasca.

      Como que entendendo a deixa, o veículo começou a emitir um barulho estranho, como se algo estivesse rangendo sob o capô. Emily mordeu o lábio, angustiada. Ben sempre foi o prático, o mais racional no relacionamento. As habilidades mecânicas dela eram nulas. Começou a rezar para que o carro resistisse pelo último quilômetro.

      Mas o barulho ficou pior, logo foi acompanhado por um estranho zumbido, por um clique-claque irritante e, finalmente, por um resfolego. Emily bateu os punhos contra o volante e começou a falar palavrões em voz baixa. A neve começou a cair mais rápido e mais grossa e seu carro passou a reclamar mais ainda, antes dos ruídos diminuírem um pouco e o motor, finalmente, estancar.

      Ouvindo o motor sibilar, Emily ficou ali parada, em desespero, tentando pensar no que fazer. O relógio marcava meia-noite. Não havia outros carros, ninguém àquela hora da noite. O lugar estava silencioso como um cemitério e, sem seus faróis para providenciar luz, espetacularmente escuro; não havia postes nesta estrada e nuvens cobriam as estrelas e a lua. Parecia estranho e assustador, e Emily pensou que era o cenário perfeito para um filme de terror.

      Pegou o celular como se fosse um consolo, mas viu que não havia sinal. A visão daquelas cinco barras vazias na tela do aparelho a fez se sentir ainda mais preocupada, isolada e sozinha. Pela primeira vez desde que deixou sua vida em Nova York até agora, Emily começou a sentir que havia tomado uma decisão terrivelmente estúpida.

      Ela saiu do carro e tremeu enquanto o ar frio e a neve mordiscavam sua carne. Caminhou ao redor do carro e deu uma olhada no motor, sem saber nem mesmo exatamente pelo que estava procurando.

      Nesse momento, ela ouviu o ronco de um caminhão. Seu coração saltou de alívio quando olhou ao longe e conseguiu distinguir dois faróis se arrastando ao longo da estrada em sua direção. Ela começou a balançar os braços, sinalizando para que o caminhão parasse.

      Felizmente, ele encostou, parando logo atrás de seu carro, pulverizando gases do escapamento no ar frio, suas luzes duras, severas, iluminando os flocos de neve que caíam.

      A porta do motorista rangeu ao abrir, e dois pés calçados com botas pesadas esmagaram a neve logo abaixo. Emily pôde distinguir apenas a silhueta da pessoa diante dela e sentiu um súbito e terrível pânico ao pensar que podia estar pedindo ajuda ao assassino local.

      “Você se colocou numa situação bem ruim, não foi?” ela ouviu a voz rouca de um homem velho dizer.

      Emily esfregou os braços, sentindo os arrepios sob sua blusa, tentando parar de tremer – mas aliviada por ele ser um velho.

      “Sim, não sei o que aconteceu”, ela disse. “Ele começou a fazer um barulho estranho e então, simplesmente, parou”.

      O homem se aproximou, seu rosto finalmente revelado pelos faróis do caminhão. Ele era muito velho, com cabelos brancos ao redor de seu rosto enrugado. Seus olhos eram pretos, mas se mostravam brilhantes e curiosos ao olhar para Emily e, em seguida, para o carro.

      “Não sabe o que houve?” ele perguntou, rindo baixinho. “Vou lhe dizer como aconteceu. Este carro aí não passa de um monte de lixo. Estou surpreso por você ter conseguido tirá-lo da garagem, em primeiro lugar! Aparentemente, não passou por nenhuma revisão, e então você decide trazê-lo aqui para fora, para a neve?”

      Emily não estava a fim de ser zombada, especialmente porque ela sabia que o velho tinha razão.

      “Na verdade, vim dirigindo desde Nova York. Ele se aguentou muito bem por oito horas”, ela replicou, sem conseguir esconder o tom seco de sua voz.

      O velho deu um assovio baixo. “Nova York? Bem, eu nunca… O que lhe traz de tão longe?”

