que ela se retraía, ele levantou a sobrancelha elegantemente e estendeu a mão apontando o sofá. “Gostaria de se sentar, Srta. Hogo?” Ele sabia que ela tinha perguntas para ele. Ficaria desapontado se não tivesse.
Kyoko engoliu em seco, mas altivamente levantou o queixo, abriu caminho até o sofá e manteve-se na maior distância possível entre eles, se não fosse por nada pela esperança que seu cérebro voltasse a funcionar normalmente. Interiormente deu uma risada trêmula.
“Primeiro quero que você me diga o que o faz pensar que eu sou uma sacerdotisa?” Ela olhou para ele cautelosamente e quase surtou quando ele se sentou ao lado dela no sofá, e não na cadeira do outro lado da mesa de café. Kyoko endireitou o corpo e virou-se para observá-lo, afastando-se mais dele e mostrando seu medo.
´Então ela quer brincar´, pensou distraidamente, mas rapidamente expulsou o pensamento intrigante. “O que a faz pensar que eu poderia não saber que você é uma sacerdotisa? perguntou numa voz artificialmente calma. Ao se debruçar sobre ela tornou-se evidente como ela era pequena comparada com ele.
Kyoko observou os planos de sua face perfeita procurando algum indício de emoção e ficou surpreso ao não encontrar nenhum. Ele parecia uma escultura de perfeição e calma, e isso a irritou ao extremo.
“O senhor sempre responde uma pergunta com outra pergunta, senhor...?”, ela gaguejou nem menos sabendo como chamá-lo.
Kyou sorriu, mas apenas interiormente para que ela não visse. Bem, ele poderia dizer que a vida ainda estava presente nela e isso não o desapontava. Somente fazia com que ele quisesse ver mais. “Sr. Lord, mas você pode me chamar de Kyou, salvo se preferir Lord”. Ele a encarou com um olhar caloroso.
Kyoko devolveu-lhe o olhar caloroso, “Por que...eu...estou aqui?”. Ela disse essas palavras lentamente, uma de cada vez, como se estivesse falando com uma criança. ´Pronto, vamos ver como o senhor se sai dessa, seu Sr. Lord cretino.´ Kyoko reprimiu sua contrariedade, mas não tirou o olho dele
Tendo lido a mente dela, os olhos de Kyou brilharam ao se fixarem semicerrados nos olhos cor de esmeralda de Kyoko. Ele se debruçou aproximando-se mais, consciente do efeito intimidador disso sobre ela. Ele sentiu pelo olfato.
“Seus poderes de sacerdotisa são fracos e estão fora de forma, ou você saberia por que eu sei que você é sacerdotisa”, disse ele, quase sibilando e perdendo a compostura por apenas um momento antes que sua fachada calma voltasse. “Vou lhe ensinar artes marciais e fortalecimento, nos pontos em que você estiver deficiente.”
Para Kyoko, o que ele disse por último soou quase como um insulto. E sendo bem conhecida pelo seu estopim curto, ela se pôs quase cara a cara com ele e usou o máximo de sarcasmo. “Talvez eu somente esteja escondendo meu verdadeiro poder até expô-lo num alvo que valha a pena.” A raiva estava deixando-a sem medo, ou estúpida, no momento ela não sabia bem qual dos dois.
Kyou aproximou-se dela mais ainda, mergulhando os lábios perto dos dela para que sua respiração quente acariciasse seus lábios. Ele sussurrou numa voz sombria: “Sacerdotisa”.
Capítulo 4 ─ Atenção!
Kyoko se afastou e, de repente, começou sentir vibrações vindo dele que ela não deveria sentir. Alguma coisa estava acontecendo aqui e ela percebeu que era a última a saber o quê.
“Preciso respostas”, murmurou com voz nervosa mordendo o lábio inferior e esperando ficar livre daquela sensação de formigamento criada por Kyou. Por um momento ela quis se ver livre dos arrepios de tirar o fôlego que percorriam seu sistema nervoso como um trem-bala.
Inalando o cheiro dela e sentindo seu sangue se aquecer num instante, Kyou recuou. Ele tinha visto o pequeno corpo da garota tremer, mas não em repulsa. Olhando para baixo, ele quase sorriu quando notou como ela tinha arrepios nos braços.
