Barbara Cartland

O Duque Sem Coração


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      O Duque sem Coração

      Barbara Cartland

      Barbara Cartland Ebooks Ltd

      Esta Edição © 2014

      Título Original - “The Chieftain without a Heart”

      Direitos Reservados - Cartland Promotions 2014

      Capa & Design Gráfico M-Y Books

       m-ybooks.co.uk

      CAPÍTULO I

       1822

      –Graças a Deus, estamos em águas tranquilas!

      Lord Hinchley serviu-se de uma dose de conhaque, que bebeu num golo só.

      –Você até que teve sorte!– retrucou o amigo dele–, o mar sempre esteve bem pior do que tem estado nesta viagem!

      –Então, pode ficar certo de que nunca mais voltarei a esse fim de mundo! Aliás, eu acho mesmo que esse é um país do demônio, povoado só por bárbaros!

      –Um conceito muito comum e errôneo que os ingleses têm da Escócia!– disse o Duque de Strathnarn, com cinismo.

      Hinchley deixou-se cair numa cadeira do confortável salão do bar do navio mas felizmente a embarcação parara de balançar, pois já fazia sete dias que enfrentavam águas turbulentas no mar do Norte.

      –Se quer saber– disse ele, em tom confidencial–, eu acho que fez muito bem quando sacudiu dos sapatos a terra da Escócia e resolveu vir para o Sul. Só errou quando resolveu voltar, Taran, como já disse antes.

      O rosto do Duque ficou sombrio. Ele foi até a escotilha e ficou olhando a terra coberta de árvores que se avistava do navio, em seu caminho pelo estuário de Tay.

      Não tinha a menor intenção de explicar, nem mesmo para seu amigo mais íntimo, que estava revoltado com a ideia de ter que voltar à terra que ele deixara, cheio de rancor e fúria, há doze anos.

      Tinha só dezasseis anos naquela época, e a crueldade do pai, que não só ferira seu corpo mas também seu orgulho, humilhando-o, fizera-o jurar que não teria mais nada a ver com a Escócia e seu povo, até o fim da vida.

      Lembrava-se bem de como havia se enfiado a bordo do primeiro navio disponível no porto de Perth. Tinha pouco dinheiro e só pudera comprar a passagem mais barata, tendo que suportar a acomodação abafada e malcheirosa no porão.

      Entretanto, os parentes de sua falecida mãe, em Londres, haviam-no recebido de braços abertos.

      Matricularam-no em uma famosa escola particular e depois mandaram-no para a Universidade de Oxford e, mais tarde, com o título de Marquês de Narn, recebido do avô, e estando a serviço do Príncipe Regente, a vida lhe era refinada e agradável.

      Na verdade quase havia se esquecido de que a Escócia existia.

      Quando o avô morrera, deixara-lhe uma vasta propriedade e muito dinheiro, além de que gozava da amizade do regente, agora Rei George IV. Dessa forma Londres oferecia–lhe tudo o que queria e mais lhe agradava.

      Há três meses tinha chegado como uma bomba a notícia de que seu pai morrera e, com isso, ele se tornara não apenas o Duque de Strathnarn mas também o chefe do Clã McNarn.

      De certa forma, sempre tinha imaginado o pai como sendo indestrutível. Quando pensava nele, o que não era muito frequente, ele lhe parecia sem idade e aterrador, como um dos antigos gigantes descritos nas baladas que ouvira os bardos cantarem, quando criança.

      O Duque tinha ficado tanto tempo em silêncio que Lord Hinchley, ao se levantar para pegar outra dose de conhaque, disse:

      –Você parece deprimido, Taran. Com essa carranca severa, vai amedrontar os homens do seu Clã.

      –Acho bom mesmo que eles fiquem amedrontados, porque assim me obedecerão.

      Disse isso apenas por dizer, pois sabia que os McNarn sempre obedeceram a seus chefes, na verdade lembrou-se até de que seu pai uma vez falara:

      –Um chefe de Clã, é um intermediário entre seu povo e Deus.