      Emily não estava com vontade de divulgar sua história, então, simplesmente respondeu: “Estou indo para Sunset Harbor”.

      O homem não fez mais perguntas. Emily ficou parada olhando para ele, seus dedos rapidamente se tornando dormentes enquanto esperava que ele oferecesse algum tipo de ajuda. Mas o velho parecia mais interessado em caminhar ao redor de seu carro enferrujado, chutando de leve os pneus com a ponta da bota, retirando lascas da pintura com uma unha e balançando a cabeça. Ele abriu o capô e examinou o motor por um longo, longo tempo, murmurando de vez em quando para si mesmo.

      “E então?” Emily finalmente disse, exasperada por sua lentidão. “Qual o problema do carro?”

      Ele olhou por cima do capô, quase surpreso, como se tivesse até esquecido que ela estava lá, e coçou a cabeça. “Está quebrado”.

      “Sei disso”, disse, irritada. “Mas você pode fazer algo para consertar?”

      “Ah, não”, o homem respondeu, rindo. “Nadinha mesmo”.

      Emily teve vontade de gritar. A fome e o cansaço causado pela longa viagem estavam começando a afetá-la, levando-a quase às lágrimas. Tudo o que ela queria era chegar em casa, para poder dormir.

      “O que vou fazer?” ela disse, em desespero.

      “Bem, você tem duas opções”, o velho replicou. “Caminhar até a oficina mecânica, que fica a mais ou menos 1,5 km daqui, nesta direção”. Ele apontou para o lado de onde ela tinha vindo com um de seus dedos enrugados, nodosos. “Ou posso rebocar seu carro para seja lá qual for seu destino”.

      “Faria isso?” Emily disse, impressionada pela gentileza, algo com que não estava acostumada a ver, depois de viver em Nova York por tanto tempo.

      “É claro”, o homem replicou. “Não vou deixar você aqui fora à meia-noite numa nevasca. Ouvi que vai piorar na próxima hora. Para onde você está indo?”

      Emily estava imensamente grata. “Rua Oeste. Número 15”.

      O homem inclinou a cabeça para o lado, curioso. “Rua Oeste, 15? Aquela casa velha, caindo aos pedaços?”

      “Sim”, Emily respondeu. “Pertence a minha família. Preciso passar algum tempo sozinha, sossegada”.

      O velho sacudiu a cabeça. “Não posso lhe deixar naquele lugar. A casa está caindo aos pedaços. Duvido que tenha ao menos isolamento contra infiltrações. Por que não vem para a minha casa? Moramos em cima da loja de conveniência, eu e minha mulher, Bertha. Ficaríamos felizes de tê-la como nossa hóspede”.

      “É muita gentileza sua”, Emily disse. “Mas, realmente, só quero ficar sozinha no momento. Então, se puder me rebocar até a Rua Oeste, eu agradeceria muito”.

      O velho observou-a por um momento e então, cedeu, por fim. “Certo, moça. Se você insiste”.

      Emily sentiu um certo alívio quando ele voltou para seu caminhão e dirigiu-o até a frente do seu carro. Ela observou-o tirar uma corda grossa de seu caminhão e amarrá-la ao seu carro, unindo os dois veículos.

      “Quer dirigir comigo?” ele perguntou. “Pelo menos, tenho aquecedor”.

      Emily sorriu meio sem graça, e balançou a cabeça. “Eu prefiro...”

      “Ficar sozinha”, o velho terminou a frase junto com ela. “Entendi. Entendi.”

      Emily voltou para seu carro, perguntando-se que tipo de impressão ela tinha causado no velho. Ele deve estar pensando que ela era meio louca, aparecendo despreparada e mal vestida à meia-noite enquanto uma nevasca estava quase descendo, pedindo para ser levada até uma casa abandonada, caindo aos pedaços, para poder estar completamente só.

      O caminhão à sua frente rugiu, e ela sentiu um pequeno solavanco enquanto seu carro começava a ser rebocado. Emily recostou-se