“Por que você está reprimindo seus poderes? Você precisa estar consciente das redondezas antes que o passado se repita”. A voz ligeiramente arrogante serviu de aviso para ela.
Kyoko engoliu em seco: “O que você quer dizer com isso?” Ela ficou tensa.
“Você sabe que existem imortais aqui na escola, não sabe?” Seus olhos brilhavam com algo que Kyoko nunca tinha visto até então, e sua voz era dura, num tom de reprovação. “Os demônios se aproximam à nossa volta enquanto falamos”.
Os olhos de Kyoko se arregalaram e depois se estreitaram. Será que ele estava brincando com ela? “O que o fez pensar que existiam guardiões e demônios aqui?” ela perguntou com zombaria indignada.
Num piscar de olhos Kyou a segurou pelos braços e puxou-a para cima, inclinando a cabeça para baixo, a centímetros do rosto dela. Ele rosnou com raiva: “Preste atenção”.
Kyoko piscou, sem acreditar no que via. Em pé defronte dela não estava aquele com quem ela falava um momento antes. Ela estava olhando para um par de olhos dourados, irritantemente brilhantes, irritados, e sob eles havia presas pequenas e brancas. Ela podia sentir garras retendo seus braços naquele momento.
Seu cabelo estava duas vezes mais comprido do que há um instante e parecia quase flutuar ao redor dele como se esperasse ser notado. Com um grito assustado, Kyoko se soltou e deu um passo para trás rapidamente. Foi o que bastou para ele avançar um passo ameaçador
“Você é um guardião?”, ela gaguejou.
“E você é a sacerdotisa que já deveria saber disso”, ele sibilou perseguindo-embora sentisse sua raiva diminuir.
Ela voltou-se para correr até a porta, mas gritou na mesma hora em que sentiu braços fortes agarrando-a por trás.
Kyou apertou-a de encontro o corpo enquanto ela lutava. Ele ergueu-a do chão e seus pés chutavam o ar enquanto ela tentava escapar. Dando-lhe tempo suficiente para perceber que era inútil tentar se libertar, ele chegou os lábios perto do ouvido dela e sussurrou: "Você vai ficar até ficar forte o suficiente para se libertar desses braços sacerdotisa”.
Ele então a ergueu no ar, jogando-a de novo no sofá recheado, onde ela aterrissou balançando. Agora, cara a cara com ele, Kyoko deu um grito furioso, logo após, fechou e abriu os olhos surpresa ao ver que ele tinha de novo a aparência do homem com quem estivera conversando.
Ela olhou para ele com raiva, esmurrou o ar, e perguntou: “Afinal, o que está acontecendo?"
Kyou estava calmo defronte dela, com a única diferença que agora seus olhos ainda estavam brilhando: ”Você vai ficar aqui”. Inclinando-se sobre ela, disse: ”Você vai me deixar treiná-la”. Ele colocou as mãos na parte de trás do sofá, prendendo-a de forma eficiente: "E desta vez, você vai ganhar sem sofrer." Seu nariz estava quase tocando o dela quando ele assobiou o final de sua declaração, que mostrava bem seu descontentamento.
Kyoko se recostou o mais distante possível no sofá, devolveu o olhar caloroso, mas ainda não se sentia ameaçada por ele. Ainda que não fosse humano, ele não tinha intenção de prejudicá-la. Ela franziu o sobrolho, percebendo o que ele tinha acabado de dizer.
“Dessa vez?” Continuou com voz macia: “O que você quer dizer com dessa vez?”
Kyou inspirou profundamente: “Você talvez tenha esquecido, mas eu não”. Seu perfume o rodeava e ele sentiu a familiar pontada de dor no peito magoado, mas ela tinha que saber a verdade: "Nós lutamos juntos no passado, sacerdotisa, e está cada vez mais perto o dia em que faremos isso de novo. "
O olhar de Kyoko ficou mais suave por um instante: “Quem é você?”.
“Sou seu guardião”. Kyoko, sei que você esqueceu porque sacrificou suas lembranças de nós para trazer de volta a este mundo o Cristal do Coração Guardião. Seu olhar buscou o dela e sua voz tornou-se um mero sussurro: ”Você precisa confiar em mim”.
Ainda que ele tivesse acabado de tentar assustá-la, tudo dentro dela lhe dizia para confiar nele. “Eu confio em você”. Tão logo murmurou essas palavras,