      Em todo caso. não pôde deixar de pensar que aqueles dias de ser vidão haviam terminado, e agora que um chefe de Clã, não mais detinha o poder de vida e morte sobre seu povo, evidentemente, o sentimento que teriam por ele não seria o mesmo.

      –Bem, eu lhe digo uma coisa– comentou Lord Hinchley, bebericando seu conhaque–, se eu tiver que fazer a viagem de volta no Royal George, com Sua Majestade, vou ficar deitado em minha cabine, bebendo até ficar inconsciente, enquanto não chegarmos a Tilburv.

      –Na volta será mais calmo– falou o Duque automaticamente, como se estivesse com o pensamento distante–, e como o Rei, é bom marinheiro, ele vai querer você sóbrio, dizendo o quanto os escoceses gostaram da visita dele.

      –Esta é a questão… será que vão gostar?– perguntou Lorde Hinchley–, a culpa é de Walter Scott, que foi despertar no Monarca esse desejo urgente de visitar Edimburgo. Se os escoceses tivessem juízo, eles o fariam em pedaços, com suas espadas e punhais!

      O Duque não disse nada e Lord Hinchley continuou:

      –Meu avô serviu no Exército de Cumberland, que participou da Batalha de Culloden, e o que ele descreve sobre como os escoceses foram massacrados e as crueldades infligidas aos sobreviventes deveria fazer todo inglês pensar duas vezes, antes de se atrever a desafiar o sentimento de vingança que ainda deve ferver no peito deles!

      –Isso foi há muito tempo.

      –Pois eu aposto com você como eles não esqueceram.

      –Acho que você tem razão.

      –É claro que tenho!– disse Lord Hinchley, enfático–, todo povo bárbaro tem suas rixas entre feudos, suas vendettas, suas pragas e maldições, que passam de geração a geração.

      –Você está versado no assunto– comentou o Duque.

      –Quando Sua Majestade me disse que eu deveria vir para cá, antes, e providenciar para que ele fosse recebido devidamente, quando chegasse em Edimburgo, eu me dei ao trabalho de me informar sobre a Escócia e os escoceses.

      Lord Hinchley fez uma pausa e acrescentou:

      –Para você eu posso dizer, Taran, acho que os ingleses comportaram-se muito mal com o povo que conquistaram apenas por serem mais organizados e disporem de mosquetes.

      O Duque não respondeu nada e, depois de alguns instantes, Lord Hinchley continuou:

      –Meu avô costumava me contar, quando eu era pequeno, como os Clãs foram exterminados em Culloden, enquanto os homens marchavam, famintos e molhados, depois de terem passado a noite ao relento. Eles estavam atravessando um terreno difícil e os chefes os conduziram direto para a linha de fogo.

      O Duque ergueu-se, num gesto de raiva.

      –Pelo amor de Deus, William, pare de tentar me horripilar com essas batalhas que aconteceram muito antes de termos nascido! Nós dois fomos obrigados a vir nesta viagem, e quanto mais rápido fizermos o que temos que fazer e voltarmos para nossa terra, melhor!

      Havia tanta ira na voz do Duque que o amigo olhou para ele, intrigado, e depois disse:

      –Eu pensei que sua terra, na verdade, fosse esta.

      Ele viu o Duque crispar os dedos, como se tivessem lhe tocado na ferida, e então como gostava muito do amigo, quis abrandar o tom da conversa.

      –Tome outra dose. Não há nada como um bom conhaque francês para fazer o mundo parecer bem melhor!

      O Duque pegou a bela garrafa de cristal, que tinha o fundo bem mais largo que o gargalo, para não cair da mesa com o balanço do navio, e serviu-se.

      Quando sentiu o líquido abrasador espalhar calor por seu corpo, entendeu que, em vez de acalmá-lo e trazer –lhe algum conforto